Um portfólio de mais de 55 mil produtos, destinados aos mais variados segmentos e com diferentes aplicações, que incluem clipes cirúrgicos, discos abrasivos e filtros industriais até esponjas de limpeza e o famoso bloco adesivo Post-it.
Fundada em 1902, e avaliada em US$ 114,4 bilhões, a 3M fez seu nome entre indústrias e consumidores investindo nesse catálogo extenso. Mas, desde os primeiros meses de 2020, a companhia americana tornou-se essencial por conta de uma linha em particular: suas máscaras.
“Esses produtos são absolutamente críticos contra a Covid-19”, afirma Marcelo Oromendia, CEO da 3M no Brasil, em entrevista ao NeoFeed. “E não podemos receber uma ligação de governos e indústrias essenciais e dizer, desculpa, não temos máscaras. Precisamos encontrar uma forma de fornecê-las.”
Veterano de casa, há 36 anos na 3M, o executivo argentino teve que encarar esse desafio pouco tempo depois de assumir o comando da operação brasileira, em janeiro de 2020.
O cenário crítico, no entanto, não era exatamente uma novidade para Oromendia, que vinha de uma passagem de dois anos na China. “A vantagem é que essa era a quinta vez que eu assistia a esse filme”, diz.
Além de vivenciar os impactos iniciais do vírus no país da Grande Muralha, ele desembarcou no Brasil com uma lista do que precisava ser feito a partir dos aprendizados da 3M no sudeste asiático, nos Estados Unidos e na Europa.
Um dos primeiros passos foi ajustar a produção para atender ao aumento súbito e exponencial da demanda. A fábrica de Itapetininga (SP), que concentra a fabricação das máscaras e outros equipamentos de proteção individual (EPIs), passou a operar em três turnos, 24x7.
“Em três meses, nós quadruplicamos a produção das máscaras”, ressalta o executivo. Embora não revele números consolidados da produção local, ele cita o salto observado na operação global, que passou de uma capacidade anual de 500 milhões de máscaras, antes da pandemia, para 2,3 bilhões.
Adaptações foram feitas nas outras cinco fábricas da 3M no País, o que envolveu diversas iniciativas. Entre elas, a mudança no mix. Além dos EPIs, foram priorizadas linhas de produtos como desinfetantes hospitalares e fitas adesivas. Hoje, a capacidade instalada gira em torno de 65% a 70%.
Uma parte dessa lição de casa já tinha sido entregue antes dessas medidas. Há quatro anos, a subsidiária iniciou um programa para ampliar o número de fornecedores locais de matéria-prima e reduzir a dependência de importações, dado que, 85% dos produtos ofertados pela 3M no Brasil são produzidos no País.
“Quando a pandemia chegou, nós tínhamos estoque”, diz Oromendia, explicando como a companhia driblou as interrupções na cadeia global de suprimentos que afetaram uma série de indústrias. “E nós certificamos fornecedores alternativos e passamos a comprar mais, dividindo o nosso risco.”
Marcelo Oromendia, CEO da 3M no BrasilNa outra ponta, a empresa também definiu prioridades. “Se um varejista de materiais de escritório amplia os pedidos de Post-it, nós vamos avaliar”, ressalta. “Agora, se é um hospital, um governo ou a Fiocruz que precisa de uma fita para fechar as caixas das vacinas, não dizemos não.”
Isso não impediu que houvesse alguns ruídos nessas relações. No fim de março de 2020, por exemplo, o governo de São Paulo confiscou 500 mil máscaras na sede da empresa em Sumaré. A ação foi tomada com base na lei federal 13.979, que tratava de medidas para enfrentamento da pandemia.
“Foi uma decisão que nos surpreendeu, mas hoje, para mim, é parte da história”, afirma Oromendia. “Três dias depois, nós vendemos 1,3 milhão de máscaras para o governo estadual e mais 2 milhões para o governo federal.”
Superado o caso, assim como na produção, as vendas das máscaras e respiradores cresceram quatro vezes em 2020 no País. Mas, no Brasil, eles não foram o único destaque.
A comercialização das fitas adesivas para fechar embalagens avançou 40% na esteira da explosão das compras e pacote do e-commerce. Já as vendas das esponjas da marca Scotch brite tiveram um aumento de 25%.
“Da aplicação de limpar e de lavar louça, as esponjas mudaram para um conceito de proteger as famílias”, conta Oromendia. “A desinfecção nos hospitais, onde cada cama virou uma UTI, também mudou drasticamente.”
Nesse cenário, o faturamento da 3M no Brasil cresceu 4,6%, em 2020, para R$ 4,5 bilhões. Entre outubro e dezembro, a subsidiária registrou um salto de 21%, o maior em termos percentuais dentro de toda a operação da companhia.
Já a receita global teve um ligeiro avanço, de 0,1%, no ano passado, para US$ 32,1 bilhões. Entretanto, o maior reflexo do papel exercido pela 3M na pandemia foi sentido no mercado de capitais. Desde 16 de março de 2020, quando registrou sua cotação mais baixa, as ações da empresa acumulam uma valorização de 58,1%. Em 2021, a alta observada é de 12,9%.
Novo mapa
À parte dos resultados contabilizados, Oromendia destaca outro componente ressaltado pela Covid-19, que vai além dos limites da 3M. “A pandemia mostrou que a globalização é como ir à Disney. É uma ilusão”, diz. “Quando o Brasil precisou de produtos que importava, muitas economias se fecharam.”
Sob essa constatação, ele ressalta que essa situação expôs a necessidade de fortalecer as cadeias de suprimento regionais ou locais. O que abre portas para as empresas brasileiras e também para a operação local da 3M.
“É incrível como o Brasil ficou tanto tempo olhando para um mercado de 220 milhões de pessoas”, afirma. “Quando, na verdade, tem um mercado de 600 milhões de consumidores na América Latina.”
Hoje, a 3M Brasil já exporta cerca de 15% de sua produção para a América Latina e países como Estados Unidos, Alemanha e China. A lista inclui itens como protetor auditivo, fitas isolantes e produtos de ortodontia.
O plano é ampliar essa fatia. E uma das principais apostas para que isso aconteça é justamente a linha de máscaras. No mapa da 3M na América Latina, além do Brasil, a linha também é produzida no México.
“Hoje, nossa prioridade é o Brasil. Mas, quando essa crise acabar, vamos ter muita capacidade instalada”, diz o executivo, que projeta destinar cerca de 60% da produção local para fora do País. “Teremos outras pandemias e o mundo vai precisar de um banco de máscaras.”
Professor do Insper, Marcelo Nakagawa entende que há um cenário favorável para essa estratégia. “Vai haver uma redistribuição da cadeia de fornecimento de EPIs, que hoje é muito concentrada na China”, diz. “Essa demanda vai perdurar e é natural que o Brasil seja um polo para atender a América Latina.”
Antes de ocupar esse espaço, a 3M Brasil já está ampliando seu pacote em outras fronteiras. Desde agosto, a empresa está exportando uma nova linha de fitas crepe para países da América Latina. O próximo passo é levar o produto para a Europa.
O faturamento da 3M no Brasil cresceu 4,6%, em 2020, para R$ 4,5 bilhões
A fita foi desenvolvida por uma das funcionárias brasileiras da 3M, dentro da cultura dos “15%” disseminada na empresa, na qual, todo profissional pode usar esse percentual do seu tempo para tocar algum projeto próprio no escopo da companhia.
Aparentemente simples, como boa parte do portfólio da 3M, o produto traz, no entanto, alguns diferenciais cada vez mais valorizados no mercado. Entre eles, o fato de ser produzida a base de água, sem o uso de solventes.
“Cada produto que desenvolvemos tem um componente de sustentabilidade”, diz Oromendia. “Se for um produto viável comercialmente, mas não tiver esse ingrediente, nós não lançamos”, afirma o executivo, acrescentando que esses princípios vão guiar cada vez mais os próximos lançamentos.
Ele diz que ampliar a oferta na área de limpeza, especialmente com novas esponjas, é uma das prioridades para o portfólio neste ano. Assim como os lançamentos no segmento de EPIs, tanto para hospitais como para indústrias.
Nessas e em outras categorias, a 3M seguirá apostando alto na inovação produzida localmente. Com um dos cinco principais laboratórios da companhia no mundo, em 2020, a subsidiária destinou 4,5% da sua receita à pesquisa e desenvolvimento e produziu 53 patentes.