No final do ano passado, a JBS fez um movimento importante para se posicionar no embrionário, porém crescente e promissor mercado de proteína cultivada, ao adquirir o controle da espanhola BioTech Foods.
Mas a incorporação da empresa, concluída após aprovação dos órgãos de controle da Espanha, marcou apenas o primeiro movimento da JBS na produção de alimentos a partir de células animais.
O segundo movimento está sendo dado agora, no Brasil, com um investimento de US$ 60 milhões para a criação do JBS Biotech Innovation Center, um centro de pesquisas voltado para a área de alimentos.
A ser instalado em Florianópolis, o local terá como foco o desenvolvimento de tecnologia própria para a produção de proteínas cultivadas, disse Eduardo Noronha, head global de inovação e excelência operacional da JBS, ao NeoFeed.
“Sendo o maior produtor de proteína do mundo, a gente entende que tem que ser protagonista em qualquer iniciativa que tem a ver com produção de alimentos, com tecnologia”, afirma.
O centro de pesquisa de Florianópolis é o movimento mais relevante até o momento da JBS na parte de proteína cultivada. No ano passado, quando anunciou a compra da BioTech Foods, a empresa informou que iria implementar um centro de pesquisa e desenvolvimento em proteína cultivada no Brasil. No total, a JBS separou US$ 100 milhões para os dois projetos.
Os investimentos da JBS estão baseados numa projeção da ONU de que, até 2050, a população mundial vai atingir 10 bilhões de pessoas, um crescimento de 35% em relação aos números atuais. E o consumo de proteína, no mesmo período, vai crescer 70%.
“Se esse crescimento [de demanda] acontecer, esse mercado de proteínas no mundo vai passar de US$ 1,2 trilhão em 2050”, diz Noronha. “Nossas motivações são dar alternativas aos consumidores no mundo inteiro, da proteína tradicional, plant based e outras.”
O JBS Biotech Innovation Center será instalado em um terreno de 40 mil metros quadrados no centro tecnológico do Sapiens Parque, espaço concebido pelo governo de Santa Catarina para abrigar projetos de empresas e startups em áreas de tecnologia.
O projeto será liderado pelos doutores Luismar Marques Porto, que será o presidente do JBS Biotech Innovation Center, e Fernanda Vieira Berti, como vice-presidente do centro de pesquisa. Porto já foi cientista visitante da Harvard University e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Já Fernanda tem passagem pelo Research Institute I3Bs e criou startup incubada no Vale do Silício que desenvolve produtos baseados em medicina regenerativa e células-tronco para o tratamento de animais.
No primeiro momento, a JBS vai concentrar esforços na construção de instalações especializadas para o desenvolvimento de tecnologia 100% nacional para a produção de carne cultivada e da planta piloto, bem como na aquisição dos insumos necessários para a realização das pesquisas. Mas a ideia é ir além.
“Nesta primeira fase vamos estar focando nos laboratórios para a produção de proteína cultivada, mas depois ele tende a se ampliar para diversas outras áreas, com foco em biotecnologia”, diz Fernanda Vieira Berti, vice-presidente do JBS Biotech Innovation Center.
O centro deve gerar mais de 100 empregos diretos, incluindo vagas de alta qualificação profissional, inicialmente com 25 especialistas-doutores apenas para o projeto de pesquisas em proteína cultivada.
Futuro da carne
O investimento da JBS na produção de proteína cultivada partiu do entendimento de que a tecnologia ficou mais acessível. Segundo Noronha, o primeiro hambúrguer de carne cultivada, produzido em 2013, custou cerca de US$ 85 mil a unidade.
Atualmente, um quilo de proteína cultivada custa em torno de US$ 1 mil e a tendência, com o desenvolvimento da tecnologia, é que este valor caia ainda mais.
“Estamos acompanhando o desenvolvimento dessa tecnologia de proteína cultivada há vários anos e entendemos que ela está num nível de maturidade que a gente consegue entrar com nosso recursos e acelerar o desenvolvimento dela”, complementa.
A JBS estima que os primeiros produtos à base de proteína cultivada devem chegar às gôndolas dos supermercados a partir da segunda metade de 2024, via BioTech Foods.
Para viabilizar esse cronograma, a JBS está investindo US$ 40 milhões para construir uma nova fábrica na Espanha com capacidade de 1 mil toneladas por ano.
“No caso do Brasil, o projeto está começando agora, mas a gente acha que pode acelerar e chegar muito próximo desse período”, diz Noronha.
No primeiro momento, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros, mas o centro de pesquisas de Florianópolis vai se dedicar a pesquisar tecnologias que possam transformar a proteína em cortes conhecidos.
“Estrutura para criar um músculo para ter um bife são outras tecnologias para serem desenvolvidas, que a gente está trabalhando em paralelo”, diz Noronha.