O mercado de tecnologia passa por um período de ressaca em 2022. Depois da bonança de capital injetado em startups durante o ano passado, os investidores agora estão mais cautelosos em relação a suas apostas. Mas, aparentemente, não no early stage.
A prova mais recente veio da Latú, insurtech brasileira criada em julho deste ano e que captou um aporte de US$ 6,7 milhões numa rodada pré-seed liderada pela Monashees e pela CRV e que contou também com investidores como ONEVC, Latitud e SVAngels.
Alguns empreendedores conhecidos no mercado de tecnologia e que atuam como investidores-anjo também apostaram na companhia. Neste grupo estão nomes como Simon Borrero, Sebastian Mejia e Felipe Villamarin, da Rappi; Igor Mascarenhas, da Pier; e Enrique Villamarin, da Tul.
“A falta de uma apólice de seguro é um limitador no crescimento das companhias”, afirma Paola Neira, fundadora e CEO da Latú Seguros, em entrevista ao NeoFeed. “Os seguros ajudam as empresas a crescer porque mantêm as bases do negócio protegidas, limitando os riscos para os clientes.”
A injeção de capital vai impulsionar a operação da Latú, startup que atua com o fornecimento de cobertura de seguros para empresas latino-americanas. Ainda bastante nova no mercado e com somente oito funcionários, a Latú está terminando de ajustar sua operação, principalmente no que diz respeito às negociações de parcerias com seguradoras. A expectativa é de que a operação esteja apta para começar a operar, já com vendas dos seguros, ainda neste ano.
Paola conta que teve a ideia do negócio ainda em abril, mas a operação só saiu do papel de fato três meses depois. Antes de fundar a startup, a empreendedora colombiana de 29 anos passou pela The Abraaj Group, gestora de private equity com sede em Dubai, e no WeWork. Mais recentemente trabalhou na operação brasileira da Rappi.
O dinheiro será usado na contratação de profissionais, principalmente engenheiros de dados. A ideia é reforçar a equipe composta atualmente por oito funcionários com algo entre 30 e 40 contratações. O valor captado será usado para o desenvolvimento de novos produtos e ferramentas para o negócio.
Quando estiver em operação, a insurtech será um intermediário entre PMEs e seguradoras. A ideia é facilitar a contratação e o uso do seguro quando necessário. Neste trabalho, a companhia pretende colher dados dos clientes e montar uma proteção individualizada levando em consideração os riscos de cada operação.
O diferencial do negócio é que, além de fazer o meio de campo, a insurtech também vai monitorar constantemente as vulnerabilidades de cada empresa contratante para informá-las sobre novos riscos. “Isso permite corrigir falhas antes que elas causem problemas”, afirma Paola.
Serão seis tipos de seguros oferecidos. Os produtos vão desde coberturas para problemas relacionados com falhas na segurança digital até a proteção para executivos contra reclamações tributárias, trabalhistas e regulatórias. A cobertura pode chegar até R$ 50 milhões, dependendo do caso.
Em termos mais técnicos, a Latú posiciona seu modelo de negócios como uma Managing General Agent (MGA), uma entidade empresarial que pode administrar programas de seguro e negociar contratos em seu nome. Este tipo de operação foi regulamentada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) no fim do ano passado.
Em relação a competição, a Latú rivaliza com as seguradoras e contra outras startups. Entre elas está a chilena BetterFly, que no começo deste ano captou US$ 125 milhões em uma rodada de Série C liderada pela Glade Brook Capital. Em uma escala menor, as startups Mutuus e IZA também contam com produtos voltados para PMEs.
Fora da curva
O aporte de US$ 6,7 milhões na operação da Latú feito em uma rodada pré-seed representa um investimento fora da curva no mercado de capitais. O valor é maior até mesmo do que muitas captações realizadas em rodadas seed, em que as startups já estão em estágios mais avançados de seus negócios.
"Os melhores empreendedores continuam saindo aos mesmos valuations de antes do seed porque tem muito dry powder nos fundos", diz um investidor ao NeoFeed. "Agora, das séries A em diante, deu uma amassada nos valuations."
Um estudo realizado pela Distrito com dados do ano passado, por exemplo, aponta que as startups brasileiras que receberam injeções de capital em rodadas de seed captaram, em média, US$ 1,6 milhão – 37% a mais do que em 2020 e o dobro do que era aplicado pelos investidores em 2018. A previsão para este ano é de que o valor médio para investimentos seed fique em torno de US$ 2,3 milhões por rodada.
A Latú não é a única startup que foge à regra do conservadorismo dos investidores em 2022. Em março, a Latitud captou US$ 11,5 milhões em seed money. Neste mês, a Monashees participou de rodadas de US$ 10 milhões na fintech NG.CASH e de US$ 8,6 milhões da Moises, que opera com um aplicativo voltado para músicos.