A Arezzo&Co está inaugurando uma nova passarela em sua estratégia de M&A, ao anunciar sua primeira transação fora do Brasil, com a compra da Paris Texas, marca italiana de calçados femininos.
A Arezzo vai desembolsar € 25 milhões (R$ 135 milhões) por uma fatia de 65% do capital da empresa. Desse total, € 10 milhões serão injetados no caixa da companhia e € 15 milhões serão pagos aos fundadores da marca, Annamaria Brivio e Massimo Baltimora, que permanecerão à frente do negócio.
“O valor dessa tese internacional está no mercado de luxo, onde a margem bruta é muito alta”, diz Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, ao NeoFeed. “E há uma hora certa de entrar nessas marcas, quando elas já têm relevância, mas ainda não tem escala, que é onde conseguimos adicionar valor."
Esse é segundo M&A de 2023. Em janeiro deste ano, a Arezzo&Co fechou a aquisição da gaúcha Vicenza, de calçados femininos. Com o acordo, na época, o grupo avaliado em R$ 8 bilhões adicionou a 16ª marca ao seu portfólio e deu sequência ao plano de consolidar sua “house of brands”.
O plano de fincar os pés no exterior já vinha sendo ensaiado há alguns anos. Em 2022, a Arezzo montou uma equipe dedicada a aquisições internacionais dentro da sua área de M&A.
Há cerca de cinco meses, dentro desse processo, o grupo iniciou um roadshow pela Europa, no qual selecionou oito marcas. O grupo entendeu que a Paris Texas, fundada em 2015, em Milão, era aquela que melhor atendia aos critérios descritos por Birman.
“É a que mais teve fit estratégico. A marca já tem um produto ícone e de sucesso, fundadores muito talentosos e um conhecimento enorme do mercado europeu”, afirma o empresário. “Faltava o que temos de melhor: estratégia, omnichannel e planejamento de go to market.”
Ele ressalta que o fato de o acordo não envolver 100% da operação, como é usual nas aquisições do grupo, é explicado pelo desejo dos fundadores de alavancar o crescimento da marca. “Temos o controle e a governança é clara, eles serão os criativos e nós teremos um papel quase que de um conselho.”
No centro dessa combinação, outros elementos pesaram pela escolha da marca pela Arezzo. Em 2022, a Paris Texas faturou € 15 milhões, o que representou um crescimento de 65%. No ano, a margem Ebitda da companhia foi de 16,6%.
“É uma empresa jovem e que já tem um patamar de receitas considerável para esse mercado e é lucrativa”, diz Rafael Sachete, CFO da Arezzo&Co. “E que não está forçando receita à custa de margens ruins ou marketing exagerado. Eles têm um equilíbrio e sabem que podem crescer muito mais.”
Nessa direção, segundo a dupla, o foco “no dia um” da aquisição será impulsionar a Paris Texas nos Estados Unidos, um mercado no qual a marca já é bastante conhecida, mas onde tem baixa penetração, com receitas anuais na casa de US$ 2 milhões.
O motor para ganhar escala no mercado americano será a base que a Arezzo já mantém em Nova York, com times em áreas como finanças, tecnologia, e-commerce e logística, além de um centro de distribuição, do relacionamento com varejistas locais e de cinco lojas próprias.
Atualmente, essa estrutura apoia as vendas das marcas Alexandre Birman e Schultz nos Estados Unidos. E também está envolvido em outra frente recente, os primeiros movimentos da marca Arezzo no país, que incluem um acordo com a rede de lojas de departamentos Macy’s.
“Na Europa, onde a Paris Texas já tem presença em torno de 400 lojas multimarcas, vamos botar um pouco mais de gás, investir mais em marketing, criar mais linhas e coleções”, diz Sachete. “E temos o plano de abrir duas flagships da marca, a primeira, provavelmente na Europa e depois, talvez nos EUA.”
Nos próximos 18 meses, não estão previstas ações em outros mercados, incluindo o Brasil. Hoje, no País, a Paris Texas vende parte de suas coleções na NK Store. No longo prazo, regiões como a Ásia também devem entrar no radar da marca.
Nesse roteiro, a Arezzo também enxerga benefícios que o acordo pode trazer a outras marcas do grupo, em particular, a Schultz e a Alexandre Birman, que tem perfis semelhantes de preço.
“A Paris Texas vai ajudar especialmente na distribuição na Europa, pelo relacionamento que eles têm com os fornecedores e a presença em centenas de multimarcas”, diz Birman. “E também na atração de novas marcas para a nossa plataforma global.”
Passos calculados
Os esforços para impulsionar essa plataforma global e suas marcas fora do Brasil não estão restritos à compra da Paris Texas. A Arezzo tem conversas avançadas para adquirir uma fábrica na região da Toscana, na Itália, especializada no mercado de luxo, em um acordo de aproximadamente € 10 milhões.
Da mesma forma, o apetite do grupo por movimentos inorgânicos no mercado externo não se esgota nessa primeira aquisição. Mas os termos e critérios adotados na compra da Paris Texas seguirão como norte nessa estratégia, que já inclui outras conversas em curso.
“Estamos olhando marcas de luxo europeias de até € 50 milhões de faturamento e não teremos nada que, no curto prazo e numa tacada, mude os ponteiros, seja em termos de risco ou retorno”, diz Birman. “Serão passos ponderados, mas importantes para aprendemos e, aí sim, escalarmos essa estratégia.”
Em 2022, o faturamento da Paris Texas cresceu 65%, para € 15 milhões
Ao ressaltar esse cuidado na alocação do capital e, ao mesmo tempo, o potencial de crescimento embutido nesses movimentos, o empresário destaca ainda outro aspecto favorável desse plano no curto prazo.
“Estamos entrando nesse direcionamento em um momento mais desafiador no mercado brasileiro”, observa. “E poder construir esse cinturão de segurança fora do País também vai nos ajudar.”