De 1º de junho de 2017 a 7 de abril de 2018, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi presidido por Paulo Rabello de Castro, um economista que fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, a mesma escola liberal do atual ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na sua curta gestão durante o governo de Michel Temer, Rabello de Castro sempre que pôde saiu em defesa da instituição e dos técnicos que trabalham no BNDES. O banco de fomento foi – e é ainda – bastante criticado por ter feito empréstimos polêmicos para grandes empresas, como a JBS, e países autoritários, como Venezuela e Cuba.
Nesta entrevista exclusiva ao NeoFeed, Rabello de Castro, que foi candidato a vice-presidente na chapa com Álvaro Dias (Podemos), comenta a saída de Joaquim Levy da presidência do BNDES. O economista pediu demissão depois que o presidente Jair Bolsonaro disse publicamente que iria demiti-lo. “Eu já estou por aqui com o Levy. Falei pra ele demitir esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou eu demito você, sem passar pelo Paulo Guedes”, declarou Bolsonaro, no sábado, 15 de junho.
Marcos Barbosa Pinto, citado por Bolsonaro, trabalhou como assessor do BNDES na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Levy também foi ministro da Fazenda da petista. “Ele (Levy) é muito diplomático e fino. E esse estilo pode até tê-lo prejudicado. Ele não estava tratando com pessoas finas”, afirmou Rabello de Castro. “Era uma das raras escolhas do Paulo Guedes que não teria nada a comentar criticamente. E, não por acaso, não deu certo.”
Leia a entrevista de Rabello de Castro:
O que o senhor achou da demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES?
Ele é um excelente técnico e pessoa de caráter. Digo sem ser amigo dele. Não fui seu professor porque não coincidiu, mas acompanhei toda a sua carreira profissional. Sempre impecável. Cada um tem um estilo diferente. O meu não é o estilo dele. Ele é muito diplomático e fino. E esse estilo pode até tê-lo prejudicado. Ele não estava tratando com pessoas finais. Ele estava tratando com botinas, incluindo o ministro, que é também bastante botineiro. Desde o início, ele era um homem fora do lugar. Como era diretor do Banco Mundial, era uma razão para ter sido uma excelente escolha. Era uma das raras escolhas do Paulo Guedes que não teria nada a comentar criticamente. E, não por acaso, não deu certo.
Alegam que ele foi demitido porque não abriu a caixa preta do BNDES, como queria o presidente Jair Bolsonaro. Afinal, existe caixa preta no BNDES?
É um peremptório não. Não existe caixa preta no BNDES. O banco pode ter emprestado mal. Mas todo banco empresta mal. Mas uma caixa preta, na sua acepção correta de que havia uma quadrilha organizada que promoveu desvios de bilhões, não existe. Ele (Jair Bolsonaro) ofende a todos os ex-presidentes que precederam o Levy e até mesmo o Levy com uma afirmação dessas (de que há uma caixa preta no BNDES).
"Não existe caixa preta no BNDES. O banco pode ter emprestado mal. Mas todo banco empresta mal"
Havia divergências também sobre os recursos que o BNDES deveria devolver ao governo. O governo queria R$ 126 bilhões e Levy não se comprometeu com essa cifra.
Se você somar o que o BNDES mandou a título de Imposto de Renda, dividendo, devolução de outros déficits, a instituição já devolveu todo o dinheiro que devia a Tesouro Nacional. Essa é a única conta certa: o fluxo de entrada e de saídas. Com isso, ela está R$ 200 bilhões abaixo da linha d'água.
Qual a qualidade do quadro técnico do BNDES?
É para lá de excelente, fora chegar às 10 horas da manhã, coisa que eu nunca consegui resolver. Mas eles compensam isso com a capacidade de formular e executar que não tem precedentes no Brasil. O governo precisa governar e tem uma massa de excelentes técnicos que é um manancial para o Brasil.
Qual deve ser, então, o papel do BNDES?
O papel do BNDES é continuar fazendo essa reforma financeira efetiva, com a liberação do mercado de crédito. Mas o Banco do Brasil e o BNDES precisam continuar fazendo a intermediação financeira de investimentos, que é crítica para o Brasil alcançar uma taxa de investimento de 20% do PIB. Hoje, está beirando os 14%. Concordo que podemos ter um BNDES light. Mas os neoliberais não sabem que o desenvolvimento de várias áreas do Brasil está 50 anos atrasado. Ele é extremamente relevante em algumas áreas, como a inovação.
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