Em meados de março deste ano, quando os shopping centers fecharam as portas em quase todo o País, a rede de fast food Giraffas sentiu o baque. Com 60% de seus restaurantes localizados nesses centros comerciais, o impacto foi grande. Só em abril, a receita caiu 90%.

Aos poucos, os clientes foram voltando e o faturamento foi se recuperando, à medida que as restrições de circulação de pessoas foram sendo afrouxadas. “Em novembro, o faturamento já equivale a 80% do mesmo mês do ano passado”, diz Carlos Guerra, fundador e CEO do Giraffas, ao NeoFeed. “Nas lojas de rua, a recuperação foi rápida. Nos shoppings, ainda há restrições.”

Mesmo assim, Guerra não tem muito o que comemorar. O faturamento da rede Giraffas vai cair de R$ 745 milhões, em 2019, para aproximadamente R$ 430 milhões, uma queda de 42% em 2020. Mas o empresário já tem a sua receita para ao menos retomar os patamares de venda de antes da pandemia.

Assim como as refeições rápidas de arroz com feijão, que é prato mais vendido em seus restaurantes (foram 20 milhões em 2019), Guerra vai fazer o seu arroz com feijão na área de gestão e focar sua expansão com lojas menores, em cidades do interior e fora dos shoppings. “Temos uma oportunidade de crescer nas cidades pequenas e médias”, afirma. “Vou reduzir bastante o percentual de novas lojas em shopping center nos próximos anos.”

O plano é abrir 30 novas lojas em 2021 – hoje, a rede conta com aproximadamente 400 restaurantes em 25 Estados brasileiros mais o Distrito Federal, onde foi fundada há 39 anos. Cerca de 80% delas vão ser de lojas de rua em cidades pequenas, de até 50 mil habitantes, ou médias, de até 200 mil habitantes.

A localização desses novos restaurantes não será no eixo Rio-São Paulo. O Giraffas quer aproveitar sua origem no Centro-Oeste para abrir frentes de expansão em estados onde o agronegócio é forte, como Goiás, Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e interior de São Paulo.

O Giraffas deve focar em dois formatos de restaurantes nessa expansão. Um deles é o chamado de Burger, em que o cardápio se restringe a lanches e a área mínima é de 60 metros quadrados. O foco serão cidades entre 30 mil e 50 mil habitantes.

O outro formato é o Container, que conta com um cardápio semelhante ao dos outros restaurantes e tem área mínima de 120 metros quadrados. Como o próprio nome diz, ele é montado em contêineres, o que reduz a manutenção e o custo do aluguel. Nesse caso, o alvo são cidades de até 200 mil habitantes.

Carlos Guerra, CEO e fundador do Giraffas

Para efeito de comparação, uma loja de rua tradicional do Giraffas tem área mínima a partir de 150 metros quadrados. Nos shoppings, elas são menores, com área de 40 metros quadrados, porque o espaço é compartilhado com a praça de alimentação, onde os clientes se sentam para comer.

Apesar de a pandemia, neste momento, favorecer lojas de rua, os shoppings não devem perder a atração, acredita Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail. “Os shoppings vão seguir sendo um destino de compras, gastronomia, entretenimento e lazer”, diz Serrentino. “Uma coisa não invalida a outra.”

De acordo com o consultor, as duas principais redes de fast food do Brasil, o McDonald's e o Burger King, sabem usar bem esses dois formatos. No caso das lojas de rua, diz Serrentino, elas se transformaram em hubs para delivery, que ganharam força com a pandemia, e para as operações de drive-thru.

Guerra diz que os shoppings vão seguir sendo importantes, mas afirma que precisa equilibrar melhor os seus canais de venda. “No caso do Giraffas, eles vão diminuir ao longo do tempo”, afirma o empresário.

Polêmica

Mas 2020 vai deixar outras cicatrizes ao Giraffas. No começo da pandemia, a rede de fast food esteve no meio de uma grave crise de imagem, por conta de um vídeo de Alexandre Guerra, filho do fundador do Giraffas, que viralizou na internet.

Na época, Alexandre, que foi CEO da empresa e era conselheiro do Giraffas, disse que os funcionários deveriam ter medo de perder o emprego em vez de pegar o vírus, numa referência ao coronavírus.

"Você que é funcionário, que talvez esteja em casa numa boa, numa tranquilidade, curtindo um pouco esse home office, esse descanso forçado, você já seu deu conta que, ao invés de estar com medo de pegar esse vírus, você deveria também estar com medo de perder o emprego?", disse Alexandre.

A repercussão negativa nas redes sociais fez com que Guerra afastasse o próprio filho do conselho de administração do Giraffas e comprasse sua participação. Questionado, ele diz que o filho fez declarações que foram polêmicas, mas afirma que Alexandre não era executivo da empresa há mais de quatro anos e atua como conselheiro de um grupo de empresários – para quem ele estava falando naquele vídeo.

“Até para não cercear o que ele quer dizer, ele foi afastado de forma tranquila. E não tem mais nenhuma ligação com o Giraffas”, diz Guerra. “Temos um bom relacionamento.”

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