Na inauguração da expansão da fábrica da Gerdau em Ouro Branco, Minas Gerais, em 11 de março, o CEO Gustavo Werneck não perdeu a oportunidade de dizer diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao vice e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin, sobre a preocupação pela falta de capacidade do governo em proteger a indústria nacional do aço chinês.

A tensão está no fato do crescimento significativo da participação da China no mercado brasileiro, que hoje já representa 22%. De fevereiro para cá, o aumento foi de 3,7 pontos percentuais. E, a seguir nesse ritmo, a expectativa é que essa presença cresça mais, prejudicando, assim, a indústria nacional - o produto importado chega ao País com um preço menor do que o custo das companhias brasileiras.

“Esse foi o tema central da conversa fora do palco. Quando caminhamos na linha de produção, fui muito claro em dizer para eles que a decisão do investimento naquela fábrica tinha sido tomada quatro anos antes. E eu questionei a eles, agora que está pronto, para quem vou vender”, respondeu Werneck à pergunta feita pelo NeoFeed na coletiva sobre os resultados do primeiro trimestre da companhia.

Entre janeiro e março deste ano, a Gerdau reportou receita líquida de US$ 17,37 bilhões, alta de 7,2% sobre o mesmo período do ano passado. O lucro, no entanto, caiu. No primeiro trimestre, o total registrado foi de R$ 758 milhões, queda de 39% sobre os primeiros três meses de 2024. O Ebitda ajustado, de R$ 2,4 bilhões, foi 14,6% menor do que no primeiro trimestre de 2024.

Para o CEO, é necessário que haja uma solução até maio, quando a vigência da cota-tarifa completa um ano. Em fevereiro, o executivo tinha afirmado que o fim do primeiro trimestre era o prazo para que a Gerdau tomasse decisões sobre futuros investimentos. “Ficou claro o entendimento de que deveríamos esperar o mês de maio para medir os erros e acertos desse mecanismo de cota-tarifa”, completou.

Segundo Werneck, não há nenhuma garantia de que as explicações feitas pela empresa terão aderência do governo na busca por uma solução que atenda ao setor no País. “Eles ouvem, mas esse acolhimento não se traduz em ação. A vantagem de estar lá foi mostrar o que significa tanto investimento e quanto isso gera emprego.”

Em tom crítico, ele afirma que o assunto vem sendo tratado de forma silenciosa dentro do Ministério do Desenvolvimento Econômico, sem que haja, até aqui, qualquer sinalização do caminho que o governo irá tomar. E se vai tomar. “Nem sei dizer se estou otimista ou pessimista. A convicção que tenho é que apresentamos a realidade do que acontece na indústria brasileira. Minha consciência está tranquila. Agora depende deles.”

Desta vez, o executivo da Gerdau foi enfático ao afirmar que, se o governo não apresentar uma saída favorável em um mês, a empresa vai reduzir os investimentos no Brasil a partir do próximo ano. A decisão, no entanto, não afeta o volume de R$ 6 bilhões em capex projetados para 2025.

Alexandre da Silveira, ministro de Minas e Energia; o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck; e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ouve atentamente as explicações sobre a expansão do laminador de bobinas a quente na Usina Gerdau Ouro Branco (MG) (Foto: Gerdau/Divulgação)
Alexandre da Silveira, ministro de Minas e Energia; Gustavo Werneck, CEO da Gerdau; e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Usina Gerdau Ouro Branco (MG) (Foto: Gerdau/Divulgação)

No primeiro trimestre de 2025, a empresa realizou investimentos de R$ 1,4 bilhão. Desse volume, 40% foram destinados à manutenção das unidades fabris e 60% alocados em projetos de expansão e atualização tecnológica.

Werneck também anunciou que a empresa desistiu de realizar investimentos de US$ 600 milhões para a construção de uma fábrica de aços especiais no México. Segundo ele, a decisão está associada a uma possível reconfiguração do setor automotivo americano a partir das tarifas de importação implementas pelo presidente Donald Trump.

“Acreditamos que, com esse tema de debates comerciais gerados pela administração atual, haverá essa transformação profunda, afetando o fornecimento de peças. Ainda é cedo para entender como de fato vai ficar, mas a incerteza já nos leva a tomar essa decisão.”

A redução dos investimentos pode fazer com que a empresa reprograme a destinação de recursos, como na ampliação do programa de recompra de ações. “A gente seguiria com planos de investimentos nos Estados Unidos para reduzir no Brasil. Com mais capital disponível, podemos alocar o capital nas ações.” Ele também não descarta a necessidade de implementar hibernação em algumas unidades no Brasil.

No acumulado de 12 meses, as ações da Gerdau na B3 registram desvalorização de 15,9%. Em 2025, a queda apurada é de 12,6%. A companhia está avaliada em R$ 31,7 bilhões.