A temporada de resultados do primeiro trimestre está prestes a começar e a maioria dos investidores está ansiosa para saber uma coisa: qual foi o desempenho das companhias ligadas à commodities.
A curiosidade é justa. Com a demanda global em alta, a quebra das cadeias de suprimento e a guerra da Rússia contra a Ucrânia, os preços das commodities atingiram patamares elevados neste começo de ano. Isso resultou até em um robusto fluxo de investidores de volta à B3, principalmente estrangeiros, pelo fato de a bolsa brasileira ter grandes nomes expostos a commodities.
O minério de ferro, por exemplo, registrou uma cotação média de US$ 142,00 a tonelada nos primeiros três meses do ano, alta de 29% em relação ao valor apurado no quarto trimestre. No caso do mercado de celulose, a cotação da celulose de fibra curta (HW) no mercado chinês, principal comprador do produto, teve valorização de 13% em base trimestral, para US$ 643,00 a tonelada.
Mesmo diante deste cenário positivo, os analistas do Bank of America estão cautelosos quanto aos números que alguns dos principais nomes do setor de commodities da bolsa vão apresentar. Para eles, a maioria vai registrar queda de Ebitda em relação ao quarto trimestre.
A única exceção é a CSN, e por influência de itens não recorrentes. Nas projeções dos analistas do banco americano, a companhia deve apresentar um crescimento de 17% do Ebitda entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022, para R$ 4,4 bilhões.
O relatório destaca que os resultados da área de mineração do grupo devem compensar o fraco desempenho da divisão de siderurgia. O Ebitda também deve se beneficiar da reversão de itens não recorrentes que afetaram a realização dos preços de minério de ferro no quarto trimestre.
Sob essa perspectiva, os analistas mantiveram a recomendação de compra para as ações da CSN, mas reduziram o preço-alvo de R$ 53,00 para R$ 48,00.
Na outra ponta, os analistas Caio Ribeiro, Leonardo Neratika, Guilherme Rosito e George Staphos ressaltam que cada companhia tem um motivo distinto para explicar o recuo do Ebitda.
A Vale, por exemplo, foi prejudicada pela queda no volume de exportação de minério de ferro, em função das fortes chuvas que atingiram suas operações. A expectativa é de uma contração de 36% no volume vendido em base trimestral e 8% na anual, para 60 milhões de toneladas. Apesar disso, os analistas esperam um recuo de apenas 4% do Ebitda, para US$ 6,5 bilhões.
“Os preços maiores do minério de ferro, com a referência subindo 29% em base trimestral, devem compensar [a queda do volume], junto com a maior realização de preços, por conta das menores taxas de frete e os efeitos positivos dos mecanismos de precificação”, destaca um trecho do relatório.
O preço-alvo da ação da principal mineradora do País e uma das maiores do mundo foi revisado de R$ 128,00 para R$ 107,00. A recomendação foi mantida como neutra.
Já as empresas do setor de papel e celulose devem apresentar uma tendência parecida a da Vale, com a queda de volume exportado sendo parcialmente compensada por preços mais elevados dos produtos.
Esta situação, combinada com o aumento dos custos com produtos químicos e combustíveis, despesas de manutenção e valorização do real frente ao dólar devem fazer a Suzano ter uma queda de 20% do seu Ebitda, em relação ao quarto trimestre, para R$ 5 bilhões. O preço-alvo das ações foi de R$ 93,00 para R$ 91,00, mas a recomendação é de compra.
No setor de siderurgia, os analistas do Bank of America afirmam que os custos com matéria prima devem continuar pesando sobre as companhias. A expectativa é de queda na receita líquida por tonelada no primeiro trimestre, embora a guerra da Rússia contra a Ucrânia fez com que os preços se recuperassem, com os efeitos sendo vistos nos resultados do segundo trimestre.
Apesar de reconhecerem que a Gerdau tem condições de se proteger da alta dos custos, por ter maior flexibilidade em suas operações e menor exposição a carvão e minério de ferro, os analistas estimam que o Ebitda deve recuar 11% em base trimestral, para R$ 5,3 bilhões, por conta do enfraquecimento do mercado brasileiro no período.
Ainda assim, os analistas do Bank of America elevaram o preço-alvo das ações da Gerdau, de R$ 48,00 para R$ 50,00, em meio ao bom momento de suas operações no exterior.