As palavras reestruturação e reorganização têm acompanhado a Natura nos últimos anos. A Natura tentou ser global. Teve problemas e vendeu marcas. A Natura tentou mudar a sua estrutura e chamou Fabio Barbosa para presidir a holding. A julgar pelos resultados do quarto trimestre de 2024, não deu certo. A Natura vai tentar de novo. E acaba de anunciar uma nova reorganização na qual Barbosa sai do dia a dia e Joao Paulo Ferreira, atual CEO da marca, assume o grupo.

Na noite de quinta-feira, 20 de março, a companhia de cosméticos anunciou a simplificação da sua estrutura organizacional, com a Natura Cosméticos incorporando a Natura&Co. Em fato relevante, a empresa destaca que a medida “resultará em uma estrutura mais eficiente e deve destravar valor para seus acionistas”, permitindo a companhia focar na América Latina.

Diante de mais uma mudança, cabe uma indagação: será suficiente para dar uma guinada na empresa? O NeoFeed escutou gestores e analistas e as respostas não são as mais animadoras.

Para André Pimentel, sócio da Performa Partners, companhia especializada em reestruturação de empresas, o que a Natura anunciou não é uma reestruturação, mas uma simples movimentação, sem impacto significativo nos resultados.

Segundo ele, a Natura precisa tomar medidas mais significativas, para além das iniciativas da chamada Onda 2, para melhorar a margem, aumentar vendas e recuperar regiões que não estão desempenhando bem, como a Argentina.

"A companhia está com problema de resultado, querer ser calmo não está aderente com a situação”, diz. “Eles precisam de um choque de gestão que até agora não veio. O resultado continua horrível. Sinto falta disso."

Gestores consideram esse um caminho correto, considerando que a estrutura de holding fazia sentido quando a Natura tinha a pretensão de se tornar uma plataforma global de produtos de beleza. Com a reversão desse processo, iniciada a partir de 2022, manter essa estrutura seria bem custoso.

“O trabalho não foi entregue do jeito que os controladores guiaram. Tinha de ter ocorrido uma grande mudança mesmo”, diz um gestor, que já não tem posição no papel, que pediu para não ser identificado.

Outro gestor destaca que os resultados do quarto trimestre parecem ter acelerado a decisão da Natura de realizar esta reestruturação. O balanço dos últimos três meses do ano passado, divulgado em 13 de março, mostrou um aumento forte e inesperado das despesas gerais e administrativas, da ordem de 92,4%, além de uma piora da margem bruta, encerrando um período de sete trimestres seguidos de melhora.

As ações da Natura despencaram no pregão seguinte à divulgação dos resultados, caindo 29,9%, a R$ 9,50, e seguiu recuando, mesmo com a Natura anunciando um programa de recompra de ações. Desde o dia da divulgação dos resultados, os papéis acumulam queda de 28,8%.

“Essa coisa reduzir custos, controlar o fluxo de caixa, se tornou mais premente após os resultados”, afirma o gestor. “Essa movimentação veio meses antes do que eu achava. Eu acreditava que isso ocorreria mais para a metade do ano. É uma mudança grande, mas era esperada.”

Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus, a medida pode ser benéfica não apenas para a companhia, como também para os acionistas. “A reestruturação pode permitir uma geração de caixa ainda maior para a companhia e permitir pagar dividendos", diz ela.

Um dos gestores aponta que a mudança no comando está ocorrendo antes do fim do processo de transformação, especialmente a venda da Avon Internacional. No entanto, ele pondera que Barbosa permanecerá no conselho, o que não deve implicar em problemas no processo.

As ações da Natura fecharam o pregão de hoje com queda de 2,43%, a R$ 9,65. Em 12 meses, os papéis recuam 47,2%, levando o valor de mercado a R$ 13,4 bilhões.