O show business foi um dos setores mais abalados pela pandemia do coronavírus, e os prejuízos são difíceis de medir. A maior parte dos empresários da área de artes e espetáculos paralisou suas atividades.
Uma das exceções é Paulo Pimenta, proprietário da bpmcom, agência de talentos e promotora de espetáculos que toma conta da carreira de Anitta, a estrela pop mais popular do Brasil, entre outros artistas.
Os concorrentes dizem que ele tirou a sorte grande ao contratar Anitta. Não é bem assim. Na realidade, Pimenta colaborou decisivamente na conversão de sua contratada na estrela que é hoje.
“Meu lema é meu bom senso”, diz ao NeoFeed. “Enquanto houver bom senso, boa parte do meu trabalho estará a salvo e concluído. Hoje, quem não tem bom senso, não tem nada.” Acrescente-se a isso uma boa dose de atrevimento, e eis a explicação para fenômenos como o de Anitta.
A performance positiva de Pimenta, diz ele, estimulou o time que gerencia o marketing de Juliette Freire, participante do reality show “BBB 21”, a contratá-lo. Primeiramente, como assessor de imprensa. E, embora a equipe de Juliette aposte na carreira musical dela, Pimenta ainda espera conversar pessoalmente com a paraibana para estudar a melhor estratégia para lançá-la.
Julette se tornou um fenômeno no Instagram. Sua conta, que tinha 146 mil seguidores antes do BBB, passou para mais de 20 milhões. Esse número de seguidores pode gerar uma receita mensal de R$ 1,7 milhão com posts patrocinados, segundo cálculos da agência Brunch.
“Fechamos um pacote de assessoria de imprensa estratégica para ela. Nos aliaremos ao time que já toca os trabalhos de marketing digital dela e faremos um trabalho bem alinhado e bonito. Muita coisa está por vir. Mas é necessário esperar que a Juliette saia da casa e faça suas escolhas e tome suas decisões sobre sua própria carreira. Estamos ansiosos.”
Pimenta costuma não forçar situações, e prefere ser racional. Nesse sentido, o case Anitta é exemplar para quem quiser conquistar o mercado em circunstâncias negativas.
No início de 2020, as condições fariam qualquer empreendedor recuar: o vírus tomava conta do mundo, os estádios evacuados e o medo da população de sair às ruas, mesmo para se divertir com um show superproduzido comandado por Anitta.
Uma das primeiras medidas tomadas pelo empresário que cuida da imagem de Anitta foi não transformar a cantora em mulher-sanduíche e ligá-la a merchandising de produtos. Assim, preservou sua imagem.
Ele também a encorajou a investir em várias modalidades de negócios, como marketing, licenciamento de marcas e investimentos em esporte. Dessa forma, tornou-se a executiva das marcas que passou a divulgar. "Faz aproximadamente seis anos que Paulo e eu trabalhamos juntos. Pensamos muito parecido a respeito de tudo, então isso facilita o dia a dia”, diz Anitta.
"Faz aproximadamente seis anos que Paulo e eu trabalhamos juntos. Pensamos muito parecido a respeito de tudo, então isso facilita o dia a dia”, diz Anitta.
Em 2019, ela assinou um contrato de três anos como head de criação da Skol, marca que pertence à Ambev, e está à frente de ações de marketing e da criação de bebidas, como a Skol Beats 150 BPM.
Anitta teve ideia de produzir para a marca Skol Beats o reality show "Ilhados com Beats", que obteve milhões de visualizações e angariou muitos seguidores para o Instagram da marca.
Dois documentários veiculados pela Netflix, “Vai Anitta 1 e 2” (2018 e 2020) e “Made in Honorio” (2020) conquistaram repercussão crítica e sucesso de audiência, embora a Netflix Basil não divulgue números.
Nas redes sociais, certamente não tem concorrente no Brasil. Hoje só o seu Instagram, a mídia favorita das celebridades, conta com 50 milhões de seguidores. Pimenta ensina que o sucesso desconhece regras e, por isso, a intuição ganha importância na busca de oportunidades.
Os rivais veem nele a capacidade de prever o sucesso, qualidade que alguns especialistas em gestão chamam de “presciência”. Foi assim que, metodicamente, triunfou sobre o cataclisma sanitário e econômico que se abateu sobre o mundo.
Pimenta é fluminense nascido em Niterói e criado no Rio de Janeiro, tem 38 anos e 20 de atuação. Formou-se em jornalismo e se especializou em comunicação corporativa, comunicação interna, comunicação de projetos e telejornalismo.
Trabalhou como produtor de telejornais da TV Globo, e passou algum tempo no escritório da emissora em Nova York. Durante sete anos, integrou a área de Comunicação Social da Petrobras. Ali, prestou atendimento à imprensa da estatal. Também coordenou a comunicação interna da Odebrecht.
Ao fundar a bpmcom, adotou os princípios do PMBOK, um guia de práticas de gerenciamento de projetos. Não se trata, porém, de uma transferência automática de procedimentos. “O objetivo da bpmcom é utilizar de forma repaginada e customizada os ensinamentos de comunicação do PMBOK,”, afirma.
Explica ainda como funciona o “Business Process Management”, ou “bpm” (gerenciamento de processos de negócio): “Nele, o modelo de gestão cria e conecta todos os processos estratégicos de um negócio ou projeto, a fim de maximizar o resultado com qualidade e foco no parceiro. Dentre esses processos está a comunicação e suas ferramentas.”
A carteira de clientes inclui a cantora Maria Rita, os sambistas Ferrugem e Thiaginho e os cantores pop emergentes, como Gabriel Gonti e Gabriel Maqui
Ele conta que tudo começou com uma parceria com a, então, esposa, Juliana Mattoni. O casal montou uma pequena assessoria, a Mattoni, dedicada a artistas, em um dos quartos da casa. O negócio se expandiu e, em seguida, passaram a elaborar projetos culturais, espetáculos e agenciamento de artistas. Entre as primeiras clientes, figuravam as atrizes Bruna Marquezine e Isis Valverde.
“Após alguns anos, meu casamento acabou e não segui mais na empresa”, conta Pimenta. “Toda a parte de atendimento aos clientes de música, ficou na minha nova empresa. Foi quando fundei a bpmcom, com uma proposta mais ampla de atendimento de comunicação, que incluía também o marketing estratégico de lançamento de produtos de música, como singles, álbuns, EPs, DVDs, etc.”
O desafio se apresentou com o primeiro caso da Covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020. “Aos poucos fui me reerguendo e ainda lido com os altos e baixos do mercado do show business devido à pandemia.”
A carteira de clientes inclui a cantora Maria Rita, os sambistas Ferrugem e Thiaginho e os cantores pop emergentes, como Gabriel Gonti e Gabriel Maqui, de cujas carreiras cuida de todas etapas. “Recentemente assinamos um contrato entre Maqui e a Warner Music Brasil e já lançamos dois singles com clipes e um projeto acústico, também com audiovisual”, diz.
Hoje a empresa conta com uma equipe de 12 profissionais, entre efetivos e terceirizados – número enxuto, mas suficiente, diz ele, para povoar o planeta com talentos brasileiros. Anitta contratou Pimenta há seis anos e se tornou o trunfo da empresa. Mas seu sucesso também se deve à gestão que Pimenta fez da carreira da artista.
“Anitta buscava um time para fazer a transição da carreira dela e da imagem de uma cantora nichada no funk para uma cantora pop funk”, lembra. “Foi quando ela nos procurou. Eu ainda estava na primeira empresa em que fui sócio com minha ex-mulher. Fizemos uma reunião e pronto. Já começamos a trabalhar com ela. Na minha migração para a bpmcom, ela veio comigo.”
Apesar de sua fama de acelerador de talentos, Pimenta atribui a maior parte do sucesso à qualidade do artista. “Sem dúvida nenhuma o talento de um artista é 90% da sua trajetória para o sucesso”, afirma. “Mas eu acredito muito em batalhas, esforço, estratégias bem feitas em marketing de lançamento, discurso - e, claro, sorte.”
Correção: Anitta teve ideia de produzir para a marca Skol Beats o reality show "Ilhados com Beats" e não Pimenta como foi publicado na primeira versão dessa reportagem