Boston - Realizada em um fim de semana em Boston, a Brazil Conference mudou de “casa” no domingo, 13 de abril. Da abertura, um dia antes, no Science Center, da Harvard University, a programação do segundo dia se divide entre dois prédios do Massachusetts Institute of Technology (MIT), separados por duas quadras.

Uma dessas instalações, o Wong Auditorium ficou lotado ao receber dois nomes de peso do mercado financeiro: Alex Behring, cofundador e sócio-diretor do 3G Capital, e Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da Constellation Asset Management.

Além dos conselhos de carreira para muitos dos estudantes brasileiros radicados nos Estados Unidos que formavam boa parte da plateia, a dupla reservou tempo para falar um pouco sobre os modelos e teses de investimentos de suas respectivas companhias. A começar por Bartunek.

“O que a gente aprende é que, para ganhar muito dinheiro, tem que investir no longo prazo”, disse Bartunek. “Ninguém ganha muito dinheiro em um ano. Mas em 30 anos é possível. Então, é preciso achar uma empresa que você consegue ficar no longo prazo.”

Nesse ponto, ele afirmou que o Brasil tem empresas com bastante estrada, que já passaram por todas as crises. E ressaltou um segundo elemento, comum a essas companhias, que compõem a tese da Constellation.

“Todas elas tratam muito bem e têm foco no cliente”, disse ele. “Obviamente, é importante ser eficiente, ter uma equipe boa. Mas, nós focamos muito nisso. Em empresas fanáticas pelos clientes e que têm um balanço sólido.”

Nessa direção, Bartunek reforçou que muitas empresas priorizam a eficiência e as métricas financeiras, e se esquecem do NPS (Net Promoter Score – índice que mede o nível de satisfação dos clientes). E apontou um outro equívoco do mercado, em sua avaliação.

“As pessoas falam muito da disrupção tecnológica, mas quem te disrupta é o cliente. Ele vai embora”, observou. “As pessoas odiavam os bancos, mas aí veio o Nubank, que hoje tem 120 milhões de clientes. A experiência da Shein, por exemplo, é muito melhor do que a experiência da Renner e da C&A.”

Apesar de destacar que empresas que se enquadram nessa tese costumam ser mais caras, Bartunek, aconselhou: “Invista no que está funcionando. É muito melhor do que comprar um negócio meio estragado para consertar. Para nós, isso tem dado certo.”

A tese do 3G Capital

Esse olhar, curiosamente, traz um contraste com a tese, já bastante conhecida, do 3G Capital, de mirar empresas em dificuldades financeiras e/ou operacionais. E que, por sua vez, como Alex Behring frisou, também é diferente quando comparada ao modelo de um private equity tradicional.

“Nós procuramos comprar um negócio a cada vários anos e sendo que nós mesmos somos os maiores investidores nessas transações e tendemos ficar no longo prazo”, disse Behring. Contra a abordagem tradicional de várias transações anuais, com maior volume de capital de terceiros e saídas em menor tempo.

“Nosso modelo é diferente quase por necessidade”, afirmou. Em um primeiro aspecto, ele citou o fato de a cultura de uma empresa normalmente ser dada por quem toca a operação, e não pelo dono. E que se você tiver 40 empresas diferentes, vai ter 40 culturas diferentes.

“Como nosso modelo envolve essa transformação, precisa ter muitas pessoas para alocar nessas empresas quando faz a aquisição. E elas precisam estar treinadas e acostumadas com o nosso modelo. Isso toma tempo”, complementou Behring.

Em mais um componente, além da carência de pessoas disponíveis, ele citou o fato de que, com uma proporção elevada de capital próprio e um olhar de longo prazo, não há tantos negócios bons que se encaixem nessa tese. E que seja possível comprar a um preço razoável.

A tese do 3G Capital converge, porém, com o olhar da Constellation em uma outra orientação. “É preciso ter dono, um acionista de referência de longo prazo ou alguém com essa visão”, disse Behring. “Porque, em muitas decisões, o benefício está muito lá na frente. E é preciso ter alguém com essa cabeça.”

Nessa mesma direção, Bartunek complementou: “A vantagem do dono é que ele toma decisão difícil”, afirmou. “Ele toma esse risco e pensa no longo prazo e, às vezes, uma corporation não toma. Então, também gostamos de empresa de dono. E de empresas familiares.”

* O jornalista viajou a convite da Brazil Conference