Ao longo dos últimos anos, o iFood não só se consolidou como a principal plataforma de delivery do Brasil, com uma fatia estimada de 80% deste mercado, como também entrou em diversos setores, como crédito e benefícios. Só nesta última área, conquistou 6 mil empresas e 650 mil colaboradores, segundo revelou Fabricio Bloisi, o CEO do iFood, em entrevista ao NeoFeed.
Agora, uma das maiores empresas da área de benefícios do Brasil está querendo ganhar uma fatia de um setor em que o iFood reina absoluto. A Alelo, controlada pelo Bradesco e Banco de Brasil, está discretamente avançando na área de delivery através da Pede Pronto, sua unidade independente que se define como um aplicativo que vai além das entregas.
A partir deste mês de outubro, a Pede Pronto está começando um plano de expansão para chegar a 100 cidades e ter presença em todas as capitais brasileiras até o fim deste ano – hoje está apenas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, está anunciando uma parceria com a Habib’s, Ragazzo e Tendall para uso de sua carteira digital, entrando em restaurantes que têm acordos de exclusividade com o iFood em delivery.
“Acredito que nos próximos três ou quatro anos temos espaço para atingir de 10% a 15% de participação de mercado”, diz Márcio Alencar, diretor de estratégia digital, marketing e negócios da Alelo, ao NeoFeed. “Sabemos que é uma missão difícil, mas vamos aproveitar as sinergias do grupo.”
Não será, de fato, uma tarefa simples. A Pede Pronto está presente apenas 45 cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e conta, atualmente, com 300 mil usuários, 4 mil estabelecimentos cadastrados e fez, até agora neste ano, 500 mil pedidos.
A meta, com essa expansão, é ultrapassar o número de 1 milhão de usuários, atingir 10 mil estabelecimentos e superar 1 milhão de pedidos até o fim de 2022. Para efeito de comparação, o iFood está presente em 1,7 mil cidades, tem 40 milhões de clientes e faz 70 milhões de pedidos por mês, um número infinitamente maior do que a Pede Pronto.
“Esse é um mercado de R$ 200 bilhões e, antes da pandemia, o delivery representava 15% e aumentou bastante. Mas a experiência dentro do restaurante está voltando a ser valorizada pelos consumidores”, diz João Bibar, gerente-geral do Pede Pronto, referindo-se ao mercado endereçável do aplicativo, que não se limita apenas ao delivery.
A estratégia da Pede Pronto é usar a força da Alelo, que tem 10 milhões de clientes e atende mais de 150 mil empresas na área de benefícios, para conseguir escalar sua operação. Um exemplo dessa sinergia é o fato de o aplicativo estar embarcado dentro do Meu Alelo, um app que concentra os cartões de benefícios da empresa.
O plano é também contar com a estrutura comercial da Alelo em todas as praças em que for entrar para buscar parcerias com âncoras regionais. Outro ponto é ampliar as parcerias com restaurantes com capilaridade nacional. Neste ano, a Pede Pronto já fez acordo com Madero, Jerônimo, Giraffas e Vivenda do Camarão.
A parceira com Habib´s, Ragazzo e Tendall será também fundamental para ajudar o Pede Pronto a atingir 1 milhão de clientes neste ano. Com quase 600 lojas, o acordo prevê descontos em diversos itens do cardápio para quem baixar o aplicativo e usar a carteira digital do serviço de delivery da Alelo. Anualmente, as três marcas realizam aproximadamente 70 milhões de transações em todas as suas modalidades (delivery, take away, salão e drive through).
“Teremos um calendário de descontos de quatro meses e o acordo envolve pagamentos apenas para clientes que compram no salão, no drive through ou take away”, afirma Rafael Polachini, diretor de marketing do Habib's. “Vai gerar aquisição de usuários para nós e para a Pede Pronto.”
Além do delivery
A parceria com o Habib's é o mais recente lance da estratégia da Alelo na área de delivery, que começou, em 2020, com a compra da Onyo, uma empresa que atuava com gestão de pedidos take away. Na época, a ideia era usar o aplicativo em praças de alimentação de shopping centers em conjunto com os cartões de alimentação da própria Alelo.
Mas a pandemia fez os planos mudarem. Ao longo dos últimos dois anos, a companhia mudou de nome e passou a atuar de forma independente, assim como a Veloe, a operação de tags de pedágio e estacionamento da Alelo que concorre com Sem Parar e ConectCar.
Bibar comanda uma equipe com mais de 100 funcionários que, nos últimos dois anos, desenvolveu a plataforma tecnológica para operar além do delivery. Com isso, o Pede Pronto atua em todas as pontas do setor de alimentação: das mesas do salão até o drive through e o take away. A empresa tem também uma parceria com o Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, que permite agendamento de pedidos antes de shows.
Ao contrário do iFood, a Pede Pronto não conta com motociclistas parceiros para fazer a entrega. A empresa tem parceria com empresas, com abrangência nacional, que se encarregam dos pedidos. O modelo de receita, no entanto, é semelhante: uma comissão sobre o valor do pedido. O valor da taxa não é revelado.
“A Alelo tem escala e musculatura. Ela não entra como uma startup, mas a partir de uma base sólida de clientes”, diz Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail, referindo-se ao fato de ser controlada por Bradesco e Banco do Brasil. “Agora, precisa escalar a base de clientes, criar recorrência e captar dados para poder monetizar de múltiplas formas.”
De acordo com Serrentino, há uma pressão para regular o setor de delivery e acabar com os contratos de exclusividade, um dos grandes ativos do iFood. “O mercado é grande, crescente e está em evolução, o que abre espaço para novos entrantes”, diz Serrentino.
A Pede Pronto quer "barrar" o iFood em um momento em que muitos players estão fragilizados. O Uber Eats, ligado ao Uber, desistiu do mercado brasileiro no começo deste ano, alegando que não conseguia competir com o líder do mercado no País por conta dos contratos de exclusividade.
A Delivery Center, que tinha como sócios BRMalls, Multiplan, Cyrela Commercial Properties (CCP), Bloomin Brands e Grupo Trigo, além do family office de José Galló, presidente do Conselho de Administração da Renner, também fechou as portas no ano passado.
Um grupo de dezenas de aplicativos de food delivery liderados pelo Rappi entrou com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), alegando que o iFood não cumpre uma decisão do órgão que que o impede de firmar novos contratos de exclusividade. Mais: querem também que essa prática seja proibida no mercado brasileiro.
A Alelo não faz parte desse grupo que foi ao Cade, mas se diz contra os contratos de exclusividade. “Esperamos que a exclusividade deixe de existir, que vai ser bom para todo mundo”, diz Alencar. O Pede Pronto também aderiu ao Open Delivery, padrão aberto de programação que promete facilitar a gestão de cardápios, pedidos e entregas.
Ao se lançar ao mar aberto dos apps de delivery, o Pede Pronto acrescentar mais ingrediente nesta batalha, cuja chapa está bastante quente.