A posição da Tesla na dianteira do mercado de carros elétricos não se explica, exclusivamente, pelo portfólio da montadora e pelo talento de Elon Musk, seu CEO, de capitalizar e traduzir sua influência em vendas.
Parte desse sucesso também se justifica pelo fato de a empresa ter largado na frente em um dos grandes desafios para que esse setor ganhe escala: as estações de recarga dos veículos. Hoje, a Tesla tem mais de 40 mil delas em sua rede, batizada de Supercharger, sendo 16 mil nos Estados Unidos.
Agora, depois de investir tempo e recursos consideráveis na construção dessa estrutura, hoje restrita aos modelos da marca, a companhia pode ser obrigada, na prática, a compartilhar essa rede com seus concorrentes no mercado americano.
Segundo a agência Reuters, essa virada de chave está ligada a uma medida que deve ser anunciada nesta semana pelo Departamento de Transportes dos Estados Unidos e que irá pressionar a companhia a seguir esse roteiro.
Caso se recuse a abrir sua rede para outras marcas, a Tesla não terá acesso aos US$ 7,5 bilhões em subsídios prometidos ao setor pelo governo de Joe Biden, como parte do plano para acelerar a transição para os carros elétricos.
A meta do governo de Biden é alcançar 500 mil estações de recarga no país nos próximos anos. Para isso, parte dos recursos será destinada ao financiamento de estruturas nas quais seja possível carregar veículos de diversas marcas.
Em 2022, a Tesla chegou a propor que suas estações pudessem se enquadrar nesses requisitos e acessar esses recursos que estarão disponíveis nos subsídios governamentais ao dividirem espaço com carregadores de concorrentes.
Em outras oportunidades, Elon Musk já chegou a falar sobre a intenção de compartilhar as estações da Tesla com modelos de rivais. Mas essa orientação ficou restrita a algumas localidades na Europa e na Austrália. Nos Estados Unidos, nunca houve nada de concreto nessa direção.
"Nós entendemos que a Tesla está procurando ajustar seu sistema para que ele seja mais aberto. Portanto, se eles chegarem a esse ponto e atenderem aos requisitos de elegibilidade, certamente serão elegíveis para o financiamento", disse Stuart Anderson, diretor de desenvolvimento de transportes do estado de Iowa, à Reuters.
Na visão de analistas, a abertura da rede pode ampliar o fluxo de recursos e a receita da Tesla. Entretanto, também podem trazer danos no que diz respeito à exclusividade da marca e também à gestão dessa rede de recargas.
Para se ter uma referência do domínio da Tesla nessa ponta, no início deste ano, a Mercedes-Benz anunciou que irá investir na estruturação de uma rede global de mais de 10 mil estações de carregamento, um número inferior ao que a montadora de Musk tem apenas nos Estados Unidos.
Com o mercado americano e o Canadá como ponto de partida desse plano, que será colocado em prática já em 2023, a Mercedes-Benz projeta ter mais de 400 unidades na América do Norte. Com um detalhe: até 2027.
Enquanto a Tesla decide qual caminho seguir, suas ações operavam com queda de 1,09% na Nasdaq, por volta das 15h25 (horário local). Em 2023, os papéis da montadora acumulam alta de mais de 58%. A companhia está avaliada em US$ 616 bilhões.