Poucas pessoas têm uma história de superação como a de Celso Athayde. Dos 6 anos aos 12 anos de idade, ele morou na rua com sua mãe em Madureira, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Depois passou dois anos em um abrigo público até ir para a Favela do Sapo, na zona oeste da capital fluminense.
Nessa época, ele se virava como podia, vendendo cachorro-quente, refresco e bala no trem. Voltou à Madureira para trabalhar como camelô e vender de tudo. Se envolveu com música e passou a distribuir CDs. Em 1999, ele fundou a Central Única das Favelas (Cufa), hoje presente em 5 mil favelas e em 20 países.
Dezesseis anos depois de criar a Cufa, Athayde foi atrás de outro desafio. Ele criou a Favela Holding, que hoje reúne mais de 20 empresas que vão desde agências de turismo, passando por um instituto de pesquisa, empresa de logística e shopping center. E, desde então, está empenhado em encontrar o primeiro unicórnio das favelas, como são chamadas as empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
“A Alô Social é uma empresa que deve se tornar um unicórnio em pouco tempo”, diz Athayde, em entrevista ao Café com Investidor, do NeoFeed, referindo-se a uma das empresas da Favela Holding. “Ela é uma empresa de telefonia e já temos hoje, pelo menos, 500 mil clientes em um ano de operação.”
A Alô Social é uma operadora virtual, que funciona com a infraestrutura de uma grande empresa de telefonia. No caso, a da TIM. De acordo com Athayde, a expectativa é que a empresa tenha 1,5 milhão de clientes até o fim de 2022.
A Favela Holding nasceu quando Athayde vendeu uma participação que detinha na Avante, uma empresa de microcrédito. Com o dinheiro, ele começou a investir em diversos negócios, muitas vezes se associando a empresas “do asfalto” e aos empreendedores das favelas.
Um exemplo é a Favela Vai Voando, agência de viagem em parceria com a FlyTour. Outra é a Favela log, empresa de logística que realiza entregas de produtos de grandes marcas em favelas de todo o Brasil. Natura, Raspadinha, Procter & Gamble, entre outras, são clientes da empresa.
“Eu falo mais ‘favelês’ do que português. Entendo menos de negócios do que precisaria, mas entendo de favelas e vou plugando os negócios nesse ecossistema”, diz Athayde. “Quem necessariamente precisa entender de venda de passagens e de distribuição são os meus sócios.”
Dinheiro para esses negócios, diz ele, é um grande problema. Mas a grande lacuna, na visão de Athayde, é falta de formação. “Muitos desses empreendedores estariam muito mais desenvolvidos se tivessem escolas de negócios dentro de favelas”, diz o CEO da Favela Holding.
E complementa: “O que falta, na verdade, é que esse dialeto do mundo empresarial e dos mundos dos investidores estar democratizado, para que esses empreendedores estejam cientes dessa linguagem.”
Nesta entrevista, que você assiste no vídeo abaixo, Athayde fala sobre sua origem, os desafios que enfrentou para construir a Cufa e a Favela Holding, dá mais detalhes sobre as empresas nas quais investe, explica o seu modelo de negócio e diz ainda o que pensa sobre meritocracia. Confira mais um episódio do Café com Investidor: