Tradicionalmente engessado, o setor da construção civil está na mira das startups brasileiras na busca por inovação. Uma dessas empresas é a Ambar, que atua com a venda de módulos pré-montados e com uma plataforma de gestão de obras. Nesta quinta-feira, 23 de dezembro, a construtech está anunciando um aporte de R$ 204 milhões.

O investimento Série C é liderado pelos fundos Echo Capital e Oria Capital, e conta ainda com a participação do TPG Capital e da Argonautic Ventures – que já haviam investido na companhia em rodadas anteriores.

No total, desde o início da sua operação, em 2013, a startup fundada por Bruno Balbinot e Ian Fadel captou R$ 360 milhões. Com sede em São Paulo e operação em São Carlos (SP), a empresa vai usar o novo cheque para financiar o crescimento nas duas vertentes em que atua.

Na primeira delas, a Ambar fornece peças pré-montadas – como paredes e instalações hidráulicas - para facilitar o processo de construção de casas. “Uma parede de um banheiro é sempre uma parede de um banheiro. Uma cozinha é sempre uma cozinha. Não tem mudança. O que a gente faz é transformar isso em peças, como um grande Lego”, diz Balbinot, ao NeoFeed.

Essa é uma tendência em alta no mercado. “A construção modular é a industrialização e digitalização da construção de edificações”, diz Rui Barbosa de Souza, professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário FEI. “Com isso, há muitos benefícios, como a redução no tempo de entrega da edificação e a redução drástica do desperdício.”

Em software, seu segundo braço de atuação, a Ambar conta com uma plataforma de gestão da obra, que faz o controle do acesso dos funcionários e de toda a documentação necessária. A ideia é digitalizar esses processos para evitar práticas como as intermináveis trocas de e-mails entre engenheiros, arquitetos, projetistas e outros profissionais envolvidos na construção.

Além dos sistemas ofertados no modelo de software como serviço, a construtech gera receita com a venda dos itens pré-montados. Esse portfólio está centrado no mercado residencial e em ofertas B2B. A carteira tem mais de 500 clientes e 2 mil obras, com nomes de peso como Tenda, Cyrela, MRV e Pacaembu, entre outros.

A Ambar, que já entregou 600 mil unidades residenciais desde a sua fundação, estuda entrar no mercado B2C, assim como expandir sua atuação geográfica para atender clientes em outros países. Não há, no entanto, previsão de quando esses passos serão dados.

Com um time de 450 funcionários, em 2021, a empresa registrou alta de 95% na receita, cujos valores não são revelados. A previsão é crescer 70% em 2022.

Da linha de montagem ao ecossistema

A Ambar surgiu no mercado após uma experiência de Balbinot em outra indústria tradicional, que, diferentemente da construção civil, está em ritmo acelerado de transformação. Durante mais de uma década, o empresário trabalhou na Volkswagen. Foi de lá que veio a inspiração para criar a startup.

Balbinot queria levar o modelo de produção de um carro para a construção civil. O plano era usar peças prontas e transformar o setor numa gigantesca linha de montagem, na qual cada peça se encaixaria sem que fosse preciso construir algo do zero e diferente a cada vez.

O desafio para escalar o negócio está justamente em mudar a percepção do mercado sobre a necessidade dessas transformações. “Vender tecnologia para construtoras ainda é algo muito difícil. É um setor que se move devagar, por ser muito tradicional”, diz Balbinot.

Bruno Balbinot (à esq.) e Ian Fadel, fundadores da Ambar

Outra missão é se diferenciar no mercado. Isso porque a competição já está acirrada. Um dos nomes nessa disputa é a desenvolvedora de softwares Softplan, que conta com uma unidade dedicada para o setor de construção civil. Chamada de Sienge, a operação já tem 3,6 mil clientes.

Nesse contexto, Balbinot diz que a estratégia da Ambar é transformar sua plataforma numa espécie de ecossistema, em que projetistas, engenheiros, arquitetos e demais funcionários da obra possam se comunicar e acessar documentos necessários para a obra – como plantas, guias de pagamento, licenças e demais contratos.

A ideia é que tudo seja ofertado de forma personalizada. Ou seja, o terminal visto pelo arquiteto será diferente da plataforma usada pelo projetista. O plano é facilitar a experiência de cada parte envolvida na construção. No fim, o contratante do software teria um controle maior e mais organizado sobre a operação.

Balbinot afirma que, com o tempo, a intenção é expandir ainda mais as funcionalidades para que a plataforma deixe de ser apenas um centro de controle da obra. Um dos planos, ainda sem data para sair do papel, é incorporar um marketplace dentro do software para conectar fornecedores de materiais com construtores.