As ações da montadora francesa Renault caem 17% na Bolsa de Paris, renovando a mínima de 18 meses e marcando o pior desempenho diário desde março de 2020. O tombo veio após um lucro abaixo do esperado no primeiro semestre de 2025, a revisão das metas para o ano e o vácuo de liderança deixado pela saída recente do CEO Luca de Meo.
Em comunicado divulgado na noite de terça-feira, 15 de julho, a companhia informou que as vendas de junho foram mais fracas do que o previsto e reduziu sua previsão de margem operacional para o ano, de "igual ou superior a 7%" para 6,5%". Também informou um fluxo de caixa livre (free cash flow) de apenas € 47 milhões nos primeiros seis meses deste ano, um número muito abaixo das expectativas do mercado, que projetava cerca de € 645 milhões.
O resultado decepcionante foi atribuído, em parte, a um impacto negativo de € 900 milhões no capital de giro, provocado por atrasos no faturamento e pela queda nas vendas de carros de passeio e vans na Europa.
O momento da revisão pegou mal no mercado. Apenas duas semanas antes, a montadora havia apresentado perspectivas mais positivas a analistas. E a sinalização negativa veio um mês após a renúncia inesperada de Luca de Meo, que ocupava o cargo desde 2020. Na época, as ações da empresa já haviam caído cerca de 7%.
Para o lugar de De Meo, a Renault nomeou como CEO interino o atual CFO, Duncan Minto, que passa a dividir a condução do grupo com Jean-Dominique Senard, presidente da Renault S.A.S., braço operacional da empresa. Segundo a empresa sem dar mais detalhes, o processo de escolha de um novo CEO permanente está em andamento.
Analistas acreditam que o anúncio de um CEO interino veio em um momento “infeliz”, não apenas pela falta de uma nova liderança, mas por frustrar a expectativa do mercado de que a Renault se sairia melhor que seus rivais por estar mais longe da guerra tarifária.
A Renault vinha sendo apontada como exceção entre as montadoras europeias pelo seu forte foco na Europa e pouca participação nos mercados americano e chinês, a companhia havia escapado dos efeitos diretos da guerra comercial e das tarifas impostas por Donald Trump, além de não ter emitido alertas de redução no lucro em 2023.
O desempenho relativamente forte — impulsionado por uma leva de lançamentos — fazia com que a empresa fosse vista como mais resiliente. Mas o aviso de agora levanta dúvidas sobre o quão sustentável é esse diferencial, sobretudo em um ambiente de competição acirrada.
Competição, margens e futuro
Embora o nova guidance tenha sido classificado como “realista” por analistas, o consenso é que a pressão de mercado vai continuar. O principal vetor é a guerra de preços no segmento de veículos elétricos, cada vez mais populado por modelos acessíveis lançados por marcas europeias e, sobretudo, chinesas.
Para analistas da Morningstar, as margens e o fluxo de caixa da Renault provavelmente atingiram o pico no ano passado, e a companhia estaria em espiral de queda.
A própria montadora já reconheceu que irá intensificar os esforços de corte de custos na segunda metade do ano para tentar recuperar margem operacional. Mas em um mercado que começa a se reestruturar para veículos mais baratos e elétricos, a margem de manobra pode ser limitada.
Enquanto isso, os investidores seguem cautelosos. As ações estão sendo cotadas em torno de 34 euros, com uma queda de quase 28% no ano. Os resultados da empresa serão divulgados no dia 31 de julho.
Outras montadoras europeias estão caindo com as tensões geopolíticas e o temor de uma desaceleração global. As ações da Stellantis, dona da Jeep, recuaram 3%. A Volkswagen caiu 1,6%.