Mesmo com o reconhecimento de suas qualidades operacionais e administrativas no mercado, a Eneva não escapou de ver a recomendação para suas ações ser rebaixada pelo Itaú BBA, por conta perspectiva de encarar um cenário mais complexo. 

Os analistas Marcelo Sa, Fillipe Andrade, Luiza Candiota e Karoline Correia reduziram a recomendação dos papéis da companhia de geração termelétrica de compra para neutro. O preço-alvo foi mantido em R$ 17,00. 

Um dos motivos para a decisão tem a ver com o leilão de reserva de capacidade dedicado à contratação de novas usinas termelétricas a gás natural, marcado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para 30 de setembro.

O certame visa à contratação de um total de 2 gigawatts de capacidade vinda de usinas na região Norte e dos Estados do Maranhão e do Piauí, com início de suprimento previsto para o final de 2026 e 2027. 

Segundo os analistas, os termos do leilão são atraentes para a Eneva, considerando que o governo se comprometeu a contratar 1 gigawatt da região da Amazônia - a companhia conta com o projeto integrado Azulão-Jaguatirica.

Contudo, eles destacam que a empresa pode enfrentar dura concorrência da Petrobras, que estaria negociando contratos de fornecimento de gás natural do campo de Urucu, localizado na Bacia do Solimões, com outros operadores de térmicas na região. 

A Eneva registrou a intenção de disponibilizar 1 gigawatt para o certamente, mas os analistas projetam que a chegada de nomes apoiados pela Petrobras pode reduzir a capacidade contratada pelo governo para 600 megawatts. 

“A Eneva tem uma das melhores equipes administrativas no setor, um histórico fantástico de alocação de capital e uma excelente perspectiva de crescimento”, diz trecho do relatório. “Nossa visão mais cautelosa se deve ao fato de que as expectativas para o leilão estão muito elevadas e o resultado pode decepcionar os investidores.”

Outro fator levantado pelos analistas do Itaú BBA é a questão do despacho de termelétricas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Para eles, a Eneva já está vendo no mercado preços mais baixos pela energia, situação que deve perdurar em 2023. Os preços spot para 2022 recuaram 78% em relação ao que os analistas previam inicialmente. 

Uma terceira questão citada é o imbróglio jurídico que a compra de campos da Petrobras na Bahia se tornou. Em parceria com a PetroRecôncavo, a Eneva fez uma proposta pela aquisição do Polo Bahia-Terra em maio, por mais de US$ 1,4 bilhão, que acabou se tornando a proposta principal. 

O ativo é composto por 20 campos de produção onshore de petróleo e gás natural. O processo, porém, vem sendo contestado pela Aguila Energia, que conseguiu barrar o avanço da venda na Justiça.

A empresa venceu o primeiro leilão, ocorrido no ano passado, mas a Petrobras acabou desclassificando a empresa por ela não ter comprovado lastro financeiro na ocasião, relicitando os ativos. 

Segundo os analistas do Itaú BBA, a falta de definição da situação limita o potencial de alta dos papéis, impedindo um ganho de R$ 1,00 por ação.

A questão da falta de potencial de alta é mais um fator que pesou na decisão de rebaixar a recomendação de compra, depois de acumular alta de 16% após o follow on de R$ 4,2 bilhões ocorrido no final de junho. 

Por volta das 13h02, as ações da Eneva recuavam 2,33%, a R$ 15,50. No ano, elas acumulam alta de 9,5%, atingindo um valor de mercado a R$ 24,5 bilhões.