A situação da Natura &Co pode não ser positiva no curto prazo, diante da série de problemas que a tentativa de criação de uma plataforma global de marcas de beleza criou para a companhia, assim como a desaceleração da economia brasileira e global.
Mas o Itaú BBA avalia que a Natura possui boas perspectivas de longo prazo. O plano de reestruturação que vem sendo conduzido pelo CEO Fabio Barbosa pode recolocar a companhia nos trilhos e trazer ganhos de rentabilidade.
Por conta disso, os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes decidiram elevar o preço-alvo das ações da Natura de R$ 16,00 para R$ 18,00, o que implica em potencial valorização de 19% com base no nível atual em que o papel vem sendo negociado. A recomendação foi mantida em compra.
A convicção deles veio após uma série de reuniões dos executivos da Natura com investidores, na semana passada, em Nova York. Os encontros contaram com a presença do CFO, Guilherme Castellan, e da diretora de relações com investidores, Helena Villares.
Três pontos fizeram com que os analistas demonstrassem confiança nas perspectivas da Natura após os encontros. O primeiro é a prioridade estabelecida por Castellan de alcançar uma redução sustentável da alavancagem do balanço.
A empresa fechou o terceiro trimestre com uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 4,15 vezes, um aumento em relação às 2,74 vezes apuradas no mesmo período de 2021. O relatório não informou a meta que a empresa quer alcançar, nem o prazo em que isto será feito.
Neste sentido, os executivos relataram que a Natura está se concentrando na geração de fluxo de caixa e na melhora das margens. Antes, a prioridade era crescer e ganhar market share. “Consideramos bem-vinda essa mudança, especialmente no cenário atual, de alta alavancagem e custos de capital elevados”, diz trecho do relatório.
O segundo ponto destacado pelos analistas do Itaú BBA foi que a Natura não investirá mais dinheiro gerado na América Latina em operações internacionais, excluindo a Aesop, cujo futuro ainda está sob discussão.
O objetivo, de acordo com os executivos, é que essas unidades sigam com caixa próprio. Para isso, entre outras medidas, a Natura está reavaliando sua presença global através da Avon, podendo rever sua presença em locais pouco rentáveis.
Isso também implica numa mudança da estratégia criada para a The Body Shop. De acordo com o relatório, a Natura pensava que a marca poderia ter uma nova avenida de crescimento por meio de vendas diretas, considerando o sucesso na época da pandemia.
Mas como os resultados não vieram dentro do esperado, a estratégia passou de crescimento para geração de caixa, com qualquer investimento tendo que ser financiado via racionalização de custos e despesas.
O terceiro ponto citado pelo Itaú BBA é a reformulação prevista para a Avon na América Latina, considerada o principal fator para a geração de valor orgânico no futuro.
Segundo os diretores, a principal oportunidade em termos de crescimento orgânico está na incorporação da Avon nas operações da Natura na América Latina, tratando os dois negócios como um. Eles avaliam que a racionalização operacional pode destravar muito valor.
Enquanto projetam um futuro promissor, os analistas do Itaú BBA avaliam que o presente ainda será complexo. Eles realizaram leves melhorias em suas projeções para os resultados de 2022, com as operações na América Latina ajudando a compensar o fraco desempenho das atividades da Avon e da TBS.
A expectativa é de que ela feche 2022 com um prejuízo líquido de R$ 1,7 bilhão, revertendo o lucro de R$ 1 bilhão de 2021. A receita líquida deve recuar 8%, para R$ 37 bilhões, e o Ebitda está previsto para diminuir 21,4%, a R$ 3,2 bilhões.
Por volta das 17h20, as ações da Natura subiam 1,12%, a R$ 15,31. Em 12 meses, elas acumulam queda de 38,3%, levando o valor de mercado a R$ 21,2 bilhões.