A maré de más notícias do Robinhood ganhou força nesta terça-feira, 14 de junho. O banco americano J.P. Morgan reduziu a expectativa de preço-alvo das ações da plataforma de negociação de ações de US$ 11 para US$ 7 para os próximos 12 meses. O motivo? O foco da empresa está atrapalhando o próprio negócio.
O analista Kenneth Worthington, do J.P. Morgan, manteve a classificação de venda das ações da companhia sob a justificativa de que, ao focar a operação em pequenos investidores, a plataforma de corretagem pode não atingir margens competitivas por muito tempo e se tornar lucrativa.
A mudança no preço-alvo dos papéis veio após a divulgação dos resultados financeiros da Robinhood em maio. As margens caíram quase 20% ante abril e terminaram o quinto mês do ano em US$ 4,2 bilhões. Ao mesmo tempo, o número de usuários caiu 7% neste mês para 14,6 milhões.
“Embora os fundadores tenham alavancado inovação, coragem e condições ideais de mercado para construir uma corretora de varejo líder nos Estados Unidos, não vemos o crescimento como sustentável”, analisou Worthington, conforme reportado pelo Barron’s.
Para reverter a tendência de queda de usuários, a companhia chegou a anunciar, ainda no mês passado, o lançamento de uma carteira digital para permitir que os usuários acessassem o mercado de NFTs e tokens. A wallet vai funcionar de forma independente ao aplicativo principal e tem previsão para ser lançada até o fim deste ano.
Avaliada em US$ 6 bilhões, o Robinhood enfrenta um momento delicado na bolsa de valores. As ações da empresa americana negociadas na Nasdaq já caíram mais de 60% desde o começo do ano. A queda desde o IPO realizado no fim de julho do ano passado, é ainda maior: quase 80%. Desde o pico, em agosto, quando o papel atingiu US$ 70,30, o tombo é maior. A ação se desvalorizou 89,7% e hoje fecharam em US$ 7,20.
O principal problema tem sido o escrutínio de autoridades reguladoras por conta das práticas que a companhia adota para aumentar sua receita, como o chamado fluxo de pagamento por pedido. De forma técnica, a prática envolve o pagamento de até 1 centavo por ação que um corretor recebe para rotear as negociações de seus clientes para um determinado formador de mercado.
Na prática, a Robinhood aposta em um modelo em que recebe uma comissão por direcionar o cliente para alguém (o formador de mercado) que esteja fazendo a liquidação da compra de uma ação. Como não cobra taxa, a Robinhood ganha apenas com essas "comissões".
O problema é que a Securities and Exchange Commission (a CVM americana) não vê a prática com bons olhos e pode realizar mudanças que fariam com que as ordens de compra de ações fossem enviadas para leilões, de acordo com o Wall Street Journal. Desta forma, a Robinhood não conseguiria designar um formador de mercado, o que implicaria em suas as "comissões".
A companhia também passou a enfrentar a competição de outras gigantes do mercado. No ano passado, o PayPal estava preparando uma ofensiva para criar uma plataforma voltada para investidores do varejo.
Outros resultados financeiros também indicam o motivo do sinal de alerta estar ligado para os investidores. No balanço do primeiro trimestre deste ano, a receita do Robinhood caiu 43% para US$ 299 milhões em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
"Estamos vendo nossos clientes afetados pelo ambiente macroeconômico, o que se reflete em nossos resultados neste trimestre", escreveu Jason Warnick, diretor financeiro da Robinhood, ao comentar os resultados.