Piloto com uma rápida passagem pela Stock Car, João Adibe Marques fez seu nome, de fato, em outro circuito. Em 2012, aos 40 anos, ele assumiu o comando da Cimed, farmacêutica fundada em 1977 por seus pais, João e Cláudia, e na qual trabalhava desde os 15 anos.
Com o herdeiro à frente e um modelo verticalizado, que internaliza desde a área de P&D até a distribuição, o grupo chegou longe. Entre outros resultados, a operação saltou da 36ª posição em volume de unidades vendidas, há dez anos, para o 3º lugar no pódio, segundo a consultoria IQVA.
Após alcançar marcas como essa, a Cimed quer reduzir a distância de players como as também brasileiras EMS e Hypera. E esse trajeto passará, principalmente, pela ampliação dos seus volumes e do seu portfólio.
“Em 2022, nossa expectativa é levar cerca de 500 milhões de unidades aos pontos de venda, entre lançamentos e o portfólio já existente”, diz Adibe, ao NeoFeed. “E temos um pipeline de mais de 150 novos produtos no prazo de três a cinco anos.”
Essa última ponta passa pelo mapeamento de moléculas cujas quebras de patentes acontecerão nesse prazo. A Cimed já trabalha no desenvolvimento de medicamentos genéricos baseados nesses princípios. A ideia é largar na frente quando for dado o sinal verde para a fabricação e venda desses produtos.
No grupo, a categoria de genéricos e equivalentes superou 200 milhões de unidades vendidas em 2021, alta de 32% sobre 2020. E tem uma participação de 47% no faturamento total. Nessa área, seu maior foco, as pesquisas darão mais peso aos medicamentos de uso contínuo, voltados a doenças crônicas.
“Nossos concorrentes têm praticamente o dobro de moléculas”, diz Adibe. A Cimed fechou 2021 com um portfólio ativo de 63 moléculas, das quais 8 foram lançadas no período. “Cada lançamento nosso é um foguete, pois temos a premissa de assumir a liderança daquela categoria em seis meses.”
A menção ao foguete não é mero acaso. No fim de 2021, para acelerar suas pesquisas, a empresa lançou a Cimed X, braço de P&D focado em testes na Estação Espacial Internacional e que terá um aporte de R$ 300 milhões nos próximos quatro anos.
Outro pilar serão os produtos na área de longevidade, dentro da divisão de consumo. A maior aposta são as vitaminas, categoria que mostrou sua melhor forma na pandemia, quando saltou de uma fatia de 12% da receita da companhia para 21%.
Em 2021, a receita líquida da Cimed cresceu 20,3%, para R$ 1,5 bilhão
O desafio é manter esse ritmo. “Crescer na bolha é fácil”, afirma Adibe. “Para combater a tendência de desaceleração, vamos investir em educação nos pontos de venda pra mostrar que vitamina é um hábito de vida e não um remédio curativo.”
No ano passado, o fôlego mostrado pela categoria ajudou a Cimed a reportar uma receita líquida de R$ 1,5 bilhão, alta de 20,3% sobre 2020 e acima do salto de 10,8% registrado pelo setor que movimentou R$ 152,1 bilhões, segundo a IQVA.
Dois invernos
Se as vitaminas se destacaram em 2021, outra linha turbinou os números da Cimed no primeiro trimestre de 2022. No período, o avanço da variante ômicron e o surto de influenza H3N2 trouxeram uma demanda inesperada para a linha respiratória do grupo.
“Fizemos, provavelmente, mais de 150% do que havíamos projetado para o trimestre”, diz Adibe. Ele prevê um crescimento entre 20% e 25% para o grupo em 2022. “Tivemos uma antecipação da demanda e, na prática, devemos ter duas ondas de inverno. É o que vai coroar nosso primeiro semestre.”
Para acompanhar esse aquecimento e ajustar os estoques para o “segundo inverno”, a empresa adiou a transferência da produção de medicamentos para sua nova fábrica, instalada, assim como a primeira, em Pouso Alegre (MG).
“Vamos atrasar esse processo até normalizarmos os estoques, pois se desligarmos uma linha, até retomar, perdemos 40 dias de produção”, observa. “Hoje, estamos com 50% da nossa meta de estoque.”
Com um aporte de R$ 300 milhões, a nova unidade entraria em operação no primeiro trimestre. E agora, diante desse contexto, deve concluir esse processo apenas no segundo semestre.
“Temos muitos lançamentos vindo e, atualmente, nossa demanda é maior do que a nossa capacidade produtiva”, observa Adibe. “Com as duas fábricas, vamos sair de uma capacidade mensal de 40 milhões de unidades para 100 milhões de unidades.”
Enquanto um fator inesperado mudou o calendário da empresa no primeiro semestre, um evento com data marcada vai concentrar muitos dos recursos na segunda metade do ano: a Copa do Mundo. Patrocinador da seleção brasileira, o grupo dará o pontapé em uma grande campanha institucional.
No ano, levando-se em conta as áreas de marketing e P&D, o investimento projetado gira em torno de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões, acima dos R$ 203 milhões aportados em 2021.
Em outro campo, a empresa não descarta investir em aquisições, assim como tem feito rivais como a Hypera, que comprou, por exemplo, ativos da Takeda e da Sanofi. Para isso, a Cimed se transformou em uma S/A, em março de 2021, o que abriu as portas para novas fontes de recursos.
“Deixamos a empresa pronta e, dependendo da oportunidade, vamos captar no mercado”, diz. Ele também não descarta um IPO nesse contexto. “Nosso setor independe de janela, ele navega de uma maneira diferente do que outros segmentos e vemos isso como uma alternativa.”
Como parte desse diálogo com o mercado, a Cimed fez uma emissão de debêntures de R$ 450 milhões em 2021 e está publicando regularmente seus resultados trimestrais, com o objetivo de contar sua história aos investidores.
Parte dessa trajetória já é conhecida por outro público. Adibe é uma espécie de influencer digital do grupo e tem 1,2 milhão de seguidores no Instagram, onde suas publicações mesclam o dia a dia da empresa e sua vida pessoal.
“Eu costumo brincar que a internet, hoje, é o maior cartão de visitas, desde que você saiba usá-la”, afirma. “Eu sempre fui um vendedor e era muito conhecido no setor. O que a internet trouxe foi uma escala diferente para mostrar um pouco do que a gente faz.”
No sábado, 2 de abril, essa história irá ganhar novos capítulos. O ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, será palco do primeiro evento da Cimed voltado a funcionários e também ao público em geral. Adibe e seus pares, entre eles, sua irmã Karla, vice-presidente da empresa, irão compartilhar um pouco do modelo de gestão e dos bastidores do grupo.
A programação incluirá o lançamento do livro “Meu Sangue Amarelo”, escrito por Adibe. Além de marcar seus 50 anos, completados em fevereiro, a publicação mergulha em passagens da vida do empresário, da trajetória do grupo e da indústria farmacêutica no País, entre outros temas.
“Eu vivo o presente. Falo muito pouco do passado e penso pouco no futuro”, conta Marques. “Mas fui provocado pela minha irmã e quando vi que tinha 35 anos de estrada, entendi que precisava começar a botar essa história no papel.”