No dia 3 de novembro de 2020, os americanos vão às urnas para colocar fim em uma corrida presidencial que, até agora, parece incerta. Segundo a mais recente pesquisa da rede americana CNN, o candidato democrata Joe Biden conta com o apoio de 51% da população e tem uma pequena vantagem sobre seu rival republicano Donald Trump, que, com 46% das intenções de voto, tenta a reeleição.
E a chave da Casa Branca, mais uma vez, está nas mãos da população negra, composta por 47,8 milhões de cidadãos – e 12% dos adultos aptos a votar. Eles foram decisivos em 2016, quando Donald Trump foi eleito. Mas decisivos não porque agiram, mas sim porque deixaram de comparecer às urnas.
Depois daquela eleição, marcada pelo abuso de fake news e outros mecanismos escusos de marketing político, um documento assinado pelo Comitê de Inteligência do Senado americano confirmou que a parcela negra da população dos Estados Unidos foi a mais explorada em campanhas de mídia social.
A ideia, de acordo com o papel, era desencorajar essas pessoas de votar – o voto, nos EUA, não é obrigatório. De fato, as eleições de 2016 atraíram 137,5 milhões de cidadãos às urnas, um recorde, pelas contas do Census americano.
Apesar disso, a porcentagem de negros que consumaram sua participação no processo eleitoral recuou pela primeira vez em 20 anos de eleições presidenciais, conforme aponta um levantamento da agência de pesquisa Pew Research Center.
Foi uma queda de 7 pontos percentuais, levando a uma participação de apenas 59,6% da população negra. Para se ter uma ideia, nas eleições de 2012, 66,6% dos afro-descendentes americanos foram às urnas. Mas, dessa vez, ao que parece, será diferente.
"Os protestos estão acontecendo em todos os 50 estados do país. A comunidade negra está se organizando em todos os 50 estados do país. Nossa voz será ouvida nessas eleições", disse ao NeoFeed, por meio de nota, o movimento Black Voters Matter, uma organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de empoderar a comunidade negra a partir da conscientização política.
"Votos efetivos permitem que a comunidade decida seu próprio destino", afirma o movimento. Mais ativos do que nunca, o Black Voters Matter, sabe que a participação negra nas eleições de 2020 tem potencial para ser decisiva. E o cenário parece pender para o lado democrata.
Joe Biden, que passou por alguns apertos nas primárias, quando disputava com outros colegas democratas a indicação pelo partido, foi basicamente "salvo" pelo voto negro e latino.
O vice-presidente do então presidente Barack Obama ganhou fôlego depois que Jim Clyburn declarou seu apoio ao candidato. O parlamentar da Carolina do Sul é a maior liderança negra do Congresso americano e tende a influenciar os votos da comunidade.
A parcela de cidadãos afro-descendentes é bastante expressiva nos chamados "estados pêndulos", que são aqueles que ora votam em democratas, ora em republicanos, e são, de fato, os estados que decidem a eleição. Por isso, indicar um candidato popular com certas minorias nesses estados sempre foi uma boa estratégia – e Biden parece ser o nome certo para isso.
O cenário para o democrata fica ainda melhor diante da insatisfação do eleitorado negro com a gestão de Donald Trump. Uma pesquisa da agência Ipsos encomendada pelo jornal Washington Post revelou que 65% dos afro-americanos declaram, em janeiro, que é um mau momento para ser negro nos Estados Unidos. Na mesma enquete, os entrevistados disseram que os americanos brancos não entendem a discriminação que eles enfrentam.
A julgar pela condução do republicano diante da crise racial que tem levado milhares de cidadãos a tomarem as ruas das cidades americanas em protestos pela morte de George Floyd e dos abusos policiais contra a população negra, esses números devem estar mais favoráveis ainda aos democratas. O atual chefe da Casa Branca tem sido alvo de críticas por seu discurso pouco empático e sua resposta militarizada.
Caso essas manifestações levem os eleitores afro-americanos às urnas, na mesma proporção que aconteceu em 2012, um levantamento do Centro pelo Progresso Americano prevê que Joe Biden vença o colegiado eleitoral num placar que pode chegar a 294 contra 244.
Essa crise parece ser um atalho para o candidato democrata ocupar a Casa Branca e ele pode ainda ganhar mais velocidade caso cumpra a expectativa de selecionar uma mulher negra como vice em sua chapa. Biden estaria considerado convidar a advogada e senadora Kamala Harris, a congressista Val Demings ou a advogada e escritora Stacey Abrams.
Independente de quem seja o número 2 de sua campanha, Biden já prometeu nomear uma mulher negra para a Suprema Corte, que conta hoje com 12 membros – 4 mulheres e 8 homens, dos quais apenas um é afro-americano.
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