O Pantanal brasileiro está em chamas. Na Califórnia, nos Estados Unidos, o fogo devasta a região e bate recorde neste ano. Mas se as árvores desses dois locais pudessem ser preservadas, elas poderiam gerar bilhões de dólares. Isso mesmo: bilhões de dólares.
A startup Pachama, fundada pelo argentino Diego Saez-Gil, em 2018, desenvolveu uma tecnologia que promete colocar um preço nessas árvores. O sistema usa inteligência artificial e uma combinação de imagens de satélites, drones e a tecnologia Lidar (sistema ótico de detecção remota usado por carros autônomos) para calcular o tamanho e o volume das árvores e, em seguida, estimar a quantidade de carbono que armazenam.
Até agora, Pachama conseguiu captar US$ 9,5 milhões para desenvolver sua solução, que é também um marketplace que une vendedores e compradores de créditos de carbono. O mais recente aporte, de setembro deste ano, veio de investidores como o fundo Breakthrough Energy Ventures, liderado por Bill Gates, da Amazon, de Jeff Bezos, e da tenista americana Serena Williams, a maior vencedora de Grand Slams da história com 23 títulos.
“O mercado não está crescendo rápido o suficiente, não por falta de financiamento ou vontade política, mas por falta de boas ferramentas”, afirmou Saez-Gil, em uma entrevista ao site da revista americana Fast Company.
O mercado de crédito de carbonos, de fato, ainda não decolou. Em 2019, ele movimentou US$ 600 milhões, segundo pesquisa do banco de investimento alemão Berenberg. Mas pode chegar a US$ 200 bilhões em 2050, na estimativa da instituição financeira.
Os créditos de carbono são certificados emitidos para uma pessoa ou empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa. Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono corresponde a um crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional.
O difícil, nesse processo, é fazer a certificação, que assegura que a floresta absorveu o dióxido de carbono. A fim de estimar o valor de armazenamento de carbono de uma determinada parte de uma floresta, equipes de uma empresa têm de caminhar na floresta e envolver uma fita métrica em torno de cada árvore para calcular a largura, usar um laser para medir a altura e contar manualmente quantas árvores existem em cada parcela.
É aqui que entra a tecnologia da Pachama, capaz de verificar remotamente a área e fazer os cálculos sem interferência humana, usando algoritmos de inteligência artificial. A startup atua também em projetos de reflorestamentos. E, conforme a tecnologia avança, com muitas empresas lançando nanossatélites que podem fornecer imagens diárias, a resolução das imagens fica ainda mais nítida.
“Imagine um momento em que você tenha uma definição de um metro de cada floresta do planeta diariamente”, diz Saez-Gil. “Você pode realmente ser muito, muito preciso. Você pode identificar alguém que está cortando uma árvore. Isso tornará o sistema muito confiável e trará muita responsabilidade ao mercado.”
Na plataforma da Pachama, os interessados podem escolher entre diversos projetos florestais, em diferentes países da América do Norte e do Sul e até da África. Empresas como Microsoft, a Liga Mundial de Surf, Shopify, Softbank e Gitlab são alguns dos clientes.
A startup conta com 24 projetos em oito países, como Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Peru, Uruguai, Nicarágua, Panamá e Uganda. São 1 milhão de hectares protegidos e monitorados por sua tecnologia, o equivalente 1,9 milhão de campos de futebol.
Saez-Gil, que hoje mora na Califórnia, teve a ideia da Pachama em uma viagem que fez pela Floresta Amazônica no Peru. Foi lá que ele viu os efeitos do desmatamento em uma área que representa uma grande compensação de dióxido de carbono para o planeta. “Existem cerca de 1 bilhão de hectares no planeta que poderiam ser reflorestados”, diz Saez-Gil.
Mas a compensação de carbono não é uma alternativa unânime para preservar as florestas e evitar o aquecimento global. Existem dois problemas principais, de acordo com Tim Searchinger, pesquisador da Universidade de Princeton e pesquisador da organização de pesquisa ambiental World Resources Institute.
A primeira é o "vazamento", ou a ideia de que, se você proteger um pedaço de floresta por meio de compensações, as pessoas simplesmente cortarão árvores em outro lugar. O segundo é o conceito de "adicionalidade". Ações para evitar o desmatamento em uma determinada área podem gerar créditos de carbono, mas é difícil saber ao certo se haveria desmatamento se os créditos não existissem.
“Não acredito em compensações de carbono”, disse Searchinger ao site Business Insider. "Neste ponto, não acho que temos qualquer prova real de que eles funcionam."