Em março deste ano, quando indagado pelo NeoFeed se era sócio da Vitreo, gestora que replicava carteiras de investimentos da Empiricus, Felipe Miranda, fundador da casa de análises, disse que não era, mas não escondeu o desejo de ser. “Se eu puder, houver as condições, e se eles também me aceitarem, eu adoraria ser sócio”, disse na época.
Pois o desejo acaba de se tornar realidade. A Empiricus, empresa com 365 mil assinantes e faturamento de R$ 250 milhões, está unindo suas operações com a Vitreo, que se tornou uma plataforma aberta de investimentos, conta com 75 mil clientes e R$ 6,6 bilhões sob custódia. Agora, as duas empresas estarão debaixo do grupo Universa.
Pelo acordo, os sócios da Empiricus serão donos de 63% do grupo e os da Vitreo terão 37% das ações. Ainda falta o aval do Banco Central, mas o negócio deve ser concluído sem ressalvas. “Vamos ter mais geração de caixa e mais robustez para brigar de frente com grupos maiores e mais capitalizados”, diz Felipe Miranda com exclusividade ao NeoFeed.
“O que essa sociedade abre para a gente é uma possibilidade de crescimento muito maior do que já experimentamos até agora”, diz Patrick O’Grady, CEO e sócio da Vitreo. Atualmente, estima-se que dois terços dos clientes da Vitreo vieram por recomendação da Empiricus. E as expectativas diante do acordo societário são altas de ambos os lados.
A Empiricus espera atingir 1 milhão de assinantes em três anos. A Vitreo, por sua vez, pretende chegar a R$ 30 bilhões sob custódia nesse mesmo período. Por enquanto, as duas empresas continuarão atuando de forma separada. Mas, no futuro, poderão unir as áreas administrativas e de RH para capturarem sinergias.
O’Grady, entretanto, faz questão de dizer que o objetivo não é esse, mas sim ganhar escala. A Vitreo, que tem entre seus sócios Paulo Lemann, Sérgio Campos e Alexandre Aoude, tem crescido a uma média de 12% ao mês no quesito captação, virou DTVM em maio, entrou no mercado de gestão de fortunas e está prestes a lançar novos serviços como home broker e oferecer produtos de renda fixa como tesouro direto.
Diante desses indicativos e planos de expansão, cabe uma pergunta: por que unir as operações com a Empiricus se o negócio continua crescendo? Miranda responde: “E se eu brigo com o Patrick? E se eu acordo de mau humor e resolvo falar mal da Vitreo?”. E prossegue. “O negócio coloca os dois do mesmo lado.” Para a Vitreo, é, de certa forma, a garantia que a Empiricus continuará recomendando clientes e que boa parte deles baterá à sua porta.
Outra porta que se abre com a combinação dos dois negócios é a chance de atrair investidores de peso. “Um investidor que injete um capital importante para acelerarmos”, diz Caio Mesquita, sócio-fundador e CEO da Empiricus. “A Universa é uma empresa que vai despertar interesse.”
Mesquita não descarta, inclusive, uma possível abertura de capital da Universa. “Mas não é algo que está no horizonte agora. Ainda temos muito dever de casa para fazer, um grande potencial para desenvolver o negócio e chegar numa oferta pública”, afirma.
Os planos envolvem um superapp, a criação de um cartão de crédito, passando por uma conta digital, e até oferta de crédito. O superapp deve ser lançado em junho do ano que vem. Ele será uma atualização do atual aplicativo da Empiricus, hoje já baixado 500 mil vezes.
Ele agregará notícias de investimentos das plataformas da Empiricus, como os sites MoneyTimes, 100% da casa de análise, e o SeuDinheiro, uma sociedade com o Estadão. Também contará com vídeos educacionais e o MBA de analista de ações feito em parceria com a Yudqs. “Será o primeiro superapp de finanças e investimentos do Brasil”, diz Miranda.
Esse superapp também viria com análises e recomendações e execução em um único clique com a integração com a Vitreo. “Ele também terá uma rede social. As pessoas poderão seguir as carteiras dos amigos, ganhar pontos se a sua carteira está rendendo bem, e esses pontos poderão ser trocados na Empiricus e até em planos de fidelidade”, diz Miranda.
Ao mesmo tempo em que está desenvolvendo esse app, a Empiricus está negociando a compra de um aplicativo de consolidação de carteira. Com isso, poderá saber onde os clientes investem e, com dados e inteligência artificial, oferecer investimentos com mais assertividade.
Uma briga de gente grande
Os sócios da Universa dizem que estão criando a principal alternativa da indústria 3.0 de plataformas de investimentos, 100% tecnológica, sem agentes autônomos, para desbancar a todo-poderosa XP Inc., com R$ 436 bilhões sob custódia e valor de mercado de US$ 24,5 bilhões.
Apesar do discurso otimista e de Miranda ressaltar que agora entrou para a “Major League”, fazer gols nesse jogo é uma tarefa dificílima. Primeiro porque a XP marcou posição e está anos-luz à frente dos concorrentes. Segundo porque existem várias alternativas neste segmento.
Plataformas como Warren e Magnetis, por exemplo, já estão nessa chamada indústria 3.0 dos investimentos. E o Santander, com a Pi, acaba de comprar 60% da fintech Toro Investimentos. Ou seja, um player com muito poder de fogo para brigar no mercado com uma solução tecnológica. A exemplo do Santander, os tradicionais bancões Bradesco, com a Ágora, e o Itaú Unibanco, com o seu Personnalité, também acordaram.
Não bastasse isso, os bancos digitais estão entrando em peso nessa disputa. Em setembro, o Nubank comprou a Easynvest, plataforma com R$ 23 bilhões sob custódia. A fintech criada pelo colombiano David Vélez é uma das que mais sabem navegar no mundo tecnológico e deve plugar seus 30 milhões de clientes na Easynvest.
O Banco Inter, outro que tem apostado nessa área de investimentos, conta com R$ 26 bilhões sob custódia. E outros rivais vão reservando um espaço no concorrido mercado. O Neon adquiriu a corretora Magliano para lançar sua plataforma, o Modalmais recebeu investimento do Credit Suisse e novos negócios são esperados.
Confrontado com essa realidade, Felipe Miranda diz que a disputa da Vitreo é com a XP e com o BTG Digital, que dominam o mercado e contam com investidores com tíquetes mais altos. “O Brasil reclamou tanto do oligopólio bancário que agora está na mão de um duopólio”, afirma.
Nessa batalha, a empresa também contará com uma arma usada pelos concorrentes: veículos de comunicação. Se a XP tem o Infomoney e o BTG tem a Exame para ajudar na captação de clientes, a Empiricus fará do MoneyTimes o seu funil para trazer investidores para a plataforma.
O site Antagonista ficará fora da holding Universa. O veículo de comunicação pertence a uma holding chamada Mare Clausum. A Empiricus tinha 50% dela e os jornalistas Diogo Mainardi e Mario Sabino os outros 50%. “Os sócios da Empiricus permanecerão na sociedade como pessoa física”, diz Mesquita.
Passado de polêmicas
Desde sua fundação, a Empiricus ficou conhecida pelas polêmicas campanhas de marketing. A última a fazer barulho e gerar muito ruído negativo para a empresa foi a da Bettina, que dizia ter um patrimônio de R$ 1 milhão acumulado, dos 19 anos de idade aos 22 anos de idade, a partir de investimentos iniciais de R$ 1,5 mil na bolsa.
Por essa e por outras campanhas, a empresa esteve na mira da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No início deste ano, entretanto, fechou um acordo com a CVM no qual se comprometeu a pagar R$ 4,25 milhões e encerrar dois processos que corriam na autarquia. Com isso, também aceitou ser regulada pelo órgão.
Agora, a Empiricus tem outro desafio. Miranda sempre foi um ácido crítico aos conflitos de interesses no mercado de investimentos. Com a criação da Universa, ele passa a ser sócio de uma empresa que indica investimentos e de outra que executa os investimentos.
Indagado pelo NeoFeed sobre a mudança e se vai recomendar outros produtos que não apenas os da Vitreo, ele afirma que “vai recomendar outros produtos, até porque os assinantes não são bobos”, diz ele. Mas falaria mal de um produto da Vitreo? “Não vamos falar mal porque os fundos da Vitreo são fundamentalmente gerados pelas ideias da Empiricus.” Se essa é a melhor resposta, só o tempo dirá.
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