No fim de agosto deste ano, a Conductor foi rebatizada como Dock. Com origem em uma divisão lançada em 2018, a nova marca traduziu a transformação da empresa nesse intervalo. No período, a processadora de cartões encorpou seu portfólio e passou a investir no mercado de banking as a service.
Agora, a companhia brasileira está trazendo um novo nome para reforçar seu foco nesse segmento. A Dock anuncia nesta quarta-feira a aquisição da BPP, empresa antes conhecida como Brasil Pré-Pagos e que também atua na oferta da infraestrutura por trás de produtos e serviços financeiros.
“Com a BPP, vamos ter mais escala e ganhos de eficiência”, diz Antonio Soares, CEO da Dock, ao NeoFeed, sobre o acordo, cujos termos financeiros não foram revelados e que ainda depende de aprovação do Banco Central. “E vamos acelerar o nosso time to market.”
O acordo cria, de fato, alguns atalhos para a companhia. Fundada em 2012, a BPP é uma Instituição de Pagamento autorizada pelo Banco Central, enquanto a Dock ainda está em processo de aprovação junto ao BC para atuar nesse modelo.
A BPP também é uma participante direta do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), plataforma que viabiliza as operações de participantes indiretas no Pix. Desde novembro de 2020, quando o BC lançou o Pix, a empresa já realizou mais de 100 milhões de transações e movimentou mais de R$ 4,5 bilhões.
“Ao comprar a BPP, estamos reduzindo um intermediário e passamos a ser um participante direto no SPI”, observa Soares. “E, uma vez que tivermos a aprovação para atuar como Instituição de Pagamento, podemos aproveitar o fato de que a BPP já tem todas as conexões e integrações necessárias com o BC.”
Chief Product & Technology Officer da Dock, Frederico Amaral estima que a empresa vai encurtar entre seis e nove meses esse processo. E aponta outros benefícios com a integração da BPP ao guarda-chuva da companhia, entre eles, a possibilidade de vendas cruzadas.
“Parte do racional da aquisição também está no fato de ter acesso ao quadro de 150 profissionais da BPP”, afirma Amaral. “É um time extremamente capacitado, que já lida com o BC no dia a dia, com uma tecnologia que já foi testada e que, só no Pix, faz mais de 1 milhão de transações diárias.”
O executivo destaca ainda o fato de a BPP ser uma das poucas instituições no País com licença de Visa Travel Money, que permite realizar transações em outras moedas. “É uma área na qual temos bastante interesse”, diz Amaral, que brinca: “Com a BPP, vamos ter um playground para criar diversos produtos.”
À parte da aquisição, a Dock já tem uma esteira de novos produtos em desenvolvimento. Um dos projetos-piloto em curso envolve o uso de suas licenças para que seus clientes possam emitir cartões de crédito.
Embora não revele detalhes, Amaral diz que a empresa também está desenvolvendo soluções dentro do conceito de “Buy Now, Pay Later”, além de estar atenta a segmentos como as criptomoedas. “Estamos esperando para entender como o BC vai lidar com essa área para entrar firme nesse mercado”, afirma.
Roteiro internacional
Hoje, a Dock tem uma base de clientes que inclui nomes como C6 Bank, Bitz, Conta Simples, BMG e Pernambucanas. Essa carteira envolve cerca de 38 milhões de contas digitais ativas. A empresa atua em quatro áreas: banco digital, emissão e processamento de cartões, adquirência e riscos e compliance.
Com esses números e um volume anual de US$ 50 bilhões em transações processadas, no fim de 2020, a Dock captou US$ 170 milhões em uma rodada com a participação de fundos como Temasek, Viking Global Investors e Sunley House Capital. A companhia já tinha a Visa entre seus investidores.
O próximo passo da empresa deve ser uma abertura de capital, que pode acontecer ainda este ano, nos Estados Unidos. Na oferta, coordenada pelos bancos Goldman Sachs, J.P. Morgan, Bank of America e Credit Suisse, de acordo com a Reuters, a empresa buscaria captar mais de US$ 600 milhões.
Questionados pelo NeoFeed, os executivos da Dock não comentam esses planos. Mas destacam um outro roteiro, também internacional, que está sendo cumprido pela empresa. Como parte desse plano, há dois meses, a companhia inaugurou uma operação no México.
“Estamos montando um time e fazendo as adequações necessárias para operar no país e já temos clientes também na Colômbia e no Peru”, afirma Soares. Amaral acrescenta: “Temos matéria-prima para ser um player global de infraestrutura de serviços financeiros.”
Parte dessa ambição tem como ponto de partida um estudo realizado pela consultoria Americas Market Intelligence, sob encomenda da empresa. De acordo com a pesquisa, o mercado de banking as a service em países como Brasil, México e Colômbia deve movimentar US$ 7 bilhões neste ano. E chegar a US$ 14 bilhões em 2025.
“Muitos países da América Latina estão copiando a agenda de mudanças de regulação no mercado financeiro que o Brasil vem implantando há alguns anos”, diz Fabricio Winter, sócio da consultoria Boanerges & Cia. “Então, há bastante oportunidade na região. O que já é mais difícil de afirmar no plano global.”
Enquanto planeja ganhar escala fora do Brasil, no País, a Dock já tem uma série de concorrentes no espaço do banking as a service. A lista inclui, por exemplo, a FitBank, startup que já atraiu investidores como J.P. Morgan e CSU. A própria CSU está estruturando sua oferta nesse segmento.
A relação passa ainda pelo Magazine Luiza, que comprou a Hub Fintech, em dezembro de 2020, por R$ 290 milhões, e por empresas do mercado bancário como BV, Banco Original e Citi.
Um dos nomes mais recentes nesse mercado é a Porto Seguro, que, nesta semana, anunciou a aquisição de uma fatia de 74,6% da Atar, fintech catarinense que também atua sob esse conceito.