Os 100 primeiros dias do novo governo Donald Trump, completados na terça-feira, 29 de abril, foram marcados por uma reversão das expectativas dos investidores. O sentimento inicial de otimismo com um governo que seria mais pró-negócios foi substituído por brutais quedas dos mercados acionários por conta da guerra comercial declarada pelos americanos e os riscos de uma recessão na maior economia global.

No meio de toda essa confusão, o Brasil aparece como um vencedor relativo, segundo a equipe de estrategistas da XP Investimentos. Mesmo com a situação fiscal sendo um fator negativo, a avaliação é de que o mercado brasileiro pode aproveitar esta confusão para atrair fluxos e se valorizar, mantendo o rali visto em abril, algo improvável quando

No mês passado, o Ibovespa registrou ganho de 3,7% em reais e 4,4% em dólares, encerrando o período aos 135.067 pontos, liderando o desempenho entre as bolsas globais. E a expectativa é de que o principal índice da B3 possa fechar 2025 aos 149 mil pontos, acima dos 145 mil pontos que a XP projetava até então.

“Nós vemos o Brasil como um vencedor relativo entre os mercados emergentes e globais, visão que foi reforçada pelos investidores durante nosso recente roadshow em Londres”, diz trecho do relatório da equipe de estratégia da XP.

Em um cenário de aversão a riscos, com investidores olhando para outros mercados e saindo de uma alocação excessivamente concentrada nos Estados Unidos, os analistas da XP destacam que as ações brasileiras seguem descontadas e as empresas apresentam fundamentos sólidos.

“Comparando o P/L projetado de cada setor brasileiro com seus pares na América Latina, mercados emergentes e globais, observamos que o Brasil apresenta um valuation significativamente descontado, que se intensifica de acordo com a abrangência da comparação: 12% de desconto em relação à América Latina, 35% em relação aos emergentes e 55% de desconto em relação aos mercados globais”, diz trecho do relatório.

Os estrategistas veem um potencial de valorização a partir de uma melhora do cenário macroeconômico doméstico, à medida que o ciclo de alta de juros possivelmente se aproxima do fim. E a combinação de bons valuations e fundamentos robustos tem impulsionado dividend yields e programas de recompra de ações.

“Essas estratégias contribuem significativamente para ROE e ROIC elevados, refletindo uma gestão eficiente dos recursos e um compromisso com a geração de valor ao acionista”, diz trecho do relatório.

Esses pontos se juntam ao fato de o Brasil ter recebido a menor das “tarifas recíprocas” de Trump, à baixa abertura da economia perante o mercado global e ao fato de não ter sentido, até o momento, efeitos de uma piora da economia global. Tudo isso favorece a continuidade da rotação de fluxos de capital para fora dos Estados Unidos, de acordo com a XP.

Os estrategistas destacam que as tarifas vêm pressionando o dólar, com o índice DXY acumulando queda de 8,17% no ano, movimento que se intensificou após o anúncio de tarifas de 2 de abril (-4,44%). “Um dólar mais fraco tende a impulsionar o investimento direto estrangeiro em mercados emergentes”, escrevem os analistas.

Diante deste cenário, a percepção é de que nomes ligados à economia doméstica e que registram grandes descontos devem apresentar bons desempenhos. Já commodities têm sofrido pela percepção de que grandes compradores, como a China, devem ser impactados pela guerra tarifária.

Na carteira recomendada de ações, os analistas da XP adicionaram as ações de Stone e Lojas Renner e aumentaram a exposição em BRF. Por outro lado, removeram Natura e Gerdau e reduziram a presença de Petrobras e Cyrela.

“Identificamos uma clara preferência dos investidores por setores domésticos e sensíveis à taxa de juros, em detrimento de commodities, que são mais expostas à incerteza econômica global. Concordamos com essa alocação, embora estejamos atentos ao cenário inflacionário doméstico, que segue longe do ideal”, diz trecho do relatório.