A Netflix divulgou nesta terça-feira resultados referentes ao primeiro trimestre de 2022 e os números vieram muito aquém do que era esperado pelo mercado, com queda no número de assinantes e desaceleração no crescimento da receita. E, para piorar, as projeções mostram que esses ingredientes seguirão pontuando o roteiro da empresa.
A companhia de Los Gatos atribuiu o desempenho a uma série de fatores. Entre eles, o consumo nos Estados Unidos, prejudicado pela inflação; o compartilhamento de contas entre usuários; a intensificação da concorrência; e as consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia, com perda de usuários russos.
Nesse cenário, a empresa informou uma perda de 200 mil assinantes em relação ao quarto trimestre, para 221,64 milhões. Com essa base, a Netflix não alcançou a projeção divulgada para o período, de adição de 2,5 milhões de novos usuários.
Três das quatro geografias em que a companhia divide seus mercados apresentaram queda entre janeiro e março, com destaque para Estados Unidos e Canadá, sua principal fonte de receita, operação que registrou uma perda de 600 mil assinantes. No mapa da empresa, a única região a registrar crescimento foi a Ásia, com a adição de 1,09 milhão de usuários.
A receita somou US$ 7,87 bilhões, ficando abaixo da média das expectativas dos analistas ouvidos pela consultoria FactSet, de US$ 7,93 bilhões. Além disso, o crescimento de 9,8% em relação ao primeiro trimestre de 2021 representa uma desaceleração na comparação com o ritmo visto nos trimestres anteriores. No quarto trimestre do ano passado, em base anual, a receita cresceu 16%. No primeiro trimestre de 2021, a alta foi de 24,2%.
O lucro líquido recuou 6,4%, em base anual, para US$ 1,6 bilhão. O ganho por ação somou US$ 3,53, acima da média das estimativas, de US$ 2,90.
Esta confluência de notícias negativas está fazendo com que as ações da Netflix registrem forte queda no pós-mercado da Nasdaq. Por volta das 18h30, os papéis da empresa recuavam 26,13%, a US$ 257,75. Com isso, as ações acumulam uma perda de 57% no ano.
Segundo Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, gestora de investimentos especializada em companhias de tecnologia, o recuo na quantidade de usuários foi o maior já registrado pela Netflix em uma década. E ele ressalta que essa não é a pior notícia do balanço.
“O pior são as perspectivas de que o cenário não tende a melhorar, pelo menos no horizonte de curtíssimo prazo", diz Lobão. "E a meta de uma empresa que até então priorizava crescimento agora está sendo defender margem, num momento tão turbulento como se prevê nos próximos trimestres.”
A Netflix informou que a base de usuários deve sofrer um tombo ainda pior no segundo trimestre, dessa vez de 2 milhões, com o total de assinantes caindo de 221,6 milhões para 219,6 milhões.
Para tentar contornar a situação, a Netflix informou que vai investir na qualidade de sua programação e na melhoria da experiência, mesmo com planos de cortar gastos na parte de produção, conforme reportagem publicada pelo portal americano The Information.
Outra iniciativa da companhia será tentar encontrar um modelo para gerar receitas a partir do compartilhamento de contas, cobrando dos titulares para que possam incorporar dependentes.
A Netflix também está reajustando seus preços, deixando de focar em crescimento, com o intuito de garantir as margens em bons patamares. A empresa fechou o trimestre com uma margem operacional de 25,1%, acima dos 8,2% apurados no quarto trimestre.