Não são poucos os episódios que marcam a trajetória de percalços do Facebook desde outubro de 2021, quando a empresa passou a se chamar Meta, nome que traduzia a ambição da companhia fundada por Mark Zuckerberg de replicar o seu domínio nas redes sociais no mercado ainda nascente do metaverso.

Para citar apenas um deles, em 3 de fevereiro deste ano, o valor de mercado da empresa recuou US$ 237,1 bilhões, o que se traduziu na maior perda diária da história do mercado de capitais americano, após a companhia divulgar a primeira retração em sua base de usuários desde que foi fundada.

Agora, quase seis meses depois desse tombo histórico, a Meta está acrescentando novos capítulos a esse roteiro cada vez mais com cara de drama. O primeiro deles envolve o resultado da empresa no segundo trimestre. E o segundo, um imbróglio que promete complicar uma aquisição ainda não concretizada.

Na primeira trama, relacionada ao balanço da operação entre maio e junho, a Meta anunciou a primeira perda de receita trimestral de sua história. Nesse intervalo, a receita líquida foi de US$ 28,8 bilhões, uma queda de cerca de 1% na comparação com igual período, um ano antes.

A última linha do balanço também reforçou esse script pouco favorável. A empresa apurou um lucro líquido de US$ 6,6 bilhões, o que representou um recuo anual de 36% e a queda mais acentuada desde o quarto trimestre de 2012, além do terceiro trimestre consecutivo de retração no indicador.

Um dos poucos sinais contrários à maré desfavorável da companhia veio na base de usuários ativos do Facebook, que cresceu 3%, para 1,97 bilhão de usuários, e contrariou as estimativas de analistas, que apontavam para uma redução também nessa frente.

A Meta divulgou ainda que espera uma receita total na faixa de US$ 26 bilhões a US$ 28,5 bilhões no terceiro trimestre de 2022, abaixo das projeções de analistas, que apontavam para um valor próximo de US$ 30,4 bilhões.

O guidance reflete uma perspectiva de continuidade do ambiente de fraca demanda por publicidade observado entre maio e junho, o que a companhia atribuiu a um cenário de “incerteza macroeconômica mais ampla”.

Esse mesmo contexto afetou os números no período de outras empresas de tecnologia com operações bastante atreladas à publicidade. Entre elas, a Alphabet, dona do Google, que reportou nesta semana sua taxa de crescimento mais lenta desde o segundo trimestre de 2020.

Esse não é, porém, o único problema no horizonte da Meta. Também nesta quarta-feira, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) anunciou que deu entrada a um processo para bloquear a compra da Within pela Meta.

O acordo em questão foi anunciado em outubro de 2021 e se trata de mais um passo da estratégia da Meta para ganhar terreno no metaverso. Fundada em 2015, a Within é um estúdio independente responsável pelo Supernatural, aplicativo de fitness baseado em realidade virtual, uma das tecnologias que norteiam esse “novo universo”.

“Em vez de competir pelos méritos, a Meta está tentando comprar seu caminho para o topo”, afirmou John Newman, vice-diretor do FTC Bureau of Competition, em nota sobre o caso. “Essa é uma aquisição ilegal e buscaremos todas as medidas cabíveis.”

A FTC destaca que a Meta deu início à construção de um império de realidade virtual com a aquisição da Oculus VR, em 2014, e que, hoje, essa operação inclui o dispositivo mais vendido e uma loja de aplicativos líder, além de sete dos estúdios mais bem-sucedidos no segmento, adquiridos pela empresa.

Na ação, a Comissão alega que, a partir dessa estrutura, a Meta tem os recursos necessários para desenvolver seus próprios aplicativos de realidade virtual. E que a entrada “com suas próprias pernas” nessa arena ampliaria a escolha do consumidor, a inovação e estimularia a concorrência.

Ao mesmo tempo, a Comissão alega que a Meta já participa desse mercado com seu aplicativo Beat Saber e que, hoje, a competição com a Within incentiva as duas empresas a adicionarem recursos e atraírem mais usuários, uma competição que seria perdida caso a aquisição fosse autorizada.

Mais do que uma mera tentativa de bloquear uma única transação, o processo acende o sinal de alerta para a Meta de possíveis barreiras para a sua consolidação em um espaço que hoje é a sua grande aposta. E essa preocupação é reforçada por outros movimentos recentes da FTC contra a empresa.

Há cerca de um ano, dois meses depois de um processo antitruste arquivado pela justiça americana, a Comissão registrou uma nova denúncia – ainda em curso - defendendo que a empresa, que na época ainda atendia pelo nome de Facebook, fosse obrigada a vender o Instagram e o WhatsApp.

Em um documento de 80 páginas, a FTC argumentou que o Facebook detinha o monopólio das redes sociais e que abusava, há anos, da prática de dificultar ou mesmo sufocar o desenvolvimento e a evolução de rivais em potencial para os seus negócios.

Com uma abordagem semelhante a que está sendo adotada no caso da Within, a agência deu como exemplos dessas práticas justamente as aquisições do Instagram, em 2012, por US$ 1 bilhão, e do WhatsApp, dois anos depois, por US$ 19 bilhões. E pediu, adicionalmente, que o Facebook fosse proibido de fechar novos acordos, do mesmo porte, no futuro.

Enquanto lida com essas questões e com a queda nos seus indicadores, a Meta segue patinando no mercado de capitais. Depois de fechar o pregão desta quarta-feira com uma alta de 6,55% em suas ações, os papéis estavam sendo negociadas em queda de 4,53% no after market.

A companhia está avaliada em US$ 458,9 bilhões contra o patamar de US$ 900 bilhões que detinha na época em que foi rebatizada.