O executivo espanhol Fernando Pérez-Serrabona, CEO da seguradora Mapfre no Brasil desde janeiro deste ano, não é do tipo que faz média para defender uma tese. E, ao ser indagado sobre a transformação digital da companhia, faz questão de ir direto ao ponto.
“Estamos inovando, estamos de olho nas novas tecnologias, mas tenho que ser sincero e dizer que 90% de nossos clientes e negócios são tradicionais”, afirma Pérez-Serrabona ao NeoFeed.
São negócios como seguro de autos, vida, riscos, entre outras dezenas de produtos que completam o portfólio da companhia, uma gigante que faturou 2 bilhões de euros no Brasil apenas no primeiro semestre.
Mas isso não quer dizer que Pérez-Serrabona pretende ficar parado assistindo ao avanço das insurtechs. “As coisas têm de mudar nos seguros tradicionais”, diz ele.
E uma das transformações que devem ser feitas acontecerá depois de agosto. A Mapfre está trabalhando com uma empresa brasileira de tecnologia para automatizar a subscrição dos seguros de vida.
O nome da parceira ainda é mantido sob sigilo. Mas Pérez-Serrabona explica como funcionará. O cliente entrará na plataforma, preencherá seus dados e, por meio de robôs e inteligência artificial, a análise de risco é feita na hora. “Não haverá interação humana nesse processo”, diz ele.
O CEO da companhia diz que esse é um primeiro passo, mas já existem nos Estados Unidos empresas que fazem seguro de vida usando apenas uma foto. “Você faz uma selfie e, por meio de uma análise facial, já sabem que tipos de doenças e riscos estão envolvidos.”
Outra revolução que deve acontecer com mais força por aqui é o uso de drones para avaliar os riscos no campo. A Mapfre domina 62,5% do mercado de seguros em agronegócio no Brasil e quer trazer as máquinas para chegar em locais onde, por exemplo, peritos não conseguem chegar.
Além de ajudar na avaliação dos riscos, os drones podem ser usados também para identificar estragos ocasionados por tempestades, alagamentos entre outros fatores causados por intempéries. “No agro, a revolução tecnológica é imensa. Temos inspeções via satélite, climatológicas e aqui teremos plantações monitoradas por drones”, diz Pérez-Serrabona.
Um lab para chamar de seu
A transformação digital ganhou mais tração na companhia desde o fim do ano passado, quando foi criado o Mapfre Open Innovation. Trata-se de um programa para acelerar e incubar startups que trabalham no setor em todo o mundo e que consumirá 100 milhões de euros por ano.
A empresa também criou um espaço de inovação em Madri batizado de INsur_Space, onde quase 20 startups são incubadas e aceleradas. Fora isso, está aportando mais 25 milhões de euros em um fundo de venture capital para comprar participações em insurtechs.
Ela está de olho em empresas como a Vivamétrica, que faz análise de saúde de precisão usando os dados de sensores de wearables como smartwatches.
A companhia está aportando mais 25 milhões de euros em um fundo de venture capital para comprar participações em insurtechs
Outra startup que chama a atenção é a Neener Analytics, que desenvolveu um algoritmo capaz de analisar o perfil de risco dos clientes. Com a ajuda das redes sociais e de bancos de dados, por exemplo, é possível saber se um cliente é um bom pagador.
O consultor Acácio Queiroz, ex-presidente da seguradora Chubb no Brasil, acredita que ainda há “muito chope e pouca dança” quando se fala das insurtechs. “O tradicional ainda dá de dez a zero nessas empresas”, diz ele.
Logo em seguida, entretanto, relativiza. “Da geração Y para frente, ninguém quer saber de banco e de agência física”, diz. “O que as grandes seguradoras e os grandes bancos estão fazendo é comprar quem surge.”
Aposta na previdência
Presente no Brasil desde 1992, a Mapfre encurtou o caminho do crescimento no País apostando em uma grande parceria com o Banco do Brasil, representado pela BB Seguridade. Hoje conta com 4 mil funcionários, 19 mil corretores e seus produtos são encontrados em 38 mil pontos de venda.
No fim do ano passado, entretanto, parte da operação com o Banco do Brasil foi encerrada. Os espanhóis pagaram R$ 2,27 bilhões para assumir 100% dos negócios gerados pela rede de corretores e affinities e a totalidade dos negócios de automóvel e grandes riscos.
As companhias seguem juntas nos canais de distribuição do banco e nas áreas de vida, prestamista, habitacional, rural e massificados até 2031 – áreas estratégicas e que necessitam de um parceiro com a capilaridade do BB.
Agora, Pérez-Serrabona acredita que a Mapfre, dona de um lucro de R$ 206,9 milhões no primeiro semestre deste ano, 63% a mais do que no mesmo período do ano passado, vai pegar carona nas reformas econômicas que serão feitas no Brasil.
A Mapfre lucrou R$ 206,9 milhões no Brasil no primeiro semestre deste ano, 63% a mais do que no mesmo período do ano passado
“Como economista, penso que a economia dos ciclos é verdadeira. Depois dos anos ruins, vêm os bons. E agora as coisas vão melhorar. Há mais confiança no Brasil por parte dos estrangeiros e também por parte dos empresários brasileiros”, diz o executivo.
Atualmente, a Mapfre tem apenas 0,2% do mercado de previdência privada no Brasil e pretende criar produtos para ganhar um naco deste setor que movimenta R$ 800 bilhões. “Temos que aproveitar a Reforma da Previdência”, diz Pérez-Serrabona.
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