O Brasil tem sido um dos principais beneficiários do movimento de rotação global de ações, fruto das instabilidades provocadas pela política econômica do presidente Donald Trump. Um alento depois de um ano duro para o mercado local – em 2024, o Ibovespa recuou 10,3%, pior desempenho desde 2021.
Desde o início de 2025, o principal índice da B3 acumula alta de 17% em dólares, puxado pelos estrangeiros, que injetaram US$ 12 bilhões na Bolsa. Para efeito de comparação, o HSI, principal índice da Bolsa de Hong Kong registra alta de 15,1%, e o Euro Stoxx 50 (que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro) sobe 12%.US
Mas, para a XP Investimentos, esse desempenho não é motivo para ficar otimista, nem que a visão dos estrangeiros melhorou em relação ao País.
Diferentemente da tese que vem circulando, de que os investidores estão começando a precificar as eleições de 2026, apostando numa mudança de governo, os estrategistas Fernando Ferreira, Felipe Veiga, Raphael Figueredo, Júlia Aquino e Lucas Rosa destacam que o País está sendo puxado pelo movimento global.
“Os investidores estrangeiros estão favorecendo os mercados emergentes e a Europa em vez do Brasil especificamente, refletindo uma rotação global mais abrangente”, diz trecho do relatório. “A performance positiva do Ibovespa até agora tem sido impulsionada principalmente por fatores globais, como a rotação de capital, em vez de melhoras no cenário doméstico.”
O principal indício disso é o fluxo de recursos em direção a fundos de índices (ETFs). Segundo a XP, os ETFs de mercados emergentes tiveram entradas positivas de US$ 5,4 bilhões no primeiro trimestre, enquanto os ETFs focados na Europa atraíram US$ 14,5 bilhões.
Já os ETFs brasileiros enfrentaram saídas líquidas de US$ 338 milhões no mesmo período, representando uma redução de 4,2%.
“Isso sugere que os investidores estrangeiros não estão muito otimistas em relação ao Brasil especificamente, preferindo os emergentes de forma mais abrangente e a Europa, especialmente considerando que o cenário macroeconômico doméstico não mudou fundamentalmente desde dezembro”, diz trecho do relatório.
Apesar da Bolsa brasileira seguir negociando a múltiplos atrativos, com o P/L para 2025 estimado em 7,3 vezes, abaixo da média histórica de 11 vezes, os estrangeiros têm adotado uma postura mais “tática”, buscando ações individuais ao invés de se posicionarem em ETFs focados em Brasil.
No caso do varejo, os estrangeiros demonstram preferência pelas ações do Mercado Livre e da RD Saúde, segundo conversas feitas pela equipe da XP que cobre o setor com investidores locais e de fora.
“Enquanto o peso do Brasil em ETFs de emergentes contribuiu com fluxos positivos, as saídas dos ETFs focados no Brasil destacam a falta de confiança no índice mais amplo”, diz trecho do relatório.
Quando olham para o mercado local, os estrategistas da XP avaliam que o momento é de cautela, diante do cenário de inflação e juros em alta. A recomendação tem sido de se posicionar em nomes de alta qualidade e baixo risco, como Porto, Vivo e Rede D’Or.
Diante deste cenário, a XP manteve a projeção de que o Ibovespa fechará o ano aos 145 mil pontos. Por volta das 11h49, o índice subia 0,82%, aos 131.333,06 pontos, acumulando alta de 9,33% no ano.