Com o avanço do discurso protecionista de Donald Trump nos Estados Unidos, os frigoríficos brasileiros enfrentam incertezas diante da possível imposição de tarifas de até 50% sobre produtos nacionais, especialmente a carne bovina. A medida já mobiliza o mercado, que observa de perto os efeitos potenciais sobre os grandes players do setor.
Em relatório, o Itaú BBA manteve sua recomendação positiva para JBS e Minerva, destacando a resiliência de suas operações. Em contrapartida, BRF e Marfrig permanecem com recomendação neutra, enfrentando desafios estruturais e regulatórios.
A JBS, maior produtora global de proteínas, pode ser menos afetada pela tarifa devido à sua ampla produção em território norte-americano.
A alta de preços internos nos EUA durante o período de alta demanda (“barbecue season”) pode beneficiar tanto sua operação americana quanto a australiana. Só em julho, os spreads da carne bovina subiram 320 pontos-base, com queda de 1,6% nos custos do gado e valorização nos preços de venda.
Ainda assim, o Itaú projeta um Ebitda ajustado de R$ 8,9 bilhões para o segundo trimestre de 2025, com pressões vindas dos segmentos de carne bovina e suína. Seara e a americana Pilgrim’s, no entanto, trazem alívio: ambas devem apresentar margens expressivas, com destaque para a PPC, que pode alcançar seu melhor desempenho desde 2017.
Já a Minerva mostrou menor exposição ao risco, revelando que apenas 5% de sua receita líquida vem das exportações brasileiras para os EUA. A empresa reforçou sua estratégia de realocação de produção entre diferentes países. As ações da companhia acumulam alta de 10% no ano, e o Ebitda para o segundo trimestre deve ficar entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão.
O Itaú acredita que JBS deve terminar o ano cotada a US$ 18 e a Minerva a R$ 7, um aumento de 25% e 34%, respectivamente a preços de hoje.
BRF, por outro lado, enfrenta múltiplas pressões. A gripe aviária reduziu preços no mercado interno e internacional, com queda de 2,4% nas exportações e de 11,5% no mercado doméstico. A empresa também sofre com o alto custo dos insumos. As ações já caíram mais de 15% em 2025.
Enquanto isso, a Marfrig protagoniza mais um capítulo do processo de fusão com a BRF. A assembleia decisiva foi adiada por exigência da CVM, e a Marfrig elevou sua participação na BRF para 58,87%.
A Previ, maior fundo de pensão do país, se desfez de sua fatia, reforçando a expectativa de que a fusão deve se concretizar, apesar das polêmicas em torno dos termos. O mercado reagiu positivamente: as ações da Marfrig subiram 37% no ano.
Segundo o relatório do Itaú BBA, o setor tenta se reposicionar após um período marcado por spreads apertados, choques de oferta e instabilidades regulatórias.
“O desempenho das proteínas segue ditado por ciclos complexos, mas os players que conseguem antecipar movimentos e ajustar suas cadeias saem na frente”, conclui o banco.