A Petrobras, embora seja uma das empresas mais valiosas do Brasil e uma das mais tradicionais da Bolsa, costuma ser vista pelos investidores com certa cautela. Além de ser uma estatal que ficou marcada por escândalos de corrupção, a empresa é também conhecida pelos episódios de ingerência política na gestão, independentemente de quem esteja no poder.
A companhia, porém, parece disposta a mostrar ao mercado que vale a pena ser acionista. No plano de negócios que apresentou na quarta-feira, 24 de novembro, para o período entre 2022 e 2026, a estatal deixou claro que será generosa em sua política de pagamento de dividendos para os próximos cinco anos.
O caminho desenhado pela empresa chamou a atenção dos analistas do Credit Suisse, que ressaltaram que o principal destaque do plano da Petrobras é um pagamento implícito “muito alto” aos acionistas de algo entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões para o período entre 2022 e 2026.
"Considerando que a empresa vale US$ 67 bilhões, isso efetivamente significa que os acionistas 'receberão seu dinheiro de volta' em cinco anos, se o preço do barril de petróleo (Brent) for, em média, de US$ 61", escreveram os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero.
Para o banco suíço, a previsão de dividendos do plano transmite uma "mensagem inequívoca" sobre a forte geração de caixa da Petrobras e apresenta um "argumento convincente" para que a companhia seja avaliada a um nível atraente.
Pelos cálculos dos analistas, os números apresentados pela empresa significam uma taxa de retorno de cerca de 20% ao ano para o período. "É tudo sobre retorno aos acionistas", diz o banco, ao resumir o plano da estatal no título do relatório.
Além disso, espera-se que a dívida líquida diminua para algo entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões no período, o que pode significar que o retorno em relação ao caixa pode ser ainda maior, de 25%.
A depender do preço do petróleo, a expectativa pode subir mais. Se o barril de Brent for cotado, em média, a US$ 80, o retorno estimado seria de 30%. "Ou seja, o 'dinheiro de volta' em três anos", estima o Credit Suisse.
O banco suíço também comentou a periodicidade e a fórmula de cálculo estabelecida pela Petrobras para os dividendos. Os pagamentos serão feitos a cada trimestre e serão equivalentes a 60% da diferença entre a geração de caixa e os investimentos. Há também um dividendo mínimo anual de US$ 4 bilhões, desde que os preços do barril do Brent sejam superiores a US$ 40 no ano fiscal.
"Em nossa opinião, esses são compromissos claros com o retorno do acionista e alocação diligente de capital", dizem os analistas.
Em outubro, a Petrobras já havia agradado o mercado ao anunciar que estava antecipando a distribuição de dividendos referente a este ano, no valor de R$ 31,8 bilhões. O montante se juntou aos R$ 31,6 bilhões que já haviam sido anunciados em agosto, somando R$ 63,4 bilhões, o equivalente a 16,6% de retorno aos acionistas em 2021.
Além dos dividendos, o plano da estatal prevê investimentos de US$ 68 bilhões para os próximos cinco anos, acima dos US$ 55 bilhões do plano anterior. A alocação do capital seguirá focada em segmentos de alto retorno, como exploração e produção, área que receberá 84% do dinheiro - dos quais dois terços serão usados para explorar o pré-sal.
No terceiro trimestre, a Petrobras teve lucro líquido de R$ 31,1 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 1,5 bilhão registrado em igual período do ano passado.
Na quarta-feira, dia 24, a ADR da Petrobras negociada em Nova York fechou cotada a US$ 10,48. O Credit Suisse estima preço-alvo de US$ 14, com uma classificação de “outperform” (acima da média do mercado).