O maior movimento de transferência de riqueza da história está em curso, com a migração do patrimônio acumulado pelos baby boomers para as gerações mais novas. A estimativa do UBS é de que US$ 124 trilhões troquem de mãos até 2048.
O Brasil deve ser o segundo país com o maior volume absoluto de recursos em transição, atrás apenas dos Estados Unidos, com uma transferência estimada em US$ 9 trilhões.
Essa mudança geracional do patrimônio, na avaliação de Roberto Lee, CEO da Avenue, deverá provocar uma transformação estrutural no portfólio médio dos brasileiros, com uma fatia muito maior de investimentos internacionais.
“Estamos vivendo apenas o início do que chamo de uma grande diáspora patrimonial brasileira. Queremos liderar esse movimento, transformar o mercado e construir aqui, finalmente, uma alocação estrutural no exterior. É algo que terá impacto por décadas”, afirmou Lee, no Avenue Connection.
Segundo ele, isso deve acontecer pelo maior interesse das gerações mais jovens em investir fora do Brasil. “Para eles, assessores de investimento que não conseguem oferecer produtos no exterior são irrelevantes.”
Pesquisas internas realizadas pela Avenue apontam que, por trás dessa mudança de mentalidade, está o objetivo de muitos desses novos investidores de garantir uma educação no exterior para seus filhos.
“Isso muda completamente a construção dos portfólios. Esses jovens investidores estão fazendo seus primeiros aportes diretamente em empresas listadas nos Estados Unidos. Em vez de acumularem suas poupanças em ações da Petrobras, estão investindo em companhias como Nvidia, Tesla, Google e Coinbase”, diz Lee.
Pelo menos até 2023, mais de 80% dos investidores que utilizavam a Avenue tinham menos de 45 anos, sendo que cerca de 33% estavam na faixa dos 18 aos 30 anos. A facilidade de acesso e toda a tecnologia envolvida foram fundamentais para chegar até aqui. Mas, para liderar essa corrida, Lee considera o modelo de assessoria fee-based peça central de toda a estrutura.
Esse modelo, no qual a remuneração do assessor é baseada em um percentual do volume investido pelo cliente, é visto na indústria como uma tendência que substitui o antigo modelo comissionado, padrão nos últimos anos.
“Não sei se no próximo ano ou em dois, mas o fee-based será dominante por aqui. Para nós, isso já é estratégico no dia a dia, e estamos construindo toda a infraestrutura para sermos o melhor parceiro de quem quer liderar essa mudança.”
Quatro dos dez principais parceiros da Avenue em captação líquida mensal já adotam modelos fee-based. A expectativa de Lee é que, em um ano, esse número passe a representar três dos cinco maiores.
O exemplo da Robinhood
Convidado para o painel de estreia do evento de três dias no coração da Faria Lima, William Capuzzi, CEO da Apex Fintech Solutions, contou que a falta de assessoria especializada foi uma das maiores dores na história da Robinhood, sua cliente até 2019.
Apesar de todo o sucesso da corretora que revolucionou o mercado americano ao zerar as taxas de corretagem, Capuzzi recorda que o volume investido pelos clientes dificilmente ultrapassava US$ 500 mil.
“Quando de fato começavam a construir patrimônio e a ganhar mais dinheiro, quase que magicamente, concluíam: ‘preciso de algo melhor do que a Robinhood. Preciso de um assessor de verdade’. E então o dinheiro parava de entrar, e o novo assessor muitas vezes recomendava sacar dali, o que fazia o saldo cair”, relembra.
Esse fenômeno, segundo Capuzzi, mudou todo o cenário das corretoras emergentes nos EUA, que passaram a adotar assessores de investimentos em suas plataformas. “Hoje, a maioria das grandes fintechs que usam a Apex — como SoFi, Stash, Wealthsimple, eToro — todas estão adicionando serviços de assessoria.”
Nessa evolução, Capuzzi lembra que o modelo de “robô advisor” foi uma forte tendência há dez anos nos Estados Unidos, mas não prosperou porque era majoritariamente utilizado pelos próprios assessores. “As pessoas ainda querem falar com humanos.”
Lee, porém, vê espaço para um modelo híbrido, já que, apesar do assessor humano gerar mais confiança, há uma limitação de escala.
Acredito que a resposta está na inteligência artificial. Ainda não sabemos exatamente como usá-la, mas tenho certeza de que, se encontrarmos o jeito certo, vamos conseguir unir todos os benefícios de escala que a tecnologia oferece com a confiança que só um advisor humano é capaz de construir com o cliente final”, disse Lee.
“No futuro, não acho que o novo investidor vai escolher entre o humano e o robô. Acho que ele vai querer ambos”, complementou.