Boston - A expressão popular diz que se conselho fosse bom, não se dava, vendia-se. Mas era a opinião, a experiência e o conhecimento dos participantes que a audiência da 11ª edição da Brazil Conference, realizada no último fim de semana em Boston, nos Estados Unidos, buscava.

Enquanto o evento foi marcado pela já tradicional diversidade de painelistas - foram mais de 65 -, de Jorge Paulo Lemann e Armínio Fraga a celebridades como Sabrina Sato e Rodrigo Faro, duas questões deram o tom da edição deste ano. Seja nos 35 painéis realizados ou nos corredores do MIT e da Harvard University.

A primeira delas foi justamente a avalanche de conselhos - de carreira, empreendedorismo e afins - dados pelos palestrantes aos mais de mil inscritos. Um público formado, em sua maioria, por estudantes brasileiros radicados nas duas instituições e em outras universidades americanas.

Quem dividiu o protagonismo com essas dicas e recomendações foi a guerra comercial imposta por Donald Trump, que também foi onipresente nas apresentações e debates promovidos nessa agenda.

Confira abaixo alguns dos destaques da Brazil Conference 2025:

Como procurar um sócio

Fundador e CIO da Constellation Asset Management, Florian Bartunek sentou-se ao lado de Alex Behring, do 3G Capital, em um painel sobre investimentos e carreira. E, em uma das passagens, foi questionado sobre o dilema de encontrar o time de sócios ideal. E foi suscinto:

“Achar sócio é algo muito difícil. É a decisão mais importante da sua vida. É preciso ter alguém que pense mais como empresário, um pouco maior, que puxe os outros”, disse. “E tem que evitar os babacas, obviamente. Isso já é um grande negócio”, completou, arrancando risadas da plateia.

O poder da sedução

Quem também fez a audiência rir foi Henrique Dubugras, cofundador da Brex, avaliada em US$ 12,3 bilhões, ao contar a saga para convencer Pedro Franceschi a ser seu sócio na Pagar.me, a primeira fintech que os dois criaram, ainda adolescentes.

“O Pedro já era famoso e, um ano antes de a gente se conhecer, eu mandei um e-mail e ele meio que respondeu: não quero conversar com você. Passei um ano com raiva. Mas eu o admirava muito, então, fui estudar sobre ele e botei toda a minha sedução para conquistá-lo”.

No fim, amarrou o seu conselho: "Os dois programavam e tinham ambição, mas, na verdade, somos muito complementares. Um não ocupa o espaço do outro. É uma lição que aprendi cedo – você precisa achar alguém que admira, mas que é diferente de você.”

Convocação: voltem para casa

Fundador e chairman do BTG Pactual, André Esteves, tem dois filhos na Harvard University. Seus conselhos ganharam mais ênfase com um chamado para que os estudantes presentes voltassem ao Brasil quando concluíssem seus estudos.

“A boa notícia é que andamos muito nesses últimos 30 anos. As instituições estão mais sólidas do que nunca, os poderes não faltaram ao Brasil, o Congresso fez as reformas e a altivez do Supremo ajudou muito mais do que atrapalhou. O sucesso do Brasil só depende da gente. E quem está aqui nesse salão pode fazer uma tremenda diferença.”

Convocação: voltem para casa 2

O fundador do BTG Pactual estava na plateia do painel em que Diego Barreto, CEO do iFood, fez uma convocação na mesma linha.

“Nós precisamos de você. Os Estados Unidos não precisam. Volta para bater de frente com os problemas e ajudar a construir o país. Sua vida deu certo, a maioria de nós aqui é privilegiado. Não tem como dar errado. Você não vai ganhar nada ficando aqui, exceto talvez uma conta bancária”.

Conselho (até) de Buffett

Com empresas como QXO, XPO, Inc. e RXO Inc. no currículo, Brad Jacobs foi um dos nomes que passaram suas dicas na Brazil Conference. E a julgar pelo patrimônio de US$ 12,8 bilhões do empresário americano, elas foram bastante valiosas para os presentes.

“Meu conselho é, primeiro, encontre o que você realmente quer fazer na vida. Muitos dizem que querem ser bilionários. Mas será mesmo? Ser bilionário é superestimado”, disse Jacobs, que citou uma lição que teve, certa vez, em um jantar com o megainvestidor Warren Buffett.

“Ele disse que, uma vez que você tem algumas centenas de milhões, sua vida não muda mais”, contou, complementando: “Se você decidir ganhar dinheiro, não pensei que isso não é algo nobre. Mas é preciso se dedicar. Não é trabalho de meio expediente, nem integral. É estilo de vida e muito sacrifício.”

Guerra comercial e eleição no Brasil

A guerra comercial imposta por Donald Trump foi outra protagonista no evento. Em painéis e conversas nos corredores, as opiniões iam na linha da perda do soft power dos Estados Unidos ao “horror econômico, geopolítico e moral”, como disse Esteves, das tarifas.

Oliver Stuenkel, analista político e professor de Relações Internacionais, fez desse assunto o tema central da conversa com o jornalista Guga Chacra. E aqui também houve espaço para conselhos. Especialmente para o Brasil.

“Obviamente, é preciso preservar o que pode ser preservado com os Estados Unidos. Mas há uma urgência de ampliar as relações com a Europa e a Ásia. E esse debate também deve estar sempre à parte do debate ideológico interno.”

Nesse ponto, Stuenkel alertou sobre os impactos negativos que eventuais divergências ideológicas podem trazer. “O pior cenário seria se integrantes do atual governo americano participarem ativamente da eleição no Brasil em 2026. É preciso pensar sobre formas de se blindar”.

O jornalista viajou a convite da Brazil Conference