Na noite de ontem, durante a sua tradicional live de quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a esbravejar contra a Petrobras, afirmando que os lucros da estatal são um “estupro” diante da crise enfrentada pelo País e que a companhia “não pode mais aumentar o preço dos combustíveis, isso é um crime”. 

Mas se depender das declarações do novo presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho, a Petrobras não vai abandonar a política de preços em vigor desde 2016, que acompanha as cotações do barril de petróleo no mercado internacional. 

“Não podemos desviar da prática de preços de mercado, necessária para a geração de riqueza, atração de investimentos e garantir o suprimento que o Brasil precisa”, afirmou Coelho em sua primeira teleconferência com analistas e investidores para tratar dos resultados trimestrais. 

Ele assumiu a presidência da Petrobras em meados de abril, após os desgastes de Bolsonaro com o seu antecessor, Joaquim Silva e Luna, por conta dos reajustes da gasolina e do diesel, que vêm pressionando a inflação e prejudicando os planos de reeleição de Bolsonaro. 

O tema também derrubou o primeiro presidente da Petrobras do governo Bolsonaro, Roberto Castello Branco, no início de 2021. 

Os preços dos combustíveis vêm passando por diversos reajustes em função dos efeitos da pandemia na economia internacional. De maio de 2020, quando os primeiros efeitos da crise econômica da Covid-19 começaram, até agora, o preço da gasolina registrou uma alta acumulada de quase 85%, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).

A questão da política de preços já tinha sido abordada por Coelho no início de maio em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, pouco após tomar posse na Petrobras. Ele afirmou que a companhia deve praticar preços de mercado por ser uma companhia de capital aberto e que Bolsonaro “entendeu muito bem” essa questão. 

Na mesma entrevista, ele disse que a volatilidade diária nas cotações não deverá ser repassada ao consumidor imediatamente. 

Apesar das reclamações de Bolsonaro a respeito da política de preços da Petrobras, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) informou nesta sexta-feira, dia 6, que as defasagens entre os preços de referência da gasolina e do diesel no mercado internacional e os preços praticados no mercado interno pela Petrobras continuam altas, com uma diferença média de 21% e 17%, respectivamente. 

Continuidade

A declaração de Coelho de que a Petrobras vai seguir com a prática de paridade com os preços internacionais foi feita logo no começo da teleconferência, num breve discurso em que o executivo enfatizou que vai manter grande parte do trabalho feito por seus antecessores e as diretrizes do plano estratégico para o período de 2022 a 2026. 

“Seguiremos comprometidos e aderentes às estratégias delineadas no plano estratégico”, disse. “A solidez financeira, a resiliência, a governança e conformidade vão nos proporcionar um futuro ainda melhor.”

Segundo Coelho, o plano de desinvestimentos de ativos considerados não estratégicos, ou que tenham desempenho abaixo do esperado, será mantido, o que inclui a venda de refinarias acertadas pela Petrobras com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2019 e da infraestrutura de gás natural. 

Ele destacou ainda os investimentos para aumentar a produção do pré-sal em 500 mil barris de óleo equivalente nos próximos cinco anos, por meio da instalação de 13 novas estruturas produtivas, e o investimento de cerca de US$ 7 bilhões em refino e gás natural. 

“O que estamos fazendo é um ajuste de portfólio natural a empresas do porte da Petrobras”, afirmou. 

As declarações de Coelho se juntam ao bom desempenho obtido pela Petrobras no primeiro trimestre e ajudam as ações da companhia a registrarem alta nesta sexta-feira. Por volta das 12h45, as ações preferenciais subiam 2,56%, a R$ 32,83, e as ordinárias avançavam 2,79%, a R$ 35,35, levando seu valor de mercado a quase R$ 447 bilhões. 

Nos primeiros três meses do ano, a Petrobras registrou um lucro líquido recorrente de R$ 43,4 bilhões, uma disparada de 30 vezes em relação ao mesmo período do ano passado, aproveitando a forte alta dos preços do barril de petróleo no mercado internacional. 

A receita com vendas avançou 64,4%, para R$ 141,6 bilhões, e o Ebitda ajustado recorrente aumentou 64%, para R$ 78,2 bilhões.