Até hoje não há um consenso sobre a causa da “Black Monday” – Segunda-feira negra, na tradução. Assim ficou conhecido o dia em que a Bolsa de Valores de Nova York sofreu o maior tombo de sua história, registrado em 19 de outubro de 1987.

Como especialistas em mercado financeiro não conseguem apontar com precisão “o que ou quem” gerou a queda, “Black Monday” apresenta uma versão fictícia do pior pesadelo enfrentado em Wall Street.

E o dia fatídico para operadores de pregão e para investidores é revisitado com muito humor na série, que chega à terceira temporada nos EUA, em maio, no canal Showtime. Ainda não há data de estreia prevista no Brasil.

O que se vê aqui é uma teoria cômica e um tanto exagerada para explicar como o índice Dow Jones caiu 22,61% naquela data, o que representou a maior desvalorização percentual registrada em um só dia na história do mercado de ações.

Na versão apresentada pelos criadores e roteiristas Jordan Cahan e David Caspe, o tombo começou a ser desenhado um ano antes. A origem da ruína financeira estaria na fictícia gestora de fundos de investimentos chamada The Jammer Group, comandada por Maurice Monroe (vivido pelo ator Don Cheadle).

Monroe e sua equipe, retratados aqui como profissionais impetuosos e agressivos, teriam provocado o colapso a partir de uma série de fraudes. Entre elas, a inserção proposital de uma anomalia no sistema da bolsa – uma hipótese até hoje não totalmente descartada pelos especialistas ao tentarem explicar a “Black Monday”.

Logo no primeiro episódio da primeira temporada da série, o espectador é apresentado a um nerd da informática, Blair Pfaff, vivido pelo ator Andrew Rannells. Recém-formado na Wharton Business School, o personagem vai procurar emprego em Wall Street, assim que ele acaba de desenvolver um programa de computador para negociar ações.

Pfaff é logo contratado pelo The Jammer Group, apesar de Monroe representar a “velha guarda”, não confiando nas transações automáticas, feitas por computador. “Computadores não fazem negociações. Só homens”, diz o CEO Monroe, na série.

O ator Maurice Monroe interpreta Don Cheadle, o dono de uma fictícia gestora de fundo de investimentos chamada The Jammer Group,

Embora os roteiristas não tenham se preocupado muito com a veracidade na explicação para o tombo, o “program trading” também figura entre as causas possíveis. O perigo estaria no fato de a operação por computador poder ser realizada a partir de condições pré-determinadas para compra ou venda de ações. Com isso, ao detectar baixas, o programa poderia acionar sozinho e seguidamente o modo “venda”, derrubando ainda mais o seu valor.

Ao mesmo tempo em que especula o que causou a queda catastrófica, “Black Monday” faz piada sobre o que os operadores do pregão enfrentam diariamente. Como as desvalorizações repentinas, o estresse constante e os momentos de pânico.

Todo o intenso mundo dos investimentos é satirizado, assim como a estética dos anos 1980, com os cabelos e os figurinos dos personagens sempre pecando pelos exageros típicos da década.

E não faltam os clichês vistos também em outras produções sobre a bolsa de Nova York, como “O Lobo de Wall Street” (2013). O comportamento que impera é o dos operadores da bolsa falando palavrões, usando drogas (principalmente cocaína) e fazendo sexo com prostitutas durante o expediente.

O comportamento que impera é o dos operadores da bolsa falando palavrões, usando drogas (principalmente cocaína) e fazendo sexo com prostitutas durante o expediente

“É louco o quanto nós pudemos aprontar nessa série. Toda a história é contada em um tom irregular, bagunçado e absurdo”, disse o criador e roteirista Jordan Cahan. Ele participou de evento online sobre “Black Monday” organizado pelo SXSW, o festival South by Southwest, que teve cobertura do NeoFeed.

Desde o início, a ideia foi apresentar uma visão satírica e tresloucada dos bastidores no mercado financeiro. De preferência, caprichando na ganância, na ostentação e nos excessos dos operadores da bolsa, já que o meio é conhecido por proporcionar ganhos – e perdas – de milhões de um dia para o outro.

“Isso explica vermos tantos homens mostrando o pênis de forma gratuita ao longo da série. De certa forma, é o que o cinema costumava fazer com a nudez feminina nos anos 80”, afirmou David Caspe, também criador e roteirista de “Black Monday”.

O ator Andrew Rannels vive o papel de Blair Pfaff, um nerd da informática, recém-formado na Wharton Business School, que desenvolve um programa de computador para negociar ações

Para escrever a série, Caspe recorreu muitas vezes às histórias de mau comportamento que ouviu de seu pai, Jeffrey Caspe, um operador da bolsa de Chicago aposentado. Cenas em que os corretores cheiram cocaína na mesa do escritório ou fazem festinhas com prostitutas usando o dinheiro dos clientes seriam inspiradas no que o ex-operador testemunhou ao longo da carreira.

Outra ideia que Caspe usou das conversas que teve com o pai foi uma manobra batizada de “o jogo de O’Hare”. Pelo que o ex-corretor conta, nos anos 80, operadores desesperados chegavam a apostar o dinheiro de outra pessoa em uma commodity (no caso, recursos agrícolas como soja ou trigo), seguindo diretamente para o Aeroporto Internacional O’Hare de Chicago, após a negociação.

Ao fim do dia, se o investimento fosse bem-sucedido, eles partiam só com a roupa do corpo em férias luxuosas em busca de comemoração. Do contrário, o operador compraria uma passagem só de ida e desaparecia, sem dar satisfação muitas vezes aos próprios familiares.

Um dos operadores de “Black Monday” faz exatamente isso quando perde tudo e entra em pânico. Os roteiristas só mudaram o nome do aeroporto, batizando a loucura de “a debandada de LaGuardia”, já que a série é ambientada em Nova York.