A narrativa "sell America" ganhou força nos últimos meses. Déficits recordes, incerteza política, dólar enfraquecido e taxas de juros em alta fizeram investidores questionarem se chegou ao fim o excepcionalismo americano que dominou os mercados nos últimos anos.

Mas Meera Pandit, estrategista para mercados globais do J.P Morgan Asset Management, não compra essa história.

Em apresentação no Brasil no Avenue Connection, a executiva defendeu que os EUA mantêm vantagens estruturais que sustentam sua posição dominante na economia global - mesmo com os desafios atuais.

Apesar do"sell America", os dados mostram que os investidores estrangeiros detêm 25% dos treasuries americanos. E esse percentual vem subindo desde que o Fed começou a elevar os juros. Na renda variável, a participação estrangeira está em 18% (e crescendo).

"Os investidores globais procuram yield em lugar mais seguro", diz Pandit.

O movimento é o mesmo dentro de casa. Investidores americanos de varejo compraram ações nas quedas de março, abril e junho deste ano. E os institucionais e hedge funds estão correndo atrás para recuperar a alocação.

Um dos pontos que sustenta esse comportamento, segundo a estrategista para mercados globais do J.P Morgan Asset Management, é que as máximas históricas não são um problema.

Contraintuitivamente, Pandit mostrou que investir nos picos do S&P 500, por exemplo, pode ser melhor que em qualquer outro dia.

De acordo com os dados trazidos por ela, 81% das máximas históricas ocorrem dentro de uma semana. Ou seja, o momentum gera mais momentum.

"Quem entrou na terceira máxima histórica do ano passado viu o S&P 500 atingir outras 57 máximas", afirma ela.

Guerra comercial ainda pesa

A escalada tarifária ilustra bem os desafios americanos. O déficit fiscal está em 6,4% do PIB - quase o dobro da média dos últimos 50 anos. As tarifas subiram de 2% para 15%, que é o maior nível em 100 anos. E o dólar despencou mais de 10% no ano.

"Alguém vai ter que pagar por elas", diz Pandit. Se forem os consumidores, veremos o impacto na inflação com bens mais caros. Se forem as empresas, pode corroer as margens de lucro que construíram.

Mas a executiva vê mais uma mudança de padrão que alta persistente de preços.

"Estamos vendo preços de bens subirem exatamente onde esperaríamos devido às tarifas, mas preços de serviços suavizando porque consumidores estão mudando seus padrões de consumo", afirma ela.

O problema é que as tarifas, mesmo gerando cerca de US$ 300 bilhões anuais, não resolvem o buraco fiscal. "Tarifas não serão suficientes para salvar nossas finanças federais".

O enfraquecimento do dólar não ameaça seu status de moeda reserva. Os EUA mantêm 60% das reservas globais em moeda estrangeira - o euro, segundo colocado, tem apenas 20%.