Após o susto provocado pelo resultado dos votos à distância no dia anterior, a JBS conseguiu aprovar a proposta de dupla listagem, num movimento visto como crucial pela direção e pelos controladores para destravar o valor da companhia.
A medida foi aprovada após a votação dos acionistas que compareceram à assembleia geral extraordinária (AGE) na manhã de sexta-feira, 23 de maio, na sede da companhia, em São Paulo. Foi um processo rápido, com a assembleia começando às 10h e o tema sendo aprovado às 10h10. O balanço de contagem de votos não foi divulgado no fato relevante divulgado após a aprovação.
A AGE era o último passo para a listagem da companhia na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), depois que a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) aprovou o registro da JBS em abril.
A expectativa é de que as ações da JBS estreiem no mercado americano em 12 de junho, com o último dia de negociação na B3 deve ser em 6 de junho e o primeiro dia de BDRs no dia 9 de junho.
O receio de um eventual resultado negativo acabou surgindo depois que o mapa de votação a distância, divulgado na quinta-feira, 22 de maio, apontou para uma aprovação de pouco mais de 248,6 milhões de ações e uma rejeição de pouco mais de 270,2 milhões de papéis.
Em conversas com jornalistas após a assembleia, Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS, disse que a empresa não esperava um revés na votação, com a aprovação acontecendo com "uma folga relevante", sem dar os percentuais, que ainda serão divulgados pela empresa.
"Sabemos que muita gente deixa para votar na última hora e que muitos fundos favoráveis que tinham dito que viriam aqui [sede da JBS] votar pessoalmente", disse. "Então, estávamos bem tranquilos."
Cavalcanti destacou ainda que as reações positivas vistas nas ações a cada passo completado no processo de dupla listagem também deu confiança na conclusão positiva. "Quem estava comprando a ação era porque estava gostando do processo e estava sendo favorável", diz o CFO da JBS.
A assembleia não contou com a participação da J&F, nem do BNDESPar, braço de participações do BNDES, dono de pouco menos de 20% do capital da JBS, com a decisão ficando nas mãos de minoritários. Em acordo firmado em março, ficou acertado que o BNDESPar deve receber uma remuneração eventual limitada a R$ 500 milhões na hipótese de uma valorização das ações da JBS abaixo de patamar estabelecido entre as partes.
Apesar da confiança expressada por Cavalcanti, havia um certo clima de apreensão, não somente por um eventual revés da dupla listagem, mas também por receio de que protestos contra a companhia interrompessem a reunião. Em abril, um grupo de manifestantes ligados à ONG Greenpeace invadiu a sede da companhia, quando ocorria a assembleia anual de acionistas, acusando a JBS de crimes ambientais. Oito deles acabaram detidos.
Por conta disso, a companhia instalou na porta de entrada do prédio em que ocorreu a assembleia detectores de metais e máquinas de raio-x. A companhia também manteve a proibição do uso de celulares durante a assembleia que também estava em vigor no encontro anterior.
A dupla listagem é um sonho antigo da JBS, que remonta a 2009, quando começou a expandir suas operações e começava a sinalizar a intenção de ir para os Estados Unidos.
O ponto de destravar valor tem sido um dos principais argumentos da JBS e dos analistas para justificar a listagem das ações nos Estados Unidos. Apesar dos resultados obtidos nos últimos anos, e de ter quase 74% de sua receita vindo de fora do Brasil, os analistas do BTG Pactual destacaram em relatórios que o EV/Ebitda das ações da JBS é de 5,8 vezes, menos do que as 8,4 vezes da Tyson Foods e 6,6 vezes da PPC.
Um ponto destacado por Cavalcanti é a possibilidade das ações da JBS entrarem em mais índices acionários. Segundo ele, esse é um movimento importante dentro do plano de expandir a base de acionistas da empresa. "Cerca de 54% dos ativos sob gestão no mundo seguem índices", disse.
Com a listagem nos Estados Unidos concluída, a companhia vai começar a fazer as aplicações para esses índices. A expectativa é de estar em índices Russell em junho do ano que vem. No caso do S&P 500, a projeção é estar "um pouco mais para frente", porque a companhia só pode apresentar pedido seis meses a um ano listado nos Estados Unidos.
As vendas de participação do BNDESPar podem ajudar no processo de entrada no S&P 500, uma vez que metade do valor de mercado precisa estar no free float, afirmou Cavalcanti.
Ele destacou ainda que a dupla listagem deve ajudar a reduzir os custos de financiamento da JBS. Esse ponto é destacado pelos analistas por ajudar em novos M&As, ferramenta a que a empresa recorreu para se transformar numa empresa presente em 17 países, com mais de 280 mil colaboradores e um faturamento de R$ 417 bilhões em 2024, 15% acima do ano anterior, com 52% do montante vindo de fora.
"Queremos aumentar a nossa presença em alimentos preparados, marcas cada vez mais perto do consumidor. A estratégia é esta e vamos continuar", afirmou Cavalcanti.
Com a aprovação da dupla listagem, a JBS vai pagar R$ 2,2 bilhões aos acionistas, cerca de R$ 1 por ação. A data do pagamento ainda será divulgada.
Por volta das 11h56, as ações da JBS subiam 0,45%, a R$ 42,45. No ano, os papéis acumulam alta de quase 15%, levando valor de mercado a R$ 94,6 bilhões.