Poucas entidades têm um deal flow tão extenso – e de qualidade – como a Endeavor, organização não governamental sem fins lucrativos que apoia o empreendedorismo e que atua há 22 anos no Brasil.
Com presença em mais de 35 países, a Endeavor analisou, só no Brasil, mais de 8 mil startups. E, deste universo gigantesco, apenas 150 são escolhidas para participar de seus programas de formação e de mentorias.
Já passaram pelos programas da Endeavor startups como Mercado Livre, Ebanx, Neon, Creditas, MadeiraMadeira, unico, Zenvia e VTEX e tantas outras que atingiram avaliações bilionárias ou abriram o capital. A estimativa da entidade é que cerca de 80% dos unicórnios do Brasil foram selecionados pela organização.
Foi por esse motivo que a Endeavor, que já tinha um fundo de growth, o Catalyst, resolveu criar um veículo para investir em startups early stage no Brasil: o Scale-Up Ventures. O primeiro deles captou US$ 18 milhões em 2021. O segundo, que acaba de levantar US$ 15 milhões, vai começar a “rodar” a partir de agora.
“Eu tenho a faca e o queijo na mão. Se tivesse feito o seed dessas empresas, esse fundo teria a melhor performance na classe de ativos de venture capital da América Latina inteira”, diz Igor Piquet, managing director do Scale-Up Ventures e do Endeavor Catalyst, em entrevista ao programa Café com Investidor, do NeoFeed.
Piquet imprimiu um ritmo alucinante ao primeiro fundo de early stage da Endeavor. Em 24 meses, ele fez quase 50 investimentos e chegou a realizar um aporte por semana no período mais intenso. Hoje, o “pace” está em um por mês, um cenário mais condizente com as situações atuais do mercado.
A rapidez de investimento não significa que Piquet faça uma diligência apressada. Ao contrário. Para receber um aporte do Scale-Up Ventures, a startup precisa passar pelo rigoroso processo de seleção da Endeavor. É neste aquário que ele “pesca” as startups nas quais investe.
“A gente vive, respira e acorda todo dia sob seleção de empresas e dos melhores times”, diz Piquet, acrescentando que 100 pessoas no Brasil atuam no processo de escolha das startups que fazem parte dos programas da Endeavor.
Outra característica da tese do Scape-Up Ventures é que a “gestora” da Endeavor nunca lidera uma rodada. Os cheques são de até US$ 200 mil e são feitos em conjunto com os fundos parceiros da entidade. Os principais são Kazek, Astella, Monashees e Valor Capital. “Com esses, fizemos de cinco a 10 investimentos conjuntos”, conta Piquet.
Já receberam investimentos do Scape-Up Ventures a Flash, startup que está tentando “disruptar” o mercado de tíquetes alimentação; a Sami, uma healthtech para pequenas e médias empresas; a Beehub, que atua como um “backoffice as a service”, e a Conexa Saúde, da área de telemedicina.
“Investimos em empresas de cripto, Web3 e SaaS. A nossa tese é superagnóstica em relação ao setor”, diz Piquet. “O que não somos agnósticos é em relação a qualidade do time, do produto e da inovação.”
Em seu segundo fundo para investir em startups em estágio inicial, Piquet vai seguir essa fórmula que deu certo até agora. O ritmo, no entanto, deve ser mais lento diante de um cenário de mais cautela para realizar aportes por todos os fundos presentes no mercado brasileiro.
O Brasil é o único país entre os mais de 35 em que a Endeavor atua que criou um fundo para investir em early stage. A ideia surgiu em conjunto com Sergio Furio, o fundador da Creditas, que foi uma das empresas que participou do programa da entidade (na época, ela se chamava BankFacil).
Em uma conversa com Piquet, Furio disse que a Endeavor deveria ter investido na Creditas na época do seed. Piquet já tinha um plano de criar um veículo para early stage no Brasil e contou com a ajuda do fundador da Creditas para estruturar o fundo. Hoje, Furio é o chairman do Scale-Up Ventures.
Antes disso, a Endeavor só investia em growth através do fundo Catalyst, que existe há 12 anos. Desde 2010, já foram captados quatro veículos que investem em empresas globais, em especial de mercados emergentes. O Brasil é o país mais representativo e conta com 20% dos ativos sob gestão.
Neste fundo, também gerido por Piquet no Brasil, foram feitos investimentos em várias startups que se tornaram unicórnios. Entre elas, a Creditas, de Furio, a Ebanx, a VTEX, a Hotmart e até a fintech americana Brex, fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Fraceschi. Os cheques, evidentemente, são maiores e podem chegar a US$ 2 milhões.
O que é comum nos dois fundos da Endeavor é que o carry, a taxa de performance que volta como remuneração aos gestores do fundo, é toda revertida para a Endeavor. Os LPs também são semelhantes. Em geral, são dos empreendedores que passaram pelos programas da entidade.
São investidores dos fundos da Endeavor nomes como Tiago Dalvi, fundador da Olist, Eric Santos, fundador da RD Station, Mariano Gomide e Geraldo Thomaz, fundadores da VTEX, entre tantos outros founders.
Nesta entrevista, que você assiste no vídeo abaixo, Piquet explica como funciona o “algoritmo” da Endeavor para selecionar startups, comenta sobre o momento do mercado brasileiro e mundial de venture capital e analisa a questão de lay-offs que têm atingido as startups, inclusive de seu portfólio. Assista a mais um episódio do Café com Investidor.