Boston - Ao lado de Pedro Franceschi, Henrique Dubugras trilhou um caminho ainda pouco percorrido por boa parte dos empreendedores à frente das startups brasileiras. Primeiro, a dupla, com 16 e 17 anos, respectivamente, criou a Pagar.me, vendida para a Stone, em 2016.

A grande tacada, porém, veio na sequência. Um ano depois, capitalizados, eles fundaram a Brex, startup de gestão de despesas corporativas, no Vale do Silício. E, desde então, atraíram US$ 1,5 bilhão de investidores do quilate da Greenoaks, Tiger Global, Global Founders Capital e Base10 Partners.

Com esses sócios no captable, a Brex foi avaliada em US$ 12,3 bilhões, e Dubugras, nessa trilha, ingressou no ranking Forbes em 2022, com uma fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão. Mas, segundo ele, o ponto de partida foi essencial para que ele e Franceschi cumprissem esse trajeto.

“A Brex nunca teria dado certo se não fizéssemos, primeiro, uma empresa que deu certo no Brasil”, afirmou Dubugras, em um dos últimos painéis da edição 2025 da Brazil Conference, realizada em Boston, nos Estados Unidos.

“Os Estados Unidos são como a Fórmula 1. Você tem os melhores engenheiros para montar o seu carro, o melhor cara de vendas”, prosseguiu. “E o Brasil é uma corrida de rua: tem buraco no asfalto, não tem placa. Mas é igual para todo mundo.”

Quando questionado sobre as principais diferenças na comparação com o mercado americano, onde a Brex nasceu e ganhou escala, ele ressaltou que, no Brasil, tudo é mais difícil – de montar uma empresa até a contabilidade e o volume de processos trabalhistas.

“Só que tudo é mais difícil para todo mundo. E a competição é muito mais tranquila, mais light”, disse Dubugras. Para ilustrar, ele citou que quando a Pagar.me lançava funcionalidade, seus concorrentes levavam meses para copiar.

Já nos Estados Unidos, enquanto tudo funciona na contramão das adversidades brasileiras - a velocidade na abertura das empresas é um exemplo -, a resposta dos rivais, na mesma medida, também é muito mais rápida. Além dos recursos muito mais fartos à disposição dessas startups.

“Quando lançávamos algo, na semana seguinte, o concorrente já tinha copiado”, afirmou o cofundador da Brex. “E tinha uma época na nossa indústria em que cinco caras levantaram US$ 1 bilhão. Então, tudo é mais concorrido.”

Fundador da Stone e primeiro investidor de Dubugras e Franceschi, por meio da Arpex Capital, André Street também participou do painel. E adicionou um outro mapa a essas comparações: o mercado europeu, por meio da Teya, outra fintech da sua lavra.

“Nossa primeira operação foi na Islândia, onde é proibido mandar gente embora e há uma série de convenções normais nos EUA que não são aceitáveis para a cultura local”, disse Street. “Portugal é difícil, é um Brasil com menos pressa, a Itália também. Então, a Europa é muito complexa de fazer negócio.”

Nesse emaranhado, assim como seu “pupilo” Dubugras, Street também enxerga vantagens em ter passado por todos as dificuldades de empreender num mercado como o brasileiro. Lições que, agora, parecem ter espaço para serem aplicadas no Velho Continente.

“Os problemas que os comerciantes têm lá é que são servidos por bancos grandes e lentos. São os mesmos desafios que o Brasil tinha na década passada”, afirmou. “Nossa grande vantagem é que nós trabalhamos o dobro. Então, colocamos uma pitada de brasileiros, uma de americanos, e o negócio engrenou.”

*O jornalista viajou  a convite da Brazil Conference