De 2009 a 2022, a Oria Capital levantou três fundos que somados atingiram a marca de R$ 700 milhões e investiram em 17 startups. Entre elas, a Zenvia, que abriu o capital na Nasdaq no ano passado, levantou R$ 1,1 bilhão e vale atualmente US$ 245 milhões.

O portfólio conta também com a startup de recursos humanos Gupy, a empresa da área de saúde Pixeon e a companhia que criou um big data da área de mídia Knewin.

Agora, perto de acabar os investimentos do terceiro fundo, a Oria já está preparando sua máquina de captação de recursos para levantar mais US$ 100 milhões (quase R$ 500 milhões) em seu quarto fundo em que seguirá apostando na mesma tese com algumas adaptações.

“Além de procurar empresas de software as a service (SaaS) B2B, vamos conciliar com alguma transformação digital”, diz Jorge Steffens, fundador da Oria Capital, com exclusividade ao NeoFeed. “Empresa de software puro está mais difícil de achar.”

Fundada por Steffens, ex-CEO da Datasul, empresa de software de gestão que abriu o capital no começo dos anos 2000 e foi comprada pela Totvs de Laércio Cosentino em 2008, e por Paulo Caputo (outro ex-executivo da Datasul), a Oria Capital já está experimentando um pouco dessa nova tese.

Os mais recentes investimentos feitos pela gestora, que faz cheque que variam de R$ 30 milhões a R$ 50 milhões em empresas maduras e que geram caixa, foram na Ambar e na Rede Vistorias. As duas empresas do portfólio da Oria Capital mesclam um modelo de negócios de SaaS com a economia tradicional.

No caso da Ambar, a empresa faz casas pré-montadas, mas têm investido cada vez mais em softwares. A Rede Vistorias, por sua vez, atua na área de vistorias em ativos imobiliários. Mas tudo é orquestrado por um programa tecnológico.

A nova captação da Oria Capital acontece em um momento de aumento de taxas de juros no Brasil, que está em 11,75% - e nada indica que vai parar neste patamar. Nesse novo cenário, está ficando cada vez mais difícil alocar recursos para a classe de ativos venture capital.

Para Steffens, que tem entre os seus principais investidores family offices e fundos estrangeiros, isso não deve ser um problema. De acordo com ele, o mercado se sofisticou e entendeu que não adianta só investir em renda fixa.

“Os family offices estão vendo que precisam investir em ações e, ao mesmo tempo, em venture capital. Isso veio para ficar”, afirma o fundador da Oria Capital.

Os investimentos em venture capital, no entanto, devem desacelerar em 2022. No ano passado, atingiram a cifra recorde de US$ 9,4 bilhões no Brasil, mais de três vezes o volume de 2020, segundo dados do Distrito, ecossistema independente de startups.

Nos três primeiros meses deste ano, os dados mostraram que os fundos de venture capital tiraram o pé do acelerador. Os aportes cresceram “apenas” 4%, somando US$ 2,4 bilhões.

“Se uma empresa é boa, não importa o cenário”, afirmou Alex Szapiro, managing partner e head do Brasil do Softbank Latin America, durante o Tech Founders Summit, evento promovido pelo Itaú BBA, na semana passada. Mas admitiu: “Podemos ver liquidez menor neste ano.”

O copresidente e head da América Latina do General Atlantic, Martín Escobari, fez coro a Szapiro no mesmo evento. “O Brasil chegou atrasado na festa, mas a festa acabou para todo mundo ao mesmo tempo.”

Escobari observou que as empresas listadas perderam de 30% a 50% de seu valor de mercado desde setembro do ano passado. “Não é catastrófico, mas é mais difícil levantar dinheiro”, disse o head da América Latina do General Atlantic.

Nada disso tira o sono do Steffens, que busca os ativos para investir como quem procura uma agulha no palheiro. No ano passado, por exemplo, analisou 300 empresas e fez cheques para apenas três.

Além disso, ele “caça” empresas fora do radar dos principais fundos de venture capital por preços que considera justos. “Se percebo que o valuation está lá em cima, eu não participo”, diz Steffens. “É raro entrar em um deal competitivo.”

Outra característica da Oria Capital é ser um fundo ativista. “Se você não quer um fundo para ficar te enchendo o saco todo dia, não escolha então a Oria”, afirma Steffens. “A gente vai incomodar. Não é só reunião de conselho a cada trimestre.”

Antes de investir, a Oria faz uma minuciosa due dillegence e prepara um plano de 100 dias para ser implementado após o aporte. “Nos envolvemos na gestão, na estratégia e na escolha dos executivos”, diz Steffens. “Muitas vezes, na primeira reunião de conselho, sei mais do que vários conselheiros.”

Nesta entrevista ao Café com Investidor, que você assiste no vídeo abaixo, Steffens fala em detalhes da tese de investimento, comenta sobre o quarto fundo, analisa como enxerga o momento do mercado de venture capital e explica sua estratégia de saída, que vai além do IPO.

Steffens conta também sua trajetória profissional, que começou com estagiário da Datasul, na década de 1980, de onde ele saiu como CEO para criar a Oria Capital. Assista a mais um episódio do Café com Investidor: