Não convidem o fundador da Tesla, Elon Musk, e o CEO do J.P. Morgan, Jamie Dimon, para sentar na mesma mesa. A relação, que já não era boa, entre o homem forte dos carros elétricos e o todo-poderoso do maior banco dos Estados Unidos, ficou exposta com o processo que o J.P. Morgan abriu, na semana passada, contra a Tesla.
No processo, o J.P. Morgan diz que a Tesla deve US$ 162 milhões de uma transação que o banco ajudou a organizar em 2014. “Fornecemos à Tesla várias oportunidades de cumprir suas obrigações contratuais, então é uma pena que eles forçaram esse assunto a entrar em litígio”, informou, em comunicado, o J.P. Morgan, na semana passada.
Musk, por sua vez, usou seu habitual tom sarcástico para comentar o assunto. “Se o J.P. Morgan não retirar o processo, darei a eles uma avaliação de uma estrela no Yelp”, disse Musk, em resposta ao The Wall Street Journal (WSJ), referindo ao popular site americano de avaliações de restaurantes, dentistas e outros tipos de serviços. “Este é o meu aviso final.”
As duas declarações trazem à tona um relacionamento que há muito tempo é tenso, segundo uma reportagem do WSJ. O J.P. Morgan trabalhou no IPO da Tesla, em 2010 e em outras operações da fabricante de carros elétricos.
Mas a instituição financeira nunca liderou as transações, ficando atrás de outros bancos, como o Goldman Sachs e o Morgan Stanley. Desde 2016, no entanto, a instituição comandada por Dimon não assessora mais a Tesla em ofertas ou em outras transações.
E isso se reflete nas comissões. O J.P. Morgan, na última década, recebeu cerca de US$ 15 milhões em consultoria e outros trabalhos no mercado de capitais da Tesla, segundo a Dealogic. O Goldman Sachs, no mesmo período, ganhou cerca de US$ 90 milhões.
Essa relação nada amistosa teve início porque o Chase, o banco de varejo do J.P. Morgan, que é um grande financiador de carros nos EUA, hesitou em financiar a Tesla e outros fabricantes de veículos elétricos.
Mas, à medida que os carros elétricos começaram a ganhar tração e se tornaram realidade, os executivos do Chase tentaram um acordo com a Tesla para ser o principal banco a fornecer crédito aos compradores dos carros da montadora.
Musk, no caso, disse não, segundo o WSJ. O J.P. Morgan tem acordo semelhante com a Maserati e a Jaguar Land Rover.
Dimon já manifestou a interlocutores que é melhor seguir sem a Tesla, que foi a primeira fabricante de veículos a ser avaliada em mais de US$ 1 trilhão - atualmente, ela vale quase US$ 1,2 trilhão.
Mas, ao longo do tempo, Dimon tentou uma reconciliação, de acordo com o WSJ. Musk, ao contrário, dificilmente recua. A tensão, que já era alta, deve ficar muito maior a partir de agora.