A crise de desabastecimento da indústria automobilística em todo o mundo, causada pela pandemia do Covid-19 e que afeta principalmente o fornecimento de chips e semicondutores, tem mexido na lista de carros e marcas mais vendidas, inclusive em mercados maduros como o dos Estados Unidos.
A GM, tradicional marca americana, além de ter visto o Onix perder o primeiro lugar do pódio de automóveis mais emplacados do Brasil, agora assiste à ultrapassagem da Toyota em seu próprio país de origem.
E a razão é a mesma: com a falta de chips e semicondutores, as principais montadoras do mundo (não apenas a GM) não conseguem produzir no mesmo ritmo e, consequentemente, deixam de atender à demanda do mercado.
Basicamente, a indústria tem sofrido com a falta de chips porque os fornecedores têm priorizado atender à demanda das empresas de tecnologia, uma vez que as montadoras usam produtos de gerações mais antigas, que não compensam o investimento para poucos volumes.
As marcas, então, tiveram de ser criativas, e aquelas que são mais rápidas em pensar soluções alternativas acabam sofrendo menos, como tem feito no Brasil a Stellantis, dona da FCA, que, apesar de também ter sentido os impactos da crise, viu o Argo chegar ao topo do ranking dos mais vendidos no Brasil.
Nos EUA, a Toyota assumiu a liderança de marcas não porque improvisou, mas porque já estava preparada. Depois de um desastre ocorrido em Fukushima, no Japão, em 2011, ter cortado a sua cadeia de abastecimento, a companhia decidiu se precaver para outros possíveis choques e passou a exigir que os fornecedores de chips e semicondutores tenham estoques suficientes para períodos de dois a seis meses de produção.
O trabalho preventivo da Toyota se mostrou acertado quando chegou a pandemia. A fabricante japonesa foi uma das menos afetadas pela crise de desabastecimento de chips e semicondutores.
Enquanto a maioria dos rivais da empresa fecharam fábricas por conta da crise de semicondutores, a Toyota quase não foi afetada, de acordo com a empresa de pesquisa LMC Automotive. As unidades fabris da Toyota estão funcionando com 90% de sua capacidade, comparada a média entre 50% e 60% de outras montadoras.
Entre abril e junho, a marca assumiu a liderança nos EUA ao vender 688,8 mil veículos, apenas 577 unidades a mais que a agora ex-líder GM, segundo dados divulgados pelas duas empresas. A Toyota, com isso, se tornou a primeira montadora japonesa a assumir a dianteira no competitivo mercado americano, de acordo com o shopping de venda online de carros Edmunds.com.
A companhia, contudo, não tem cantado vitória. Além de ter consciência de que a liderança nos EUA veio por questões conjunturais e pode ser perdida à medida que as produções da indústria voltem ao normal, a Toyota sabe também que não está imune a sofrer os impactos da crise. Afinal, seus fornecedores também estão expostos à falta de insumos em uma pandemia que se mostrou mais longa do que se imaginava.