Como atriz e apresentadora conhecida por participar das pegadinhas do programa do apresentador João Kléber na TV, Monique Bertolini já tinha uma base com mais de 100 mil seguidores no Instagram.
Mas a rede social e seus termos de uso não permitiam que Monique postasse conteúdos mais picantes e ganhasse dinheiro com isso. Foi então que ela enxergou na OnlyFans uma oportunidade de monetizar o conteúdo que postava.
A plataforma funciona em um modelo de assinaturas em que cada produtor de conteúdo define um valor mensal para que seus seguidores possam ver fotos, vídeos e mensagens exclusivas.
Monique decidiu levar o projeto a sério. Buscou inspiração em influenciadoras americanas, bolou uma estratégia de publicação e contratou fotógrafo e cinegrafista para produzir um material mais profissional.
A estratégia deu resultados. Hoje, a conta que abriu em setembro do ano passado já chegou a render até R$ 50 mil por mês a Monique, que cobra US$ 12 pela assinatura mensal. "Os ganhos têm sido proporcionais aos meus esforços e investimentos na rede", afirma ela.
A atriz não é a única que decidiu explorar o potencial da OnlyFans. A plataforma, criada na Inglaterra, existe desde 2016, mas seu uso cresceu exponencialmente durante a quarentena e as receitas acompanharam o mesmo ritmo.
No ano passado, o faturamento cresceu 553%, superando £ 281 milhões (US$ 390 milhões), e o lucro saltou de £ 6 milhões para £ 52 milhões (US$ 70 milhões).
A OnlyFans, de certa forma, possibilitou que qualquer simples mortal se tornasse dono de seu próprio “Netflix”, conseguindo uma receita recorrente.
Não à toa a revista americana Time elegeu a plataforma uma das 100 companhias mais influentes do mundo em seu ranking publicado em 2021. "A OnlyFans está monetizando a conexão humana, em várias formas, e em larga escala”, diz a publicação.
Desde o seu nascimento, a plataforma foi usada por quem compartilhava conteúdos eróticos. As fotos sensuais ainda representam grande parte do material publicado por lá.
Mas a popularidade do app e a falta de oportunidades no mercado de trabalho trouxeram outros tipos de criadores de conteúdo. Professores de educação física, cantores, dançarinos e até celebridades estão na plataforma cobrando mensalidade de seus seguidores.
Basta ver os números de usuários para entender esse fenômeno. Em 2019, eram 20 milhões. No ano passado, a OnlyFans contabilizou 120 milhões de assinantes cadastrados e 1 milhão de criadores.
Até hoje, desde que foi ao ar, a empresa já movimentou mais de US$ 3 bilhões e o modelo de negócios é relativamente simples. A companhia fica com 20% da receita dos criadores de conteúdo.
O negócio se tornou tão promissor e fácil de ser monetizado que até mesmo estrelas já bem posicionadas na indústria do entretenimento entraram na plataforma. A cantora americana Cardi B, a atriz Bella Thorne (a primeira a ganhar US$ 1 milhão em apenas 24 horas) e os rappers Tyga e Chris Brown estão inscritos.
No Brasil, até Anitta se rendeu e hoje cobra US$ 5 para que seus seguidores vejam fotos sensuais e trechos de músicas que ela vai lançar. O serviço ganhou até menção na música "Savage", de Beyoncé e Megan Thee Stallion.
Esses famosos têm a vantagem de contar com uma base de seguidores importantes em outras redes sociais, como o Instagram. E usaram suas contas para promover a OnlyFans, postando "teasers" e convocando os fãs a gastarem seu dinheiro nas assinaturas de conteúdo.
A estratégia foi tão explorada que despertou a atenção dos responsáveis pela moderação de conteúdo na rede de Mark Zuckerberg e hoje a prática é barrada. O jeito foi recorrer a ferramentas como o Linktree, que agregam links externos.
Essa não é a única controvérsia que ronda a rede social. A principal delas é a moderação de conteúdo, já ela que não oferece ferramentas eficazes para evitar que menores de idade usem o serviço.
Há ainda uma questão sobre a segurança das informações compartilhadas. Hoje, a plataforma tem um sistema de identificação de palavras-chave, principalmente ligadas a drogas e armas, e vem derrubando cerca de 30 contas por mês por mau uso.
O homem por trás da plataforma é Tim Stokely. O britânico estudou gestão imobiliária na Anglia Ruskin University, em Cambridge, mas desde que concluiu o curso resolveu tornar-se empreendedor.
Antes da OnlyFans, criou um site de pornografia softcore, o GlamGirls, um serviço de fetiche online, um app para contratação de serviços gerais e até uma "versão beta" da OnlyFans, o Customs4U, que permitia aos usuários encomendar, por um preço, vídeos e fotos exclusivos para as modelos cadastradas.
"Você podia ver a explosão do marketing movido pelos influenciadores, pelas campanhas publicitárias e posts pagos", disse Stokely à revista Fast Company. "Essa foi a faísca para criarmos uma plataforma que funcionasse de maneira similar às redes existentes, mas com a diferença crucial: um botão de pagamento."
O sucesso mostra que a visão do fundador da OnlyFans foi certeira, mas demorou para dar resultados mais concretos. Stokely fundou a empresa em 2016 junto com seu pai, Guy Stokely, um ex-investidor do banco Barclay, e com o irmão, Thomas.
No ano passado, o faturamento da OnlyFans cresceu 553%, superando £ 281 milhões e o lucro saltou de £ 6 milhões para £ 52 milhões
Dois anos depois, em 2018, o empreendedor Leonid Radvinsky, responsável pelo site de entretenimento adulto MyFreeCams, comprou uma fatia de 75% da Fenix International, grupo dos Stokely que é dono da OnlyFans. O valor da negociação não foi divulgado.
Agora, com os resultados de 2020, a empresa poderia alcançar um valor de mercado multibilionário se decidisse abrir o capital na bolsa britânica. Mas os Stokely não falam sobre os planos futuros. Dizem apenas que o foco é ampliar a base de usuários na América Latina e no restante da Europa. A expectativa é lucrar £ 300 milhões no próximo ano fiscal.