A Natura&Co anunciou nesta segunda-feira, 17 de março, que seu Conselho de Administração aprovou um programa de recompra de ações. O movimento vem à tona apenas três dias depois de a companhia de cosméticos fechar as negociações na B3 com um tombo de quase 30%.
Em fato relevante, a empresa informou que o programa envolverá a recompra de até 52.631.578 ações ordinárias, correspondentes a até 3,8% do total emitido pela companhia e a até 6,2% dos papéis em circulação.
O programa terá um prazo máximo de 12 meses, contados a partir dessa segunda-feira e encerrando-se em 17 de março de 2026. As operações serão financiadas por meio das reservas de capital da empresa, que, atualmente, tem 852.227.147 ações ordinárias em circulação e 298.573 ações em tesouraria.
Mas nem a recompra de ações conseguiu segurar o papel da Natura. Nesta segunda-feira, 17 de março, o papel caiu 3,16%. O mercado considerou o total tímido. "É uma atitude boa, mas não é suficiente. Não segura o fluxo, se tiver", diz um gestor comprado no papel.
A Natura ressaltou que o objetivo é maximizar a geração de valor para os acionistas por meio de uma administração eficiente de sua estrutura de capital. E que as ações serão adquiridas para permanência em tesouraria, bonificação ou posterior alimentação no mercado.
Outro gestor que acompanha o papel, no entanto, acrescentou que no call de resultado os executivos da Natura falaram que a preocupação principal era fazer o Ebitda crescer e não pagar dividendos ou buybacks. "Isso não muda nada", diz essa fonte.
O programa pode envolver um desembolso de R$ 497,4 milhões tomando como referência a última cotação dos papéis da Natura. Na sexta-feira, 14 de março, as ações da empresa encerraram o pregão na B3 a R$ 9,50, o que representou uma queda de 29,94%.
O tombo veio na trilha da divulgação dos resultados da companhia no quarto trimestre e no ano consolidado de 2024. Os números apresentados ficaram bem aquém das expectativas de analistas e investidores.
No trimestre, o crescimento de 92,4% das despesas operacionais no trimestre, para R$ 5,3 bilhões, foi um dos dados que contribuíram para que os papéis derretessem e liderassem as perdas do Ibovespa na sexta-feira. Assim como a queda de 0,70 ponto percentual da margem Ebitda recorrente, para 9,1%.
A empresa atribuiu a elevação das despesas a fatores como o aumento dos gastos com marketing, a contabilização de parte dos aportes em tecnologia como despesa e não como investimento, e os efeitos da hiperinflação argentina no último trimestre de 2024.
Outro indicador que desapontou o mercado foi a queda de 0,20 ponto percentual da margem bruta das operações da América Latina, para 63,2%, sob o impacto do forte desempenho na categoria de presentes no trimestre, cujas margens brutas são menores, e a fatores como ações promocionais.
A margem bruta mais volátil na região foi justamente o elemento apontado como a “maior incerteza pós-quarto trimestre” pelo Itaú BBA, que, em relatório, reduziu o preço-alvo da ação da Natura, de R$ 17 para R$ 14.
“A pergunta mais frequente – tanto do mercado quanto nossa – é se a queda da sexta-feira passada foi de alguma forma exagerada e abriu uma oportunidade de compra – honestamente, não achamos isso”, escreveram os analistas do banco.
O Itaú BBA manteve, porém, a recomendação de outperform, o equivalente a compra, para o papel. E ressaltou que o fato de a ação desabar no último pregão chamou mais atenção pela velocidade do que pela magnitude em si.
“Dada a dinâmica do mercado brasileiro, o interesse na tese pode diminuir, com apenas trimestres mais limpos e mais fortes provavelmente revertendo essa tendência”, acrescentaram os analistas do banco.
As ações da Natura recuam 26% neste ano e, em 12 meses, a desvalorização acumulada é de 48,7%. A empresa está avaliada em R$ 13 bilhões.
(Reportagem atualizada com o fechamento do preço da ação da Natura)