Da saúde e do transporte à educação e à manufatura, passando pelo agronegócio, o setor financeiro e o entretenimento. Não são poucas as revoluções e os impactos substanciais esperados na trilha do 5G, para esses e outros tantos segmentos da economia.

Até duas semanas, o Brasil estava à margem dessas promessas, diante das idas e vindas para a realização do leilão do 5G. Com o processo, enfim, concluído, a expectativa é que a exploração dessas oportunidades comece a ganhar velocidade. E já há quem esteja dando seus primeiros passos nessa via.

Esse é o caso da italiana Enel, cuja concessionária de energia em São Paulo está testando, desde agosto, o uso dessa tecnologia por meio de um projeto-piloto de aplicação do 5G Stand Alone – o chamado 5G puro - no bairro da Vila Olímpia, na zona sul da capital paulista.

A iniciativa integra o Urban Futurability, projeto para a consolidação de um bairro digital tocado pela empresa na região desde 2019 e que prevê um aporte de R$ 125 milhões. E, nessa etapa, conta com um pool de parceiros formado pela também italiana TIM, a sueca Ericsson e a americana Qualcomm.

“O setor elétrico está passando por uma grande transição, onde empresas como a nossa agora são muito mais um hub de troca energética e não apenas mais um elo da cadeia”, diz Fernando Andrade, responsável pela área de engenharia de construção da Enel Brasil.

“Nesse cenário, não dá pra fazer a gestão das redes como fazíamos antes”, ressalta. “Precisamos de muito mais. De sensores, monitoramento, tecnologia e comunicação. E aqui, entramos muito forte na questão do 5G.”

Segundo a empresa, esse é o primeiro projeto sob esse conceito na América Latina. O piloto envolve a instalação de uma estação rádio base de 5G em uma subestação da Enel na região. A infraestrutura de rede e os equipamentos incluídos ficarão sob responsabilidade da Ericsson e da Qualcomm.

A TIM está fornecendo a cobertura por meio de uma licença provisória, que está sendo renovada, periodicamente, até que a operadora, uma das vencedoras do leilão conduzido pela Anatel, obtenha a licença definitiva para o serviço.

A partir dessa estrutura, apoiada por uma série de sensores, a Enel está testando avanços no monitoramento e no controle da oferta dos seus serviços na região. Especialmente para antecipar e prever eventuais falhas no sistema, além de dar maior velocidade aos processos de manutenção da rede.

Um dos ganhos já percebidos envolve a latência, jargão usado no setor para definir o tempo de resposta de uma aplicação. “Hoje, nossos sistemas de automação funcionam na rede 3G, com uma latência de centenas de milissegundos”, diz Andrade. “Com o 5G, isso cai para cerca de 5 milissegundos.”

Na prática, esse intervalo bem mais reduzido pode significar uma diferença substancial, por exemplo, no restabelecimento automático da rede no caso de alguma falha, a partir da resposta mais rápida dos sistemas de automação que gerenciam essa estrutura.

Uma outra aplicação a partir dessas configurações envolve a assistência remota aos times de manutenção em campo. De posse de smartphones, tablets e, em breve, de óculos de realidade virtual, esses técnicos podem transmitir imagens, em tempo real, a um especialista a distância e receber instruções sobre a melhor forma de proceder para solucionar um problema.

“Hoje, conseguimos fazer esse processo com a tecnologia disponível, mas com muito atraso e má qualidade na conexão”, explica Andrade. “Com o 5G, não tem comparação. É outro mundo. É como se você estivesse no Wi-Fi, em casa, com qualidade e velocidade.”

Vice-presidente de tecnologia da TIM, Leonardo Capdeville ressalta que esse tipo de caso vai ao encontro da tese defendida pela operadora no uso dessa tecnologia.

“Um sistema de distribuição de energia mais moderno, adequado a essa nova complexidade do setor exige inteligência e acesso a dados”, diz Leonardo Capdeville, CTIO da TIM. “E não apenas coletá-los, mas analisar esses dados e reagir rapidamente, em tempo real, a essas informações.”

A Enel também já vislumbra aplicações nessa direção. Um dos casos passa pelas inspeções na rede que são realizadas pela empresa com o apoio de helicópteros, drones, veículos, câmeras de alta resolução, e equipamentos que monitoram a temperatura das instalações.

Hoje, todos esses dados são coletados, registrados em uma memória e, posteriormente, descarregados nos servidores da empresa para análises. Com o 5G associado a esses recursos e também a conceitos como inteligência artificial, que já estão sendo aplicados, essas informações passam a ser acessíveis em tempo real, o que também agiliza a antecipação ou a correção de falhas.

“Estamos falando aqui de uma empresa de energia, mas essa abordagem pode valer para segurança pública, tráfego urbano e tantas outras aplicações”, diz Capdeville. “A gente começa a abrir um leque enorme e, a partir desse piloto, imagina que, em 2022, podemos ter toda a cidade de São Paulo coberta.”

Além de estender essa abordagem para outros bairros e regiões de São Paulo, a Enel também já estuda estendê-la para as outras concessões que detém no País, nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e Ceará. Hoje, apenas na capital paulista, a Enel conta com 120 subestações de energia.

“Nosso plano não é usar essa tecnologia apenas nas subestações, e sim, em todos os equipamentos que temos, inclusive nas ruas”, afirma Andrade. “Com o 5G, a ideia é cobrir a cidade. Essa tecnologia vai ser usada em todo o nosso ‘chão de fábrica’.”