Aos 24 anos, o empreendedor Mario Augusto Sá reuniu um time de peso de investidores da NG.CASH, fintech que opera com uma carteira digital voltada para a geração Z. No ano passado, convenceu a Stone a investir US$ 400 mil na operação que ainda nem havia entrado no ar. Mais de um ano e 900 mil usuários cadastrados depois, Sá agora está reforçando esse captable com duas gestoras de alto calibre do mercado.

Nesta terça-feira, 2 de agosto, a fintech anuncia a captação de um aporte de US$ 10 milhões, em uma rodada seed pela Andreessen Horowitz, ou a16z, como também é conhecida a icônica gestora americana, e pela Monashees. O investimento contou ainda com participação da 17Sigma e de fundadores de startups como Brex, Rappi, Movile e Wildlife.

Fundada em fevereiro do ano passado no Rio de Janeiro, a NG.CASH opera com uma carteira digital voltada para um público de 10 a 24 anos. “A gente resolve o problema de acesso a dinheiro eletrônico, principalmente para menores de idade”, diz Sá, cofundador e CEO da NG.CASH em entrevista ao NeoFeed.

Em pouco mais de um ano de operação, o serviço já conquistou 900 mil usuários que utilizam o aplicativo para realizar transferências por PIX, pagar boletos ou quitar assinaturas utilizando um cartão pré-pago, que pode ser físico ou virtual e leva a bandeira Elo, para ser utilizado em maquininhas e caixas eletrônicos.

O crescimento foi todo orgânico e obtido somente com capital recebido na rodada pré-seed. A partir de agora, a meta é crescer essa base em 400% nos próximos dois anos. Se alcançar esse volume, a NG.CASH terá algo em torno de 4,5 milhões de usuários.

A captação anunciada nesta terça-feira é essencial nesse plano. O dinheiro será usuado para ampliar a equipe atual de 45 funcionários, que deve, no mínimo, dobrar nos próximos 12 meses. Uma parte do capital também será direcionada aos investimentos em tráfego pago, para impulsionar a adesão à plataforma.

O principal destino do montante, no entanto, será incrementar o aplicativo com novas funções. A intenção é turbiná-lo com uma série de produtos financeiros que vão desde poupança até aplicações em CDI e CDB. Um marketplace para a compra de NFTs também está no radar. As soluções serão ligadas a um parceiro financeiro, cujo nome é mantido em sigilo.

A NG.CASH aposta num modelo que já ganhou espaço no exterior. E esse foi um dos pontos que pode ter sido decisivo para que a Andreessen Horowitz entrasse na rodada. Nos Estados Unidos, a companhia já participou de rodadas de captação de aportes das startups Current e Greenlight.

As duas empresas trabalham com cartões que são disponibilizados para que crianças e adolescentes possam realizar transações online – sempre com a autorização dos pais e responsáveis. A Current está avaliada em US$ 2,2 bilhões, enquanto a Greenlight teve seu valor de mercado alçado a US$ 2,3 bilhões na última rodada.

“A Andreessen Horowitz já havia visto o crescimento deste tipo de negócio no exterior com duas empresas que já se tornaram unicórnios”, diz Sá, que afirma que as conversas com a gestora começaram ainda em abril. “Eles também observaram o que a gente estava fazendo aqui e o crescimento que tivemos de forma orgânica.”

No Brasil, o serviço vai competir diretamente principalmente com empresas do setor bancário que já lançaram soluções digitais voltadas para o público adolescente. Bancos como Inter, C6 e Next já contam com produtos desse tipo. “Tem concorrentes, mas ainda tem muito espaço para crescer”, afirma Sá.

Enquanto não amplia o seu portfólio, o que está previsto para ter início ainda no fim desse ano, a NG.CASH explora duas formas de receita. A primeira se dá com os custos embutidos em pagamentos de boleto, recargas de celular e outras operações financeiras e nas taxas interchange em cima do uso de cartões de crédito cadastrados na carteira digital.

A outra fonte de receita é chamada de NG Brands e explora parcerias com outras empresas para oferecer descontos e cupons para usuários do serviço ofertado pela fintech. Entre as parceiras estão nomes como Rappi, ClickBus, Buser, Nike, Havaianas e Aliexpress, entre outras.

Deficitária, a empresa não tem uma projeção de quando se tornará lucrativa. De acordo com Sá, no entanto, isso deve acontecer antes da captação de uma rodada de Série B. Não há um prazo para realizar o próximo aporte, que em tendência, seria de uma rodada ainda de Série A.

A expectativa é de que os próximos aportes movimentem cifras maiores, o que pode ser um desafio já que a rodada de US$ 10 milhões já representa um valor bastante elevado para uma captação seed. Segundo dados da Distrito, os investimentos nesse estágio captados por startups brasileiras no ano passado giravam em torno de US$ 1,6 milhão por aporte.

Para Sá, que admite que o valor captado nessa rodada está acima da média, o montante reflete o momento em que a empresa se encontra. “Já estávamos em estágio semelhante ao de empresas de Série A, mas sem um seed”, afirma. “A gente também já tinha um modelo que havia se provado no exterior.”