A notícia tomou conta dos principais jornais americanos. Um tribunal federal no Brooklyn, em Nova York, está ouvindo, nesta segunda-feira, 14 de fevereiro, Roger Ng, um dos principais acusados de um esquema de corrupção multibilionário que envolve o Goldman Sachs e um fundo de investimento pertencente ao governo da Malásia, o 1MDB.
Os próprios advogados de Ng – ex-chefe de investimentos do banco na Malásia - descrevem os saques de US$ 4,5 bilhões do 1MDB como “provavelmente o maior assalto da história em todo o mundo”. Mas sustentam que os promotores usaram o executivo como bode expiatório pelas falhas da cúpula do Goldman Sachs.
O argumento de defesa sugere que foi Ng quem acionou a luz vermelha sobre o verdadeiro pivô da fraude: o financista malaio Low Taek Jho, que está foragido e é acusado de ser o idealizador de um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro e suborno de autoridades.
Para entender o caso, é preciso voltar um pouco no tempo e adicionar outros personagens além de Ng e Low. O primeiro deles é Najib Razak, ex-primeiro ministro malaio, que, ao assumir o poder, teve a ideia de criar o fundo 1MDB para acelerar o crescimento econômico do país.
Mas o fundo acumulou bilhões em dívidas e, em 2018, acabou derrubando o seu governo. Em 2020, ele foi condenado por abuso de poder, desvios e acabou sentenciado a 12 anos de prisão.
As vendas de títulos organizadas pelo Goldman para o fundo de investimento 1MDB teriam, segundo a imprensa americana, fornecido uma maneira para os associados de Razak roubar e lavar bilhões ao longo de vários anos.
O esquema 1MDB já estava, na ocasião, no radar das autoridades americanas. Dois anos antes, Tim Leissner, outro importante executivo do banco, declarou-se culpado na acusação de pagar milhões de dólares em suborno a funcionários do governo da Malásia.
Leissner foi condenado a “perder” US$ 43,7 milhões em ativos como parte de sua confissão de culpa. E deve testemunhar, agora, contra Ng. É considerado peça-chave para arrolar Roger Ng como o principal articulador do esquema.
Para os promotores, Ng conspirou com Low para lavar o dinheiro e foi “fundamental” no esquema de subornar (fala-se em propinas de US$ 1 bilhão) autoridades estrangeiras. Eles dizem que o desfalque financiou gastos generosos em joias, obras de arte, super iates e imóveis de luxo. Teria ajudado até a financiar filmes de Hollywood, como O Lobo de Wall Street.
Em 2020, o Goldman Sachs já havia concordado em pagar US$ 3 bilhões por seu envolvimento no escândalo 1MDB – depois que uma subsidiária do banco admitiu participar de uma conspiração para violar leis antissuborno dos EUA.
Mas é Roger Ng, agora, quem está nos holofotes, como o único acusado pelo escândalo. O advogado de defesa do executivo, Marc Agnifilo, redigiu uma nota, reproduzida pela agência de notícias AP e pelo jornal The New York Times, dizendo que seu cliente não esteve envolvido nos crimes “impressionantes” praticados por outros.
O único papel de Ng, escreveu Agnifilo, foi o de apresentar Low aos superiores do Goldman. “Talvez na reviravolta mais surpreendente do caso, foi Ng que alertou seu superiores de que Low era uma figura politicamente exposta e que não era confiável, por isso a necessidade de ter cautela com ele”.
Low, que também alega inocência, tornou-se conhecido na alta roda de Nova York e Los Angeles. Em 2012, de acordo com o jornal The Wall Street Journal, sua festa de aniversário de 31 anos reuniu de Di Caprio, Kim Kardashian e outras celebridades – uma festa descrita pelo WSJ como a “mais louca já vista em Las Vegas”.
O processo deve se arrastar pelas próximas semanas, segundo o NYT. Procurado, o Goldman Sachs informou que não faria comentários.