Um prejuízo de R$ 338,5 milhões, aliado a uma queda de 12,7% na receita líquida, para R$ 6,9 bilhões. Esses e outros indicadores preocupantes combinados ainda com um péssimo desempenho da recém-adquirida Avon e diante do cenário ainda imprevisível de extensão da Covid-19.
O resultado da Natura no segundo trimestre tinha um leque de argumentos para desagradar os investidores. Mas o desempenho do papel da empresa no pregão desta sexta-feira vai exatamente na direção contrária. As ações da companhia operavam em alta de 8,65% às 13h. No fim da manhã, a valorização chegou a superar a casa de 10%
Em mais um contraponto ao cenário aparentemente negativo, diretamente ligado ao rali das ações, a companhia anunciou um investimento de R$ 400 milhões para este semestre. O aporte será destinado à área de tecnologia da informação e aos projetos de transformação digital.
“O resultado no trimestre mostrou a resiliência do nosso modelo multicanal com pegada global”, afirmou Roberto Marques, presidente da holding Natura&Co, durante teleconferência com analistas. “E vamos investir mais nessas áreas nos próximos anos.”
Encontrar um modelo para se adequar às demandas digitais sem ferir a relação que mantinha com seu batalhão de consultoras e representantes foi, durante muito tempo, um desafio para o grupo. Mas foi justamente a integração entre essas duas frentes que trouxe bons números e recordes para a Natura.
Entre abril e junho, a empresa reportou um crescimento de 225% nas vendas online, realizadas por meio de catálogos digitais e outras ferramentas que vêm sendo ofertadas às representantes das marcas da holding, dona ainda da Aesop e da The Body Shop. Essas duas bandeiras registraram o maior avanço no multicanal, com saltos de 430% e de 230%, respectivamente.
Já na Natura e na Avon, a expansão foi de 150%. Nas duas marcas, as vendas via catálogo digital cresceram mais que 600% na comparação com um ano antes. Especificamente na Natura, no trimestre, o uso das ferramentas online alcançou uma penetração de 90% na base total de consultoras.
“Hoje, temos mais de 1 milhão de lojas online de consultoras”, disse João Paulo Ferreira, CEO da Natura para a América Latina. “E elas compartilham conteúdo, o que é benéfico porque permite que os clientes também comprem nas redes sociais.”
Entre os passos mais recentes do grupo nesse espaço está o investimento, de valor não revelado, na startup brasileira Singu, dona de uma plataforma digital de serviços de beleza em domicílio. Com o movimento, anunciado na semana passada, a ideia é dar mais uma opção de renda às representantes das marcas da holding.
A Natura encerrou o trimestre com R$ 7,4 bilhões em caixa
Outro ponto destacado na teleconferência foi o reforço de R$ 2 bilhões na estrutura de capital da Natura, a partir de um aumento de capital realizado no período. A companhia encerrou o trimestre com R$ 7,4 bilhões em caixa.
O peso da Avon
Na contramão dos números gerados por sua estratégia multicanal, a Natura contabilizou os impactos dos resultados da Avon, cuja aquisição foi concluída em janeiro. Apesar de capturar uma sinergia de US$ 25 milhões no trimestre com a integração do ativo, não faltaram problemas nessa operação.
A marca reportou um recuo em suas vendas totais de 35,2%, em reais. Além da pandemia, o resultado também foi afetado por um ataque cibernético aos sistemas da marca, em meados de junho, que ainda está sob investigação.
O incidente trouxe um impacto de R$ 450 milhões nas vendas, sendo R$ 390 milhões na operação brasileira. Segundo a Natura, o montante, que não foi registrado no período, já foi capturado no terceiro trimestre.
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