Nascida em 2016 com o intuito de ser o “Lego” por trás dos serviços financeiros de bancos digitais e fintechs, a Celcoin, que já recebeu investimentos de BTG Pactual, Vox Capital, Innova Capital e Torq Ventures, está adicionando mais uma peça em sua oferta de produtos de infraestrutura de tecnologia financeira e bancária, nesta terça-feira, 14 de fevereiro.

Em sua terceira aquisição em pouco mais de um ano, a empresa reforçou sua posição no open finance. Para isso, adquiriu a Finansystech, empresa de soluções de infraestrutura para a iniciativa de compartilhamento de dados do Banco Central.

“Com a Finansystech, avançamos no processo de consolidação nesse segmento de infraestrutura de serviços financeiros, complementando a nossa vertical de open finance”, diz Marcelo França, cofundador e CEO da Celcoin, com exclusividade ao NeoFeed.

A operação, que avaliou a Finansystech em R$ 85 milhões (pré-money), prevê um pagamento inicial de R$ 15 milhões em dinheiro. Depois, há um valor em earn-out aos fundadores da Finansystech que leva em conta os múltiplos da receita dos próximos dois anos, que será pago em dinheiro e ações. Com isso, o valor pode até ser maior, se as metas forem cumpridas.

O acordo prevê que Danillo Branco, CEO e cofundador da Finansystech, passará a liderar a vertical de open finance na Celcoin. Os 35 funcionários passarão a trabalhar na Celcoin, enquanto que a marca será mantida em um primeiro momento, por conta do seu reconhecimento no mercado.

Fundada em 2021, a Finansystech desenvolveu soluções que conectam instituições financeiras que têm licença para operar no open finance. Com isto, as empresas não precisam desenvolver a infraestrutura necessária, podendo contratar as ferramentas para operar serviços como pagamentos, compartilhamento de dados e gestão de consentimentos dessas informações.

As soluções da Finansystech chegam para complementar o portfólio da Celcoin. Por ser uma instituição regulada pelo BC para atuar no open finance, a fintech atualmente atua como uma espécie de intermediária. Ela possibilita que empresas não reguladas pelo Banco Central possam iniciar pagamentos ou compartilhar dados dentro do ambiente do open finance.

“Agora, vamos poder atender tanto empresas que querem participar do open finance se conectando diretamente, como empresas que queiram utilizar as nossas licenças para iniciar pagamentos e compartilhar dados”, afirma França. “Qualquer empresa poderá participar do open finance usando a nossa solução combinada.”

França conta que as conversas com a Finansystech começaram em meados de 2022, depois da parceria comercial firmada no segundo trimestre daquele ano, que permitiu à Celcoin oferecer a infraestrutura para que seus clientes acessem o open finance.

As soluções da Finansystech são utilizadas por mais de 40 clientes. Entre eles, XP, Magalu e Banco Mercantil. Dos iniciadores de pagamentos já homologados no Brasil, 35% são atendidos pela companhia e 70% dos clientes da empresa já usam outros serviços da Celcoin.

A expectativa é de que a união também possa gerar novos negócios entre os clientes de ambas. “Pretendemos utilizar toda a nossa estrutura, de força de venda, cross sell, para acelerar o crescimento da Finansystech”, diz França.

Aliada com outras verticais, como as APIs de banking as a service (BaaS) e Pix, a parte de open finance deve contribuir para que a Celcoin registre um salto operacional. A expectativa da companhia é fechar 2023 com R$ 12 bilhões por mês em movimentações financeiras, o dobro do valor mensal atual.

O reforço da vertical de open finance vem no momento em que a iniciativa do Banco Central começa a ganhar tração no Brasil. Com dois anos completados no começo de fevereiro, ela já registra 17,3 milhões de consentimentos de clientes para o compartilhamento de seus dados, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Com o potencial de injetar R$ 760 bilhões na concessão de crédito em dez anos, segundo estudo divulgado pela Serasa Experian em abril de 2022, as possibilidades para as instituições financeiras são enormes.

E com mais empresas de olho no open finance, um número cada vez maior vai precisar de apoio tecnológico para conseguir se beneficiar da iniciativa, uma oportunidade para empresas como a Celcoin e seus concorrentes, como a Klavi e Sensedia.

Novas aquisições

Esta é a terceira aquisição feita pela Celcoin desde que captou R$ 55 milhões, em julho de 2021. Em abril de 2022, ela recebeu um investimento de R$ 85 milhões da Innova Capital.

A Celcoin estreou sua estratégia de fusões e aquisições em janeiro de 2022, com a compra da Galaxy Pay, startup mineira que desenvolve sistemas de cobranças. Em março do mesmo ano, comprou a Flow Finance, que fornece infraestrutura de crédito.

França conta que a Celcoin possui uma estrutura para avaliar M&As. "Temos olhado para empresas que possam complementar nossa oferta de infraestrutura de serviços financeiros, para ser de fato um consolidador nesse espaço”, diz o CEO, sem dar detalhes de onde pode ser o próximo movimento. “Temos olhado para alvos cada vez maiores.”

No caso da Finansystech, a aquisição foi financiada pelo caixa da companhia e dependendo do tamanho da aquisição, ela pode recorrer a investidores. Ele destaca que a companhia já gera recursos próprios. A Celcoin fechou o ano de 2022 com uma receita de R$ 112 milhões, o que representa um crescimento de 75% em relação a 2021.

Com recursos gerados pela operação e os aportes de investidores, a Celcoin entende que pode dar sequência a sua estratégia de consolidação sem a necessidade de realizar uma nova rodada de captação.