A Tesla, e não a SpaceX, foi quem primeiro levou o empreendedor Elon Musk às estrelas – pelo menos no sentido figurado.
A fabricante de veículos elétricos chegou a valer US$ 159,8 bilhões, com ações negociadas US$ 887,21 na na última terça-feira, 4 de fevereiro. Ao longo do dia, os papéis bateram a marca de US$ 967,51.
Mas a “jornada nas estrelas” de Musk e da Tesla foi mais curta do que o previsto. No pregão de quarta-feira, 5 de fevereiro, as ações da companhia caíram 17,2%, e fecharam a quarta-feira em US$ 734,72. Em 24 horas, a empresa perdeu quase US$ 28 bilhões. O valor de mercado encolheu para US$ 132,4 bilhões.
A queda da Tesla em Wall Street pode ser explicada por dois motivos. De um lado, investidores resolveram realizar o lucro, depois de um rali impressionante de alta dos papéis. Desde o início do ano, as ações acumulam valorização de 73,3%.
Por outro lado, as últimas declarações dos diretores da empresa não ajudaram a sustentar o rali dos últimos dias. Eles confirmaram atraso nas entregas chinesas por conta do coronavírus. A fábrica da companhia na China ficará fechada por pelo menos uma semana. E isso impactará o cronograma da companhia.
Mas antes desse “balde d’água fria”, os investidores comemoravam a valorização dos papéis devido ao otimismo do mercado com o último relatório da empresa. “A Tesla registrou lucro de US$ 105 milhões, entregou mais de 112 mil unidades e a 'antecipou’' as produções do Model Y", afirmou Daniel Ives, analista da empresa de pesquisa Wedbush's Ives, ao NeoFeed.
Dono de 19% da Tesla, Musk viu sua fatia na Tesla saltar de US$ 14,5 bilhões, no começo do ano, para US$ 30 bilhões até 4 de fevereiro. Ontem, ele perdeu US$ 5 bilhões. Ainda assim, está mais de US$ 10 bilhões mais rico com a valorização dos papéis da fabricante de carros elétricos.
A Tesla também conseguiu um feito inimaginável para uma empresa novata, que fabrica ainda poucos carros quando comparada as gigantes do setor automobilístico.
No ano passado, a Tesla vendeu 367,5 mil unidades em todo o mundo, enquanto, apenas nos Estados Unidos, a Ford comercializou 2,41 milhões de carros, a GM, 2,9 milhões e a Fiat Chrysler 2,89 milhões.
Mesmo vendendo (e produzindo) consideravelmente do que as três maior fabricantes nos Estados Unidos, a Tesla, sozinha, vale mais que todas elas juntas: a GM está avaliada em US$ 50 bilhões; a Ford, US$ 36 bilhões; e a Fiar Chrysler, US$ 26 bilhões.
Caso siga "acelerando" em Wall Street, a Tesla pode ultrapassar todo esse grupo e mais a Daimler, dona da Mercedes, que vale US$ 50 bilhões. A única fabricante a escapar ao retrovisor de Musk é a japonesa Toyota, que ocupa a pole position com seus US$ 200 bilhões de valor de mercado.
Embora todas essas gigantes também estejam apostando em veículos elétricos, a grande vantagem da Tesla em relação aos seus rivais é sua participação no mercado americano. Com sede na Califórnia, a fabricante responde por 60% do mercado de carros elétricos nos Estados Unidos. Tesla Model 3, o mais barato deles, cujo preço inicial é US$ 41,1 mil, abocanha metade desse segmento.
E embora sua fabricação de carros seja pequena, ela vem crescendo de forma acelerada. A Tesla vendeu 367,5 mil veículos em 2019. Esse número é o dobro de 2018 e o triplo de 2017.
A Tesla pode ver sua performance voar ainda mais longe caso consiga reproduzir esse desempenho na China. "Estou otimista em relação aos papéis da Tesla, mas acho que o futuro da fabricante está bastante ligado à demanda chinesa, que deve saltar para US$ 330 bilhões em 2024", afirma Ives, da Wedbush's Ives
Para ganhar mais espaço dentro e fora dos Estados Unidos, a Tesla vem apostando ainda na diversificação de seus produtos, mas sem sair de seu próprio ecossistema. Em setembro do ano passado, por exemplo, a empresa passou a contar com um seguro próprio, que, por enquanto, está disponível apenas em alguns estados americanos e só para carros modelos Tesla. O valor da apólice, segundo a companhia, é entre 20 e 30% inferior às ofertas das concorrentes.
Com essa nova "carta na manga", a fabricante consegue reduzir parte dos custos recorrentes de seus veículos, algo que pode pesar bastante na decisão de compra do americano médio. Na maioria das vezes, os carros da Tesla têm seguros mais caros, porque as seguradoras simplesmente não contam com histórico suficiente de gastos com reparos de veículos elétricos.
Mas, além disso, o seguro da Tesla faz sentido porque ele é apoiado em fatos muito bem determinados. Como a fabricante tem acesso, em tempo real, aos dados do comportamento do motorista e do carro, incluindo as gravações das câmeras e análises dos sensores, a empresa consegue calcular com bastante exatidão as estimativas de acidentes e custos de reparo.
Na contramão
Na direção oposta desse entusiasmo todo com a Tesla e seus últimos resultados, uma parcela de analistas e investidores acredita que a companhia esteja "inflacionada" e que a valorização das ações da Tesla pode ser comparada a outros casos de bolhas especulativas.
Em entrevista à CNBC, Matt Maley, chefe de estratégia de mercado da Miller Tabak, disse que "a Tesla ficou parabólica e as ações da empresa serão arrasadas em algum momento".
O advogado e ex-potencial candidato à presidência americana Ralph Nader também tratou do assunto com cautela. Em seu Twitter, Nader escreveu que "quando a bolha do mercado explodir, o ponto de partida terá sido o aumento das ações da Tesla para além das especulações".
Na mesma plataforma, o advogado que é reconhecido por defender o direito dos consumidores justificou suas preocupações. "Com grandes dívidas e vendendo menos de 400 mil carros no ano passado e sendo desafiada pelo aumento de ofertas de carros elétricos em 2020, a Tesla tem suas ações avaliadas muito acima da Volkswagen, que vendeu 10 milhões de unidades no ano passado. Fiquem atentos, fãs da Tesla"
Quem mantém o pisca alerta ligado ao acompanhar a jornada da empresa de Musk também alega que a Tesla apresentou lucro em poucos trimestres e nunca sequenciais. Desde sua fundação, em 2003, a montadora não conseguiu ainda fechar um relatório anual com quatro trimestres consecutivos no azul.
Sempre ativo em sua conta do Twitter, Musk pouco comentou sobre o desempenho da sua empresa nos últimos dias. Em 3 de fevereiro, o magnata postou uma sequência de imagens tipo emoji de chamas (?), em uma possível referência a uma profecia feita mais de um ano atrás.
Em maio de 2018, Musk usou a rede social para atacar a prática da venda descoberta, que é quando se negocia uma ação que não possui, apostando na queda de seu valor para lucrar na recompra. A esses especuladores, Musk disse algo que pode ser traduzido da seguinte forma: "O incêndio do século está a caminho da venda descoberta. A chama deve chegar a tempo".
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